‘Em uma semana, recebi a notícia da morte da nossa bebê duas vezes’, denuncia mãe
A Polícia Civil investiga a morte de uma bebê recém-nascida em uma maternidade de Marília. Maya Vitória da Silva Oliveira nasceu em 9 de setembro e morreu oficialmente na última segunda-feira (16). Porém, a família relata que cinco dias antes, em uma madrugada durante a internação, a menina teve suporte de vida retirado e na ocasião foi apresentada como morta para a família.
“É muito sofrimento. Em uma semana, recebi a notícia a morte da nossa bebê duas vezes”, denuncia mãe, a doméstica Viviane Cristina da Silva Oliveira, de 41 anos, que deu à luz no Hospital Materno Infantil (HMI).
Ela teve a triste experiência de tomar a filha nos braços para uma despedida após uma parada cardiorrespiratória. Cerca de uma hora depois, teve a esperança da sobrevivência, mas hoje chora a dor do luto, ao lado do companheiro, o montador de outdoor Renato Gustavo de Oliveira.
NASCIMENTO
Maya foi a quarta filha do casal; a única menina. A gestação, conforme a mãe, foi considerada de risco. Havia diagnóstico de derrame pericárdico – que é um excesso de líquido na membrana que envolve o coração, que pode causar dor, falta de ar e choque – e suspeita de complicações pulmonares na criança. Maya nasceu com 31 semanas completas em 9 de setembro.
“Fizemos pré-natal pelo SUS, foi muito bom. Mas fizemos muitos exames particulares por causa dos riscos. Ela teve uma melhora durante a formação e esse diagnóstico era considerado ‘discreto’. Quando ela nasceu, o médico disse que ela estava muito bem, não tinha nenhum problema, mas teve que ir para a incubadora por ser prematura”, conta a mãe.
Maya pesava 930 gramas. Não ganhou peso. Não foi alimentada com o leite materno porque não houve tempo. No segundo dia após o nascimento da filha, em 11 de setembro, Viviane relata que teve alta médica e, após dias no HMI, foi para casa. “Era 0h49 quando eu atendi a ligação; pediram para irmos lá com urgência. Fomos preocupados, mas não imaginamos o pior”, conta.
Em entrevista ao Marília Notícia, Viviane relata que foi recebida por um médico, que anunciou o óbito de Maya depois de uma parada cardiorrespiratória. Em seguida, Viviane e Renato foram levados até a UTI Neonatal.
“Minha filha estava dentro de uma incubadora desligada. Tinha um pano preto por cima. A funcionária retirou o pano, e entregou minha bebê embrulhada em um tecido grosso, era como um pacote. Eu abri para ter contato com ela. Sentimos ela quente. Beijei, meu marido beijou. Percebemos que estava respirando, achei que estava ofegante. Falamos com a enfermeira, mas ela disse que seriam espasmos, que era efeito de medicações que ainda estavam no organismo”, detalha a mãe.
O casal não reagiu à situação. Viviane diz que faltaram forças. Ela e o marido afirma que não acreditaram que pessoas experientes, com equipamentos, pudessem ter se enganado. Ela conta que saiu com o marido “sem chão”. Eles pegaram alguns documentos, os primeiros desde o nascimento, e saíram para avisar familiares, pedir ajuda, tomar providências para liberação do corpo.
“Era 2h12, a gente nem havia chegado em casa ainda. Ligaram de novo. Maya estava viva, estavam reanimando. Corremos para lá, não pudemos ver nada. Somente depois, quando tudo já estava ligado, ela estava na incubadora”, relata impactada.
MAYA NÃO RESISTE
No dia do óbito de fato, em 16 de setembro, a família conta que levou várias horas para a constatação. Renato e Viviane dizem que novamente foram surpreendidos. Havia aparente evolução favorável de Maya.
“Ela estava se recuperando bem. Naquele mesmo dia, fui lá para coletar leite, porque já estavam preparando para ela tomar leite pela primeira vez. Mas à noite, veio a notícia”, conta a mulher.
O pai diz que o casal é cristão e crê no sobrenatural, mas ficou incomodado ao ouvir várias pessoas no local falando em milagre no caso de sua filha.
“Pode ter sido um milagre, sim, pode. Mas por que desistiram dela? Por que simplesmente deram como morta e deixaram enrolada naqueles panos? Agora usam milagre para explicar? Se ela tivesse sido cuidada o tempo todo, durante essa parada, hoje poderia estar aqui”, supõe.
A mãe afirma que o sentimento é de revolta. “Quero justiça, que isso não aconteça mais, que eles pensem no que fizeram. A primeira vez que segurei minha filha no colo ela estava declarada morta, sufocada, não me conformo com isso. Na segunda vez, estava morta de verdade. Será que ela teve chance?”, questiona.
O caso foi registrado pela Polícia Civil como morte suspeita. Não há informações sobre o andamento da apuração que, inicialmente, será de responsabilidade do 3º Distrito Policial, por jurisdição da área.
O Marília Notícia questionou a direção do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília (HC/Famema), responsável pelo Materno Infantil, sobre o caso, mas não recebeu retorno até a conclusão dessa reportagem. O MN acompanha o caso.