Estado tem um psicólogo para cada nove mil alunos em Marília
A rede estadual de ensino de São Paulo, com cerca de 3,6 milhões de estudantes, conta atualmente com apenas 667 psicólogos distribuídos por seus 645 municípios, um número que representa pouco mais de um psicólogo por cidade. Na prática, isso significa que cada profissional é responsável por, em média, 5.504 alunos.
Em Marília, segundo os microdados da Educação de 2023, a situação é ainda mais crítica, com 18.154 estudantes em 42 escolas da rede estadual, sendo atendidos por apenas dois psicólogos, ou seja, uma média de 9.077 alunos para cada profissional.
De acordo com os números pesquisados pelo Marília Notícia, no ano passado, estavam cadastrados apenas dois psicólogos em escolas estaduais da cidade. Um profissional designado para a escola Professora Maria Stella de Cerqueira César, no bairro Palmital, zona norte de Marília, e outro na escola Nasib Cury, no Jardim Teotônio Vilela, zona sul.
A proporção alarmante, que reflete a dificuldade dos psicólogos de darem suporte adequado a tantos estudantes, contrasta com o crescente índice de violência nas escolas da cidade, um problema que carece de soluções efetivas.
A escassez de psicólogos disponíveis impede a execução de ações preventivas e o acompanhamento contínuo necessário para atender as necessidades emocionais e psicológicas dos alunos.
O MN divulgou uma briga generalizada neste mês de outubro na escola estadual Monsenhor Bicudo, no bairro Senador Salgado Filho, zona oeste. Em março, outra confusão foi registrada na escola estadual Professor Baltazar de Godoy Moreira no bairro Somenzari, na mesma região.
Na semana passada, um aluno da escola estadual Vereador Sebastião Mônaco foi agredido dentro do refeitório. Em entrevista para a rádio Itaipu FM, a mãe do estudante revelou que as confusões são constantes no local.
“Meu filho ficou com o rosto deformado, agredido por outro aluno. Todos os funcionários disseram que meu filho não tinha feito nada. Na hora que eu estava saindo da escola, encontrei o pai do menino, que me pediu desculpas. Disse que o menino está revoltado com a separação dos pais, mas se ele está revoltado, precisa buscar ajuda. Toda semana tem confusão dentro dessa escola”, revela a mãe.
Casos de bullying também são uma realidade enfrentada por alunos dentro da sala de aula. No último dia 10, um garoto autista de 14 anos foi alvo de injúria na escola estadual Professora Oracina Corrêa de Moraes Rodine, no Jardim América, zona oeste de Marília.
“Eu gostaria de divulgar esse caso do meu filho, para que não aconteça com outras crianças. Meu filho sofreu bullying dentro da sala de aula e foi punido. Meu filho poderia ter tido uma convulsão lá, só não aconteceu porque estava medicado. É um descaso muito grande”, relatou a mãe na ocasião ao MN.
Apesar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) mencionar que os psicólogos atuam em ações como acolhimento, desenvolvimento de habilidades socioemocionais e psicologia escolar, a quantidade insuficiente de profissionais dificulta a implementação eficaz dessas medidas, deixando uma lacuna de suporte nos ambientes escolares.
Em contraste, a rede particular de ensino de Marília apresenta uma situação bem diferente. Os colégios privados da cidade mantêm psicólogos disponíveis diretamente em suas unidades, com a presença de um ou mais profissionais, como no Colégio Cristo Rei, que contava em 2023, com cinco psicólogos.
Segundo os dados do ano passado, o Colégio Bezerra de Menezes atuava com dois psicólogos, mesmo número do Colégio Criativo. Colégio Interação, Meu Cantinho Berçário e Maternal, Colégio Assembleiano de Marília, Escola de Educação Infantil Tia Marta e Colégio Esquema Único contavam com um especialista em cada unidade. Essa estrutura favorece o atendimento personalizado e contribui para um ambiente escolar mais seguro e saudável.
“O trabalho do psicólogo escolar tem como foco a coletividade, por meio de ações e projetos que possam ser desenvolvidos preventivamente no combate às violências, ao bullying e outros tipos de conflitos comuns ao cotidiano escolar. Um exemplo desse trabalho é o projeto Tutoria que integra o Plano de Convivência do Colégio Cristo Rei. Por meio de encontros semanais, são oferecidas dinâmicas e vivências para se pensar a convivência dos alunos, os conflitos existentes e a busca de soluções por meio da realização de assembleias de turma. Além da participação em projetos específicos, o psicólogo escolar pode realizar parcerias na formação pedagógica dos educadores, formação das famílias, acompanhamento regular, conforme necessidade e outras ações que envolvam toda a comunidade escolar”, destaca o psicólogo clínico e escolar/educacional Gilson Cardoso, do Colégio Cristo Rei.
Até o ano passado, o Centro Escola Municipal de Educação Especial Professora Yvone Gonçalves estava com três profissionais.
A falta de informações detalhadas por parte da Seduc-SP sobre a distribuição de psicólogos nas escolas estaduais e o número exato de alunos atendidos prejudicam uma análise precisa da situação, sendo necessário recorrer aos microdados da Educação para obter os números.
Enquanto isso, sem um suporte psicológico adequado, as escolas públicas enfrentam desafios crescentes na gestão de conflitos e na promoção da cultura de paz, áreas onde um suporte psicológico mais acessível poderia trazer impactos positivos.
A situação evidencia ainda a disparidade entre as redes de ensino público e privado e destaca a urgência de políticas de apoio psicológico mais robustas para os estudantes da rede estadual. Com o aumento de ocorrências de violência escolar e problemas de saúde mental, a presença efetiva de psicólogos nas escolas é uma medida essencial para construir um ambiente escolar acolhedor e seguro para os estudantes de São Paulo.
OUTRO LADO
O Marília Notícia chegou a questionar o número de psicólogos atendendo na rede estadual de Marília, mas, inicialmente, a assessoria da Seduc-SP afirmou que não tinha autorização para informar o dado que é público. Também não quis indicar o número de alunos matriculados em 2024 na cidade.
Na primeira nota encaminhada ao MN, a atual gestão da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo se limitou em afirmar que contratou 667 psicólogos, que passaram a atuar presencialmente nas escolas estaduais, como parte do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP).
Estes profissionais, segundo o documento enviado, se concentrariam em ações preventivas, acolhimentos, dinâmicas de grupo, escutas, desenvolvimento de habilidades socioemocionais, psicologia escolar e saúde mental na escola, além de atendimento individualizado sempre que necessário.
Ainda segundo as informações repassadas pela Seduc-SP, nos últimos anos, a pasta diz que tem incentivado o registro de ocorrências e acompanhado o andamento de suas resoluções. Com os dados, a equipe do Conviva aponta que elabora estratégias para ações da cultura de paz dentro do ambiente escolar.
Após o MN informar que havia conseguido os dados de 2023, a assessoria afirmou que enviaria outra nota atualizada:
“Todas as escolas de Marília contam com o apoio de psicólogos que realizam visitas semanais às unidades, desenvolvendo ações preventivas, acolhimentos, dinâmicas de grupo, escutas, desenvolvimento de habilidades e mediação de conflitos. Todas as atividades são desenvolvidas em grupo e, caso seja necessário, são realizados atendimentos individuais e encaminhamentos para atendimento clínico na rede protetiva de saúde.
O programa Psicólogos nas Escolas foi desenvolvido em colaboração com o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP) e universidades parceiras. A ação prevê a atuação conjunta desses profissionais com os Professores Orientadores de Convivência (POCs) e diretores escolares.
Em nível regional, os psicólogos trabalham em conjunto com os Professores Especialistas em Currículo (PECs) do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva-SP) para apoiar o desenvolvimento de ações do plano de melhoria da convivência escolar.
Em todo o estado, são 667 profissionais, dos quais sete atuam na Diretoria de Ensino de Marília.“