Sem acordo, Aeroclube de Marília pode ser despejado após 84 anos
Terminou sem acordo a audiência realizada na tarde desta terça-feira (6), entre os representantes do Aeroclube de Marília e da Rede Voa, concessionária que administra o Aeroporto Estadual Frank Miloye Milenkovich. Com a falta de consenso para a situação, é questão de tempo para que o Aeroclube seja desalojado do local após 84 anos de história.
De acordo com o presidente do Aeroclube de Marília, Braucílio Junior, a Rede Voa teria citado no processo de reintegração de posse uma suposta oferta de R$ 1 por metro quadrado, que nunca chegou a ser apresentada para os integrantes do Aeroclube. Mesmo assim, os representantes do Aeroclube teria ido para a audiência dispostos a aceitar o acordo pelo valor proposto na ação, mas a Rede Voa teria recuado.
“Eles [Rede Voa] alegaram que não aceitamos o acordo, mas fomos para a audiência dispostos a aceitar o valor. Porém, eles [Rede Voa] não cumpriram isso e queriam que pagássemos cerca de R$ 12 mil por mês. O Aeroclube está no mesmo local há 84 anos e, infelizmente, não temos essa condição. O dólar está alto, as pessoas estão descapitalizadas e não temos alunos suficientes para pagar esse valor”, afirma Braucílio Junior.
Segundo o presidente do Aeroclube de Marília, com o que recebem atualmente, conseguem apenas manter a estrutura do local. Braucílio aponta para um recente investimento de R$ 30 mil na infraestrutura do prédio.
“Vamos ser extintos. Não posso assumir uma dívida que não vou ter como pagar depois. Vamos continuar discutindo isso, mas não tem muito o que ser feito. Temos associados que nem voam mais, mas continuam contribuindo com o Aeroclube e ajudavam a mantê-lo vivo. Temos uma frota grande de aeronaves, mas não vamos ter um lugar para deixá-las. A Rede Voa extorquiu todos os empresários, triplicando o valor cobrado. Teve empresa que já tirou a aeronave daqui de Marília”, revela o presidente do Aeroclube.
O proprietários de aeronaves menores teriam mudado os veículos para Garça e Vera Cruz.
Outro ponto questionado pelo presidente é quanto a segurança atual do Aeroporto Estadual de Marília. “Eu tenho 59 anos. Estou há 41 anos aqui, desde os meus 18 anos, e nunca tinha visto as luzes apagadas. Tenho uma vida aqui dentro”, lamenta.
Sobre o futuro, afirma ser incerto “Vamos continuar com um hangar particular, mas vamos ter que desmontar os aeroplanos e cobrir com lona. Temos ainda uma alternativa de vender alguns aviões e comprar um sítio aqui por perto, mas todas as áreas estão muito valorizadas. Realmente não sabemos ainda o que fazer”, considera o presidente do Aeroclube.
Sem um acordo entre as partes, o caso agora será analisado pela Justiça, que ainda não tomou uma decisão sobre a reintegração de posse.
A Rede Voa assumiu a gerência do aeroporto no dia 1º de abril de 2022 e afirmou em nota que, desde então, vem procurando atualizar todos seus contratos, incluindo de todos os aeroclubes, sendo que o de Marília foi notificado desde o final 2023.
“As demais entidades de aeroclubes que compõem os 16 aeroportos já revisaram seus contratos, restando tão somente o deste município. Cabe ressaltar que, desde 2022, conforme legislação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os aeroclubes foram transformados em Centros de Instrução da Aviação Civil (Ciac), sendo enquadrados na mesma categoria das escolas de aviação, com relação de mercado, de modo a permitir livre competição entre todas as demais empresas do segmento de voos de instrução”, diz o documento.
A Rede Voa afirma ainda que o investimento previsto para o Aeroporto de Marília totaliza R$ 5 milhões, dos quais R$ 2 milhões estão destinados à reforma do terminal de passageiros e outros R$ 3 milhões para demais melhorias.
“No que diz respeito às intervenções já realizadas, já foram investidos R$ 200 mil no terminal de passageiros e outros R$ 590 mil nas demais áreas do aeroporto, contemplando melhorias na pista, pátio e fechamento perimetral”, finaliza a nota.