Por que fãs têm gastado fortunas para ver Taylor Swift e Beyoncé no exterior
Levou meses até que Taylor Swift anunciasse que sua “The Eras Tour”, a maior turnê de música pop da história, passaria pelo Brasil. O mesmo aconteceu com Madonna, que só contou que se apresentaria nas areias da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, quase um ano após sua passagem pela Europa e pela América do Norte. Com medo de nunca verem seus ídolos ao vivo, fãs brasileiros gastaram milhares de reais para viajar e os ver no exterior.
Há ainda aqueles que não se satisfazem em assistir a um show uma só vez, como os fãs de Swift, que vêm rastreando as paradas da cantora mundo afora mesmo depois de a ver no Brasil, em novembro do ano passado.
É o caso da influenciadora digital Beatriz Glion, que já tinha visto um show de Swift no Rio de Janeiro, no dia em que a sensação térmica dentro do estádio do Engenhão chegou a 60º C e que a fã Ana Clara Benevides morreu após passar mal em meio à multidão. Em maio, Glion viajou à Suécia para assistir a outra apresentação. “Senti que não consegui aproveitar tanto por conta do calor extremo. Não tinha nem energia de cantar e vibrar normalmente. Precisava de outro show”, afirma.
Glion ficou hospedada na casa dos tios de uma amiga, a também influenciadora Giulia on Fire, que a acompanhou no show e viu Swift também pela segunda vez. A passagem de avião custou em torno de R$ 3.000, e o ingresso, R$ 2.000. A compra foi tão disputada como no Brasil, conta Glion, mas a experiência na Suécia foi “mais agradável”.
“Lá o lugar é marcado, então não tem necessidade de chegar muito antes do início do show e esperar na fila”, diz Glion. “Na saída, o escoamento da multidão foi organizado, com segurança. No Rio foi um caos.
Contratamos um carro para esperar a gente, torcendo para não ter arrastão”, acrescenta Giulia, para quem, por outro lado, a multidão é bem mais animada no Brasil.
Swift não é a única que atrai brasileiros para seus shows internacionais, já que, historicamente, o Brasil fica de fora da rota dos astros do pop, caso de Beyoncé e Lady Gaga, que não fizeram shows no país nas suas últimas duas turnês, nos anos passado e retrasado. No caso de Gaga, o cancelamento de sua apresentação no Rock in Rio de 2017 parece ter amedrontado os fãs brasileiros, que temem nunca ter a chance de vivenciar o show dela no Brasil.
É o sentimento de Rodrigo Rovaroto, de 25 anos, que tinha o sonho de assistir a um show de Beyoncé e foi para a Alemanha realizar isso. A cantora até veio ao Brasil, numa passagem relâmpago e surpresa por Salvador, mas não fez nenhum show no país durante a sua “Renaissance Tour”.
A influenciadora Alice Aquino, que também viajou para ver Swift, nos Estados Unidos, antes de saber que haveria apresentações da cantora no Brasil, compartilha do mesmo sentimento que Rovaroto.
Aquino diz ainda que as fotos e vídeos de shows podem incentivar seus seguidores a querer viajar para ver seus artistas prediletos. Segundo ela, a prática está relacionada ao isolamento causado pelo coronavírus. “Com a pandemia, abrimos mão de muitas coisas que poderíamos viver. Quando as coisas voltaram, a vontade dessas experiencias era muito grande”, ela afirma.
As viagens não são baratas, conta Marcos Fagundes, publicitário de 53 anos que se considera um “aficionado por show e festival” desde 2010, quando foi ao festival Coachella, nos Estados Unidos. Os custos aumentaram nos últimos anos devido à cotação do dólar e à inflação, ele diz. “Antes, para ir ao Coachella, com um pacote com tudo incluso e ficando em um resort, eu gastava R$ 10 mil. Hoje sai mais do que R$ 25 mil.”
Mas os custos envolvidos em uma viagem não são um impeditivo para que os fãs realizem seus sonhos, segundo Gisele Jordão, especialista em economia da cultura na Escola Superior de Propaganda e Marketing e líder do Panorama Setorial da Cultura Brasileira, pesquisa que monitora as práticas do consumo na indústria do entretenimento.
“Se a atração está de acordo com a intenção da pessoa, o preço será só um critério impeditivo, mas não um critério de decisão”, diz. Ir a shows, segundo a especialista, é uma atividade que está mais relacionada à autorrealização e não a uma lógica econômica racional em relação ao que é considerado caro ou barato. “A realização pessoal está acima da questão econômica, e isso vale para qualquer produto de entretenimento e arte.”
***
POR ALESSANDRA MONTERASTELLI