Marília se torna lar de migrantes de 23 países e todos os estados brasileiros

O Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que Marília é um importante destino da migração interna no Brasil. Com 237.627 habitantes — sendo 113.866 homens e 123.761 mulheres —, a cidade manteve crescimento contínuo em relação aos 216.745 moradores de 2010 e aos 197.342 de 2000. Mais do que números, os dados apontam um mosaico populacional construído ao longo de décadas, formado por pessoas vindas de diversas partes do país e do exterior.
A maior parte dos marilienses nasceu em São Paulo: são 214.551 pessoas (103.179 homens e 111.372 mulheres) oriundas do próprio Estado. Ainda assim, Marília abriga um contingente expressivo de migrantes de outras unidades da federação, consolidando-se como um ponto de chegada para famílias em busca de novas oportunidades.
O Paraná é o principal Estado de origem fora de São Paulo, com 6.800 residentes em Marília. Em seguida vêm Minas Gerais (3.222), Bahia (2.971), Alagoas (1.469), Pernambuco (1.401) e Mato Grosso do Sul (838). Há ainda representantes de praticamente todos os estados, incluindo Amazonas (41), Acre (45), Roraima (12) e Amapá (54). Outros 31 moradores não têm estado especificado e 128 não declararam o local de nascimento.

Esse retrato local reflete um cenário nacional de intensa movimentação populacional. Segundo o IBGE, cerca de 19,2 milhões de brasileiros viviam, em 2022, fora de sua região de nascimento. Mais da metade (54%) dos migrantes internos vieram do Nordeste, e 65,5% deles se estabeleceram no Sudeste.
Embora São Paulo tenha registrado, entre 2017 e 2022, saldo migratório negativo pela primeira vez desde 1991 — com 736 mil entradas e 826 mil saídas —, o estado segue como principal polo receptor do país, abrigando a maior população de não naturais: 8,6 milhões de pessoas.
HISTÓRIA POR TRÁS DOS NÚMEROS
Marília também acolhe estrangeiros: são 1.184 residentes nascidos fora do Brasil, sendo 619 homens e 565 mulheres. O maior grupo é da Venezuela (176 pessoas), reflexo da crise humanitária naquele país. Na sequência, aparecem Estados Unidos (88), Líbia (57), Síria (47) e Suíça (44). Outros grupos incluem cidadãos de Portugal (39), Emirados Árabes Unidos (27), Itália (22), Moçambique (18), Arábia Saudita (11), Colômbia (10), Japão (9) e Austrália (8) — totalizando 556 estrangeiros com nacionalidade identificada.

Além dos grupos já citados, Marília abriga ao todo moradores de pelo menos 23 países diferentes, segundo os dados do IBGE. Entre eles, há imigrantes também do Haiti, Bolívia, Argentina, Paraguai, Peru, Equador, Cuba, Chile, Índia, China e outros.
Entre essas histórias está a do venezuelano Yohann Roy Rafael Lara Chauran, que chegou a Marília com a esposa Rosanne del Jesus Cermeno Ramirez e o filho Roiber, fugindo da crise em seu país. Na época, eles foram acolhidos por membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que mobilizou doações, moradia e ajuda para inserção no mercado de trabalho.
“Para comprar um litro de óleo era preciso ficar dois dias em uma fila”, lembrou Rosanne. “A quantidade de comida que vi no Brasil me impressionou”.
A família chegou ao país por Pacaraima (RR) e seguiu viagem com apoio do programa de ajuda humanitária da igreja e passagens doadas por uma companhia aérea. Foram, então, acompanhados por voluntários e por projetos sociais de qualificação e autossuficiência. “Na Venezuela, não há futuro. Nada vale um título de engenheiro, não tem emprego e o emprego que há não querem te pagar”, afirmou Yohann, técnico em meio ambiente.
Os dados reforçam o caráter multicultural da cidade, que se transforma em novo lar para muitas pessoas — brasileiras e estrangeiras.