Corrupção, disputa por poder e morte; polícia divulga detalhes sobre a execução de secretária
A Polícia Civil de Bauru considera esclarecidos os pontos principais que envolvem o assassinato de Cláudia Regina da Rocha Lobo, de 55 anos, funcionária da Apae de Bauru. A investigação aponta o presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, como interessado e executor do crime.
O delegado Cledson do Nascimento, que lidera o caso, disse em coletiva nesta segunda-feira (27) que os indícios “sugerem má gestão, desvio de verbas e disputas de poder dentro da instituição” e que estes fatos podem estar entre os motivos que levaram ao crime.
Durante a entrevista, o delegado destacou a cronologia dos fatos, em uma investigação que evoluiu de forma rápida, com muitos cruzamentos de dados, queda de versões e perspicácia para evitar pistas falsas.
“Ainda estamos apurando todos os detalhes, mas nossa investigação aponta para problemas graves de gestão, desvio de recursos e conflitos internos como possíveis causas para o crime”, afirmou o delegado.
Um relatório divulgado à imprensa detalha o andamento da investigação e exclui a possibilidade de um crime passional. “Embora tenha havido especulações na mídia e entre o público sobre uma possível motivação passional, as evidências sugerem que o crime está relacionado a questões financeiras e de poder dentro da Apae”, diz o documento.
Além da investigação principal, a Polícia Civil abriu uma investigação paralela, conduzida pelo Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold), para apurar possíveis fraudes financeiras na instituição.
PISTAS FALSAS
Durante as investigações, Roberto, inicialmente, tentou desviar a atenção da polícia sugerindo que o crime poderia estar relacionado a dívidas de um familiar de Cláudia com traficantes. No entanto, depoimentos e provas coletadas posteriormente apontaram para sua própria responsabilidade.
A coordenadora financeira da Apae revelou que Roberto autorizava “adiantamentos” em nome de Cláudia, que eram registrados como pagamentos a fornecedores. No computador da vítima, foram encontradas planilhas com indícios de irregularidades financeiras, incluindo valores pendentes relacionados a Roberto.
EMBOSCADA EM VEÍCULO
Um exame balístico confirmou que um estojo de pistola calibre 380, encontrado no veículo da Apae, foi disparado pela arma apreendida na casa de Roberto.
A análise das câmeras de segurança e o histórico de chamadas do celular de Roberto também fornecem evidências cruciais, como sua movimentação na rodovia SP-321, que liga Bauru a Arealva.
Roberto está detido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pirajuí, com prisão temporária decretada por 30 dias.
OCULTAÇÃO DE CADÁVER
O delegado Cledson do Nascimento informou que o corpo de Cláudia foi incinerado em uma área utilizada pela Apae para descarte ocasional de materiais. Roberto teria contado com a ajuda de Dilomar Batista, um funcionário da Apae, para se livrar do corpo.
Dilomar confessou que ajudou a queimar o corpo sob ameaças de Roberto e posteriormente espalhou as cinzas em áreas de mata.
As investigações revelaram que, após o crime, Dilomar assumiu o veículo de Cláudia e o abandonou na Vila Dutra, onde ele e Roberto partiram em outro carro da instituição.
Roberto foi preso em 15 de agosto e, em um primeiro momento, admitiu o crime informalmente. No entanto, em depoimento formal, no dia seguinte, negou a acusação.
Durante a investigação, a polícia encontrou fragmentos de ossos humanos em uma área rural de Bauru, que estão sendo analisados para comparação com o DNA da vítima. Além disso, foram recuperados os óculos de Cláudia, reconhecidos por familiares.