Aliança pela volta de Vinicius ignora espectros políticos e fura bolha da polarização
Pequenas rodas de conversa, nas convenções partidárias, costumam revelar muito mais do que os discursos no palco. Informações e as análises mais assertivas não vêm de um alto falante; ao contrário, correm à boca pequena.
“E se o Daniel Alonso, por intermédio do Capitão Augusto, trouxer o Bolsonaro à cidade?”, provocou um antigo observador da política local, durante a convenção de Vinicius Camarinha (PSDB).
“Simples. O povo vai curtir a presença dele, como uma grande celebridade, mas a tendência é manter a decisão de voto”, respondeu o interlocutor.
Com evidentes discordâncias, tem prevalecido a análise de que a estrutura política do clã Camarinha tem conseguido furar a bolha da polarização entre esquerda e direita, ainda vigorosa em âmbito nacional.
Em um mosaico de apoios, apresentado em vídeos, o tucano Vinicius exibiu depoimentos de figuras como Gilberto Kassab (PSD), delegado Olim (Progressistas) e Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo e filiado ao PL, partido que tem como candidato Ricardo Mustafá.
Saúde pública, asfalto, trânsito, água e saneamento, trato com o dinheiro público e endividamento são alguns dos principais temas da campanha. Soma-se à isso a capacidade que as lideranças locais têm de trazer o debate para perto do dia a dia dos munícipes.
Foi que o tentou fazer o patriarca Abelardo Camarinha (Podemos), ao propor, durante a convenção do Vinicius, a volta de programas e ações da sociedade civil que ainda ecoam na memória de parte dos marilienses.
Casa do Pequeno Cidadão (no formato antigo, com mais unidades), espaços de lazer como os poliesportivos de bairros e Legião Mirim. Nada novo, pregação para convertidos, mas que mantém a fidelidade de parte do eleitorado já cativo.
Para não dizerem que ele parou de ver a Globo News (hábito confidenciado por fontes próximas), o veterano Camarinha deixou a Lula a sugestão para o presidente condenar a ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela.
Bolsonaro não foi citado. “Para ser prefeito, tem que gostar de pobre”, arrematou, recorrendo à antiga fórmula política que o fez vencer três eleições à Prefeitura de Marília.
Já Vinicius, que busca viver seu tempo, sem perder a parte “politicamente aproveitável” da herança do pai, raramente tem recorrido ao próprio legado. A gestão 2013/2016 não costuma ser citada.
As palavras de ordem para a volta ao poder, além de “família”, são “maturidade”, “mais experiência” e “resgate” de Marília de um momento que ele (Vinicius) descreve como caótico, atribuindo malfeitos ao grupo político do prefeito Daniel Alonso (PSDB).
Mesmo evasivo a detalhar planos para a futura administração – encomendados aos participantes das audiências que tem promovido – o ex-prefeito tenta mostrar conexão com questões locais e transmitir a imagem de político acima de picuinhas.
Suas alianças, para além do espectro político, mostram gente poderosa no entorno, volume de apoios, além de portas abertas em Brasília e São Paulo, em caso de vitórias nas urnas.
Eles torcem para que os adversários não os ouçam, mas a campanha segue apostando na pulverização de votos e na fidelidade de seu eleitorado. Quanto mais candidatos a prefeito pregando conservadorismo e disputando a liderança no “odiômetro”, melhor para a campanha de Vinicius.