Bolsa tem 5º pregão de queda e dólar fecha estável, com mercado atento a juros nos EUA
A Bolsa fechou em queda de 0,73% nesta quinta-feira (23), a 124.729 pontos, com o mercado ainda cauteloso sobre a política monetária doméstica e a dos Estados Unidos. Foi o quinto pregão seguido de perdas no Ibovespa. Já o dólar fechou em estabilidade, com leve recuo de 0,03%, cotado a R$ 5,152 na venda.
Os investidores repercutiram os últimos dados econômicos dos Estados Unidos, que preservaram dúvidas sobre o rumo da taxa de juros por lá, e falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a meta de inflação.
Os detalhes da ata da última reunião do Fed -que optou por manter os juros inalterados na faixa de 5,25% a 5,50%- ainda ecoavam nos mercados globais, que ansiavam por mais pistas sobre possíveis cortes na taxa básica norte-americana e, no lugar, receberam a constatação de que “vários” membros do comitê de política monetária consideravam possíveis novos aumentos.
Dados divulgados nesta quinta-feira corroboraram a tese de que a economia dos EUA ainda segue resiliente demais para que um corte venha nas próximas reuniões.
A atividade empresarial no país acelerou em maio para o nível mais alto em pouco mais de dois anos, e o setor industrial relatou um aumento nos preços de uma série de insumos, sugerindo que a inflação de bens pode aumentar nos próximos meses.
O PMI (Índice de Gerentes de Compras, na sigla em inglês) Composto que acompanha os setores de manufatura e serviços, analisado pela S&P Global, saltou para 54,4 em maio. Leituras acima de 50 indicam expansão da atividade.
Os dados levaram à alta do rendimento do título de 10 anos do Tesouro dos EUA, que foi de 4,434% na véspera para 4,476%.
“O entendimento cada vez mais consolidado de que o corte de juros nos EUA só deve ocorrer no último trimestre pressionou novamente os principais índices em Wall Street”, disse Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.
A Bolsa brasileira, que já acompanhava o exterior, ainda foi pressionada por ruídos sobre a política monetária doméstica, após Haddad considerar a atual meta de inflação “exigentíssima” em falas na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, na quarta-feira.
“Se o Brasil está com dificuldade de cumprir meta mais baixa, e a inflação fica insensível a taxas de juros, temos que pensar as questões institucionais”, ponderou Haddad em audiência no Congresso na quarta-feira, acrescentando que uma das principais questões institucionais é o quadro fiscal.
“Meta de inflação de 3% é ousada para histórico do Brasil. Se queremos perseguir esta meta, temos que abrir este debate”, acrescentou Haddad, sem se aprofundar na questão.
A fala abriu espaço para a interpretação de que alcançar a meta de inflação já não é mais prioridade, o que afetaria o rumo da taxa Selic, principal instrumento de controle de preços.
Apostas de uma taxa de juros mais alta do que o previsto ao final de 2024 começaram a crescer nos últimos dias.
Na reunião do começo do mês, o BC reduziu a Selic em 0,25 p.p., após seis cortes consecutivos de 0,5 ponto. O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ainda disse em entrevista na semana passada que não pode antecipar novas reduções, sob o argumento de que a autarquia precisa “de tempo, serenidade e calma para saber como as variáveis vão se desenrolar”.
Na cena corporativa, destaque para a Nvdia nas Bolsas de Nova York. Vendas recordes de chips de inteligência artificial fizeram a receita da gigante de tecnologia disparar 262% no último trimestre, superando as expectativas dos investidores.
A receita para os três meses, de fevereiro até o final de abril, foi de US$ 26 bilhões, acima das estimativas de US$ 24,7 bilhões.
As ações da Nvidia saltaram 9,32% e fecharam acima da marca de US$ 1.000 por ação pela primeira vez e ajudaram a impulsionar os índices Nasdaq e S&P 500 para recordes intradiários mais cedo, mas não foi o suficiente para conter a queda das Bolsas norte-americanas, que reagiam à alta dos títulos do Tesouro.
Por aqui, Vale caiu 0,6%, acompanhando a queda dos futuros do minério de ferro na China. Já a Petrobras perdeu 1%, também em linha com os preços do petróleo e com a sucessão no comando da estatal no radar.
Itaú cedeu 0,89% e Bradesco, 1,68%. Do lado das altas, Suzano avançou 3,68%, recuperando parte das perdas recentes desencadeadas por notícias sobre interesse da companhia na europeia International Paper.
Minerva avançou 1,1%, em dia de recuperação após queda na véspera, em meio à decisão da autoridade concorrencial uruguaia Coprodec na terça-feira de rejeitar um pedido da companhia para a compra de três unidades de abate da Marfrig no país.