MN Logo

11 anos. Mais de 100 mil artigos.

  • Capa
  • Polícia
  • Marília
  • Regional
  • Entrevista da Semana
  • Brasil e Mundo
  • Esportes
  • Colunas
  • Anuncie
Entrevista da Semana
dom. 03 nov. 2024
ENTREVISTA DA SEMANA

‘Câncer de próstata é traiçoeiro: sintomas podem aparecer somente em estágio avançado’

Entre 10% e 15% dos homens com câncer de próstata não apresentam elevação no PSA.
por Carlos Rodrigues
Médico urologista André Guzzardi: “Quando alguém na família adoece, todos ao redor sofrem” (Foto: Carlos Rodrigues/Marília Notícia)

Em meio às campanhas de saúde que usam cores e slogans de alerta para a prevenção, o Novembro Azul se destaca. O tema deveria estar na pauta de toda população masculina adulta. Mas vai além, se estende a familiares que são obrigados a, praticamente, “empurrar” seus pais, maridos e irmãos para os consultórios, visando a preservação da vida.

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens no Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), com mais de 65 mil novos casos estimados a cada ano.

O Mapa da Mortalidade – ferramenta de tabulação do órgão federal – aponta que nos últimos 20 anos, Marília perdeu 344 vidas somente para o câncer de próstata; são mais de 17 casos por ano, somente em moradores da cidade.

Alteração prostática não costuma dar sinais no início da doença (Foto: Divulgação/CAU Marília)

O Inca aponta ainda que pelo menos um em cada nove homens desenvolverá a doença ao longo da vida, com taxa de incidência mais elevada a partir dos 50 anos.

“Quando alguém na família adoece, todos ao redor sofrem”, lembra o médico urologista André Guzzardi, entrevistado da semana pelo Marília Notícia. Aderir ao novembro azul é ser maior que estigmas, é demostrar amor próprio e às pessoas com quem os dias são compartilhados.

O especialista – que é membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e atua no Centro Avançado de Urologia de Marília (CAU) – abriu espaço em sua agenda e recebeu o MN para um bate papo que ajuda a entender o motivo de grande parte dos diagnósticos de câncer de próstata ainda serem tardios.

Médico explica faixa etária e fatores genéticos relacionados (Foto: Carlos Rodrigues/Marília Notícia)

Confira abaixo a entrevista completa:

Marília Notícia: Doutor, o câncer de próstata é o tema central dessa conversa, mas não é só isso, certo? Gostaria que o senhor começasse falando sobre a questão do cuidado em geral e como isso tem a ver com o câncer de próstata, que é o tema deste mês.

Dr. André Guzzardi: Com certeza. A questão do câncer de próstata é extremamente relevante, até porque é o câncer mais comum em homens, ficando atrás apenas dos cânceres de pele. A incidência é realmente alta, e isso é um fenômeno mundial. Existem fatores de risco, como a genética e, por exemplo, a maior incidência entre homens negros. Mas o ponto fundamental é que vivemos em um país muito grande e diverso, o que faz com que as campanhas de prevenção precisem alcançar a todos, independentemente de classe social, cor ou região. A campanha do câncer de próstata busca levar o homem a fazer uma prevenção regular, já que a única forma de cura é o diagnóstico precoce, ou seja, quando ainda não há sintomas.

MN: Então, além da prevenção ao câncer de próstata, o senhor vê um valor ainda maior na realização desses exames preventivos, certo?

Dr. André Guzzardi: Exatamente. A oportunidade de realizar um exame preventivo permite olhar para a saúde geral do homem. Em muitos casos, é possível diagnosticar pressão alta, diabetes e outras condições que ele talvez não esteja tratando e que, se ignoradas, podem resultar em complicações graves, como infarto ou AVC. Aproveitar o momento da prevenção ao câncer de próstata para verificar essas condições contribui muito para a saúde global do paciente.

MN: E como está o cenário do diagnóstico precoce no Brasil? Os homens têm conseguido acessar esse diagnóstico a tempo?

Dr. André Guzzardi: Houve, sim, um avanço importante. Ainda estamos aquém do ideal, mas, devido às campanhas, especialmente o Novembro Azul, os homens estão se conscientizando cada vez mais. Essas campanhas anuais lembram os homens de que é hora de parar e pensar na própria saúde. A cultura ainda precisa melhorar, pois muitos homens têm certo preconceito ou acreditam que, enquanto não têm sintomas, não precisam ir ao médico. Porém, o câncer de próstata é traiçoeiro: quando os sintomas aparecem, o câncer já pode estar em estágio avançado, o que complica o tratamento.

MN: E para quem está nos lendo agora, doutor, quais são as recomendações de idade e fatores de risco que exigem mais atenção?

Dr. André Guzzardi: O ideal é que a partir dos 40 anos o homem já comece a fazer exames preventivos para saúde cardiovascular e geral. No caso do câncer de próstata, a recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia é iniciar aos 50 anos. No entanto, para homens negros ou com histórico familiar direto de câncer de próstata, como pai ou irmão, a recomendação é que iniciem os exames a partir dos 45 anos.

MN: Agora, doutor, o senhor mencionou os homens negros. Em um país como o Brasil, com tanta miscigenação, como orientamos esses casos?

Dr. André Guzzardi: Uma pergunta muito pertinente. Muitos brasileiros têm ascendência mista. Nesses casos, é prudente que o homem se observe. Se ele tem algum ascendente negro, mesmo que distante, já vale a pena ficar mais atento. Isso porque algumas condições, como o câncer de próstata, têm uma maior prevalência em descendentes negros. A mesma lógica se aplica para outros grupos: pessoas de ascendência asiática, hispânica, entre outros, também apresentam predisposições específicas para algumas doenças.

MN: O exame de prevenção ao câncer de próstata começa com o exame de sangue, o PSA? Como funciona?

Dr. André Guzzardi: Isso. O exame mais básico é o PSA, que é uma proteína produzida pela próstata. Quando o câncer de próstata está presente, o nível de PSA se eleva em cerca de 90% dos casos. Mas é importante lembrar que entre 10% e 15% dos homens com câncer de próstata não apresentam elevação no PSA. Por isso, o toque retal é importante, pois complementa o PSA e ajuda a detectar nódulos ou outras anormalidades na próstata.

MN: E os dois exames, então, devem ser feitos juntos?

Dr. André Guzzardi: Sim, eles são complementares. Um pode falhar onde o outro consegue detectar, então a combinação dos dois oferece uma maior segurança no diagnóstico.

MN: Em relação ao acesso à saúde pública, sabemos que há diferenças entre o sistema privado e o Sistema Único de Saúde (SUS). Como está a questão do acesso ao diagnóstico precoce e tratamento do câncer de próstata na saúde pública?

Dr. André Guzzardi: Acredito que o acesso à saúde pública tem evoluído muito. Em nossa região, por exemplo, temos unidades que trabalham apenas com a parte oncológica e contamos com leis que protegem o paciente, como a lei que determina que o tratamento do câncer deve começar em até 60 dias após o diagnóstico. No entanto, há limitações, principalmente quando falamos de técnicas cirúrgicas mais caras, como as que utilizam videolaparoscopia ou robótica. Esses procedimentos são mais comuns na saúde suplementar ou privada, e o SUS tem acesso reduzido a eles. Isso pode interferir no conforto pós-operatório, mas não há comprovação científica de que interfira nos resultados finais.

Dr André Guzzardi durante procedimento cirúrgico (Foto: Divulgação/CAU Marília)

MN: Falando sobre câncer, as pessoas costumam associá-lo a algo muito grave, mas existem outras doenças do sistema urinário que afetam homens e que nem sempre recebem atenção. É isso mesmo?

Dr. André Guzzardi: Sim. O homem, em geral, não tem a mesma cultura de prevenção que a mulher. Desde jovem, a mulher é incentivada a ir ao ginecologista e a cuidar de sua saúde reprodutiva. O homem, por outro lado, dificilmente vai ao médico até que tenha um problema concreto. Seria ideal que ele fosse orientado desde a adolescência a cuidar da saúde, entender a importância de palpar os testículos e conhecer seu próprio corpo. O câncer de testículo, por exemplo, afeta jovens entre 15 e 25 anos, que raramente fazem consultas preventivas e, por isso, muitas vezes o diagnóstico só ocorre quando a doença já está avançada.

MN: Então, por consequeência, esse contato precoce com a saúde urológica poderia prevenir casos mais graves.

Dr. André Guzzardi: Com certeza. Quanto mais cedo esse contato ocorre, maior a chance de evitar complicações. A orientação para que os jovens palpem os testículos e fiquem atentos a qualquer alteração pode fazer uma grande diferença. Eles precisam saber que qualquer dúvida pode e deve ser compartilhada com os pais, e que é sempre possível consultar um médico para orientações específicas. Infelizmente, a falta dessa cultura de prevenção acaba gerando casos de câncer em estágio avançado, que poderiam ter sido evitados com um simples exame.

MN: Doutor, para finalizar, gostaria de saber se há algo mais que o senhor considera importante ressaltar para quem está lendo essa entrevista durante o Novembro Azul.

Dr. André Guzzardi: Acredito que o Novembro Azul vai além do câncer de próstata. É um convite para o homem cuidar da saúde como um todo. Isso significa investir no básico: alimentação saudável, atividade física, sono de qualidade e saúde mental, que inclui o controle do estresse. Cuidar da saúde não é só ausência de doença; é saber lidar com a vida de forma mais equilibrada. Quando alguém na família adoece, todos ao redor sofrem. Então, cuidar de si mesmo também é um ato de cuidado com os entes queridos.

MN: Excelente, doutor. Muito obrigado por essa conversa rica e esclarecedora.

Faça parte do nosso grupo no WhatsApp. Entre aqui!

Compartilhar

Mais lidas

  • 1
    Marília lidera ranking nacional de demanda por profissionais do sexo
  • 2
    Argentina decide extraditar morador de Marília, condenado por atos em Brasília
  • 3
    Câmeras flagram passagem de fauna inédita na região
  • 4
    Comércio de Marília estende horário em dezembro para período do Natal

Escolhas do editor

JOGOS DE AZAR
Decisão do STF sobre loterias põe em xeque lei recém-aprovada em MaríliaDecisão do STF sobre loterias põe em xeque lei recém-aprovada em Marília
Decisão do STF sobre loterias põe em xeque lei recém-aprovada em Marília
Governar também é promover qualidade de vidaGovernar também é promover qualidade de vida
Governar também é promover qualidade de vida
8 DE JANEIRO
Argentina decide extraditar morador de Marília, condenado por atos em BrasíliaArgentina decide extraditar morador de Marília, condenado por atos em Brasília
Argentina decide extraditar morador de Marília, condenado por atos em Brasília
CLIMA NATALINO
Marília acende luzes e inicia agenda do Natal Iluminado nesta sexta-feiraMarília acende luzes e inicia agenda do Natal Iluminado nesta sexta-feira
Marília acende luzes e inicia agenda do Natal Iluminado nesta sexta-feira

Últimas notícias

CPMI do INSS convoca dono do Banco Master e governador Romeu Zema
Brasil tem potencial para minerais críticos, aponta estudo do Ipea
App deve ajudar agentes públicos a trocarem informações de forma segura
Motorista capota carro na pista e veículo invade quintal de casa em Quintana

Notícias no seu celular

Receba as notícias mais interessantes por e-mail e fique sempre atualizado.

Cadastre seu email

Cadastre-se em nossos grupos do WhatsApp e Telegram

Cadastre-se em nossos grupos

  • WhatsApp
  • Telegram

Editorias

  • Capa
  • Polícia
  • Marília
  • Regional
  • Entrevista da Semana
  • Brasil e Mundo
  • Esportes

Vozes do MN

  • Adriano de Oliveira Martins
  • Brian Pieroni
  • Carol Altizani
  • Décio Mazeto
  • Fernanda Serva
  • Dra. Fernanda Simines Nascimento
  • Fernando Rodrigues
  • Gabriel Tedde
  • Isabela Wargaftig
  • Jefferson Dias
  • Marcos Boldrin
  • Mariana Saroa
  • Natália Figueiredo
  • Paulo Moreira
  • Ramon Franco
  • Robson Silva
  • Vanessa Lheti

MN

  • O MN
  • Expediente
  • Contato
  • Anuncie

Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial.
MN, Marília Notícia © 2014 - 2025

MN - Marília NotíciaMN Logo

Editorias

  • Capa
  • Polícia
  • Marília
  • Regional
  • Entrevista da Semana
  • Brasil e Mundo
  • Esportes

Vozes do MN

  • Adriano de Oliveira Martins
  • Brian Pieroni
  • Carol Altizani
  • Décio Mazeto
  • Fernanda Serva
  • Dra. Fernanda Simines Nascimento
  • Fernando Rodrigues
  • Gabriel Tedde
  • Isabela Wargaftig
  • Jefferson Dias
  • Marcos Boldrin
  • Mariana Saroa
  • Natália Figueiredo
  • Paulo Moreira
  • Ramon Franco
  • Robson Silva
  • Vanessa Lheti

MN

  • O MN
  • Expediente
  • Contato
  • Anuncie