‘Chega de dividir esquerda e direita’, afirma Vico, pré-candidato a prefeito
Delegado aposentado, Flávio José Rino Guimarães, mais conhecido como Vico, está filiado ao Partido Verde (PV) e foi o escolhido pela Federação PT/PCdoB/PV para ser o principal pré-candidato ao cargo de prefeito de Marília pela esquerda. A informação, inclusive, foi confirmada com exclusividade ao Marília Notícia por uma das principais lideranças regionais do PT.
Divorciado, com três filhos, Vico nasceu em Marília no ano de 1955 na Maternidade e Gota de Leite, estudou do primário até o antigo colegial na Escola Estadual Bicudo Monsenhor e se graduou em Direito no Centro Universitário Eurípides Soares da Rocha (Univem). Em 1989, foi aprovado no concurso público de delegado de polícia – profissão que exerceu por 30 anos.
Com experiência em política, o pré-candidato já disputou eleições para vereador e vice-prefeito no passado, quando ficou como suplente em algumas ocasiões. Hoje, principal representante da esquerda na cidade, Flávio Rino é também nome querido e bem aceito por amigos que militam na direita.
Aposentado desde 2018, o ex-delegado atualmente presta serviços jurídicos para a Associação Brasileira de Cannabis Medicinal (Abracamed), com sede em Marília.
Na entrevista da semana, Vico compartilha visões contemporâneas e deslumbra uma avenida Sampaio Vidal sem vagas de estacionamento, a exemplo da avenida Paulista, em São Paulo.
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MN – Como foi a carreira profissional do Vico e sua história com Marília?
VICO – Tenho seis irmãos, sendo dois renomados médicos: José de Freitas Guimarães Neto e Luis Augusto Rino Guimarães. Nasci na Maternidade e Gota de Leite, trabalhei nos anos 70 na Agência Chevrolet e nas rádios Dirceu e Clube de Vera Cruz. Depois fundei a Casa do Café na rua Nove de Julho, em 1981. De 1984 a 1988, exerci advocacia em Marília e São Paulo, atuando em sindicatos. Em 1989, fui aprovado no concurso de delegado da Polícia Civil. Chefiei várias delegacias, entre elas, a Seccional de Adamantina nos anos de 2009 e 2010. Estou aposentado desde 2018, mas ainda advogo.
MN – Como encarar um cenário de domínio bolsonarista em Marília?
VICO – Para mim, não existe essa paixão doentia de esquerda e direita. Nós temos que cuidar da democracia, pois o democrata pode ser de esquerda ou direita. A democracia não tem rótulos e meu pensamento é voltado para o bem comum. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi muito bem votado em Marília sim, mas vamos à luta com propostas, sem esta conotação partidária ideológica. Marília precisa realmente de um governo voltado para o social, saúde, educação e, principalmente, transporte público, que humilha a população com ônibus superlotados e altas tarifas.
MN – Você é a favor da concessão dos serviços de saneamento e esgoto de Marília?
VICO – Sou totalmente contra a venda do Departamento de Água e Esgoto de Marília (Daem). Não concordo com essa pretensão do atual governo.
MN – Sobre mobilidade urbana, você se considera um visionário?
VICO – Sim, por exemplo, existem ruas centrais na cidade onde se permite estacionamento nos dois lados da artéria. Não precisa ter formação em engenharia de trânsito para saber que isto é um contrassenso, um atraso de vida. As vias Nove de Julho, Coronel Galdino, 15 de Novembro, 24 de Dezembro e outras poderiam permitir estacionamento apenas de um lado da rua, para que ambulâncias, ônibus e viaturas policiais trafeguem com mais fluidez. Isto reflete na qualidade de vida das pessoas.
MN – Com o crescimento populacional e de veículos na cidade, o calçadão da São Luiz e a avenida Sampaio Vidal te preocupam?
VICO – Não vejo em nenhuma cidade do mesmo porte de Marília um calçadão como esse. Nós temos um arremedo de calçadão. Deixaram um espaço reduzido para o trânsito fluir, o que gera concorrência entre motocicletas e carros, e limita vagas de estacionamento. Se fosse um calçadão de verdade, muitos problemas seriam evitados e o comércio sairia ganhando. Crianças e famílias iam passear com mais frequência no calçadão. No passado, o prefeito cedeu à vontade dos comerciantes, na ansiedade de implantar um calçadão, ou seja, o interesse particular prevaleceu em cima do interesse público. E devia ser ao contrário.
MN – Em 2008, o ex-prefeito Mário Bulgareli foi reeleito utilizando a imagem do Lula em outdoors espalhados pelo município. Na época, a popularidade de Lula era alta. Hoje, a história se repete, com a direita. O atual prefeito Daniel Alonso (PL) quer colar a imagem do Bolsonaro no seu pré-candidato Ricardo Mustafá (PL). O candidato Garcia da Hadassa (Novo) também requer essa associação. Você acha que esta estratégia vai funcionar novamente?
VICO – Vamos apostar nas propostas sérias e não aventureiras. Sou mariliense e temos que pensar no nosso problema doméstico. Marília sempre teve candidatos que prometeram coisas absurdas. São promessas de campanha que nunca foram cumpridas. Chega de dividir esquerda e direita, o cidadão deve pensar em democracia agora. As pessoas mais humildes, por exemplo, que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) e do transporte coletivo, devem refletir bem, em cima de propostas reais e não eleitoreiras. Apenas 20% dos pontos de ônibus de Marília têm cobertura. As pessoas ficam na chuva. É fácil ir até a feira livre, apertar a mão dos trabalhadores, tomar um caldo de cana e fingir que está tudo bem. Os bairros pedem socorro, a cidade está caótica.
MN – Se eleito, como você vai enfrentar uma dívida de mais de R$ 1 bilhão da Prefeitura? Só para o Instituto de Previdência do Município de Marília (Ipremm), o Executivo deve mais de R$ 700 milhões.
VICO – Para tudo tem uma solução. Quem assumir a Prefeitura vai necessitar de um corpo técnico qualificado para sanar este problema. Não dá para solucionar tudo e pagar as dívidas em quatro anos de mandato. É impossível. Mas com boa vontade e equipe séria, o impacto negativo financeiro poderá ser amenizado.
MN – Como lidar com a Câmara? Sem o apoio dos vereadores, o prefeito tem muita dificuldade em governar.
VICO – Dá para fazer um governo diferente. Com um secretariado competente e equipe cercada de pessoas honestas, o prefeito passa credibilidade e o Legislativo poderá enxergar o governo de forma positiva. O prefeito que tiver uma nova postura, dando exemplo de gestão, com certeza o vereador vai apoiá-lo. Isto não é sonho. Tem cidades que a saúde pública funciona melhor que o setor privado e o transporte público é subsidiado. São Caetano do Sul é um exemplo de cidade bem administrada. A escolha dos assessores da Prefeitura deve ser técnica e não política.
MN – O Juvenal, que era o principal pré-candidato a prefeito pelo PT, disse que você é bem aceito e respeitado por outros partidos. Você dialoga com a direita? O Lula ou Alckmin virá a Marília te apoiar? Já escolheu seu vice?
VICO – Ainda não tem nada definido sobre o Lula e Alckmin. Estamos aguardando alguns posicionamentos. O que me deixou animado nessa pré-candidatura é a confirmação do meu vice. Meu pré-candidato a vice é o engenheiro Ari Rezende (PV), que foi vereador por dois mandatos em Marília e deixou uma marca de seriedade, competência e honestidade. Ele é um exemplo de homem público e ético. Vamos conversar com todos os partidos que queiram discutir boas propostas para a cidade. Já fui candidato a vereador nos anos 80 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e tive votos de ambas as partes: direita e esquerda. Meu eleitorado é versátil.
MN – Para finalizar, o PV sempre pregou uma pauta ambiental. Quais suas propostas para esta área?
VICO – Em Marília, infelizmente nos últimos anos, prevaleceu o lucro desmedido, o que agrediu áreas verdes, que estão sendo tomadas por construções de prédios e condomínios de luxo. Além disto, precisamos recuperar as estradas vicinais dos distritos, pois os produtores rurais dependem de manutenção destas vias. As vicinais estão abandonadas. Os trabalhadores rurais merecem este suporte do Poder Público.
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