Cidade de São Paulo inicia vacinação contra dengue com número insuficiente de doses
Cássia Antunes, 40, trouxe sua filha, Helena Maria, 12, para se vacinar contra dengue logo no 1º dia da imunização no município de São Paulo. A irmã gêmea de Helena, da mesma idade, não pôde vir porque está com dengue.
A família mora no distrito de Itaquera, região que concentra o maior número de casos absolutos da doença na capital e, por isso, local que recebeu parte das 8.310 doses da remessa que chegaram em São Paulo.
Além de Itaquera, Vila Jaguara, na região oeste do município, foi o outro distrito que recebeu a vacina, por ter a maior incidência de dengue por 100 mil habitantes em São Paulo.
“A vacina é importante para proteger das doenças. Já tomei todas as outras também”, diz Helena Maria.
Sua irmã só poderá vir receber a primeira dose daqui a seis meses, de acordo com recomendação da Secretaria Municipal de Saúde.
Helena representa as cerca de 18 mil crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que moram nas regiões de Itaquera e Vila Jaguara. Portanto, pelas contas, pouco menos de 10 mil pessoas ainda ficarão sem vacina.
As cerca de 867 mil crianças nesta faixa etária, que compõem o público-alvo, só poderão receber o imunizante após a chegada das 185 mil novas doses enviadas pelo Ministério da Saúde, afirma o secretário Municipal de Saúde, Carlos Zamarco, que acompanhou o início da vacinação nesta quinta-feira (4).
“Para esses dois bairros, não vai ser suficiente essa quantidade. Nós aguardamos receber mais e, assim que recebermos, vamos distribuir entre as 471 UBS [Unidades Básicas de Saúde] do município”, disse Zamarco em entrevista coletiva.
A quantidade disponível hoje, se completamente utilizada, só contemplará 0,95% do público-alvo da cidade.
A restrição da idade se deve, justamente, ao número escasso de doses. As doses já disponíveis chegaram à cidade após a redistribuição de imunizantes não utilizados no município de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo. A estratégia foi pensada pelo Ministério da Saúde para evitar o desperdício do lote que vence no dia 30 de abril, após uma baixa adesão da vacinação. Ainda não há previsão exata de quando as novas doses vão chegar, segundo Zamarco, mas é esperado que “nos próximos dias”.
A Prefeitura afirma ter enviado quatro ofícios ao Ministério da Saúde solicitando vacinas, dos quais três foram ignorados.
O movimento na UBS Vila Santana, nesta manhã, no entanto, não foi baixo. A imunização começou às 7h e quem chegava às 8h passava por uma hora de espera. Foi o caso de Aisha Oliveira, 10, e sua mãe, que a acompanhava, Alessandra Ferreira, 42.
Embora Aisha tivesse duas provas na escola no mesmo dia, ela levou a apostila para estudar enquanto esperava, e não deixou de se vacinar. No caso delas, muitos vizinhos contraíram a doença, além de dois parentes, o que fez a mãe querer adiantar a imunização.
“A espera valeu a pena. Vacina é vida. Se eu pudesse, tomava também, sou ‘Maria Vacina'”, diz Alessandra, após a vacinação.
Entre as 7h e às 10h, 27 pessoas receberam a primeira dose da vacina da dengue na unidade, o que profissionais de saúde da UBS avaliam como uma boa procura, considerando a faixa etária restrita. O esperado é que mais pessoas cheguem durante a tarde, após a escola.
Algumas das crianças vieram à unidade de saúde após campanha sobre a dengue nas escolas. Na última sexta (29), a Prefeitura anunciou que iria vacinar as crianças nos locais de ensino. No entanto, nesta quinta, o secretário afirmou que a vacina será dada nas unidades de saúde e as escolas serão apenas locais de campanha.
Para se vacinar, a criança deve comparecer com o responsável, que deve estar portando o comunicado escolar ou comprovante de endereço, considerando a restrição dos locais de vacina.
Não podem se vacinar crianças que tiveram dengue nos últimos seis meses ou apresentaram doença febril aguda nas 24 horas anteriores à administração da dose. Imunodeprimidos, que tenham HIV sem tratamento, em tratamento com quimioterapia ou medicamentos imunobiológicos e gestantes também não podem se vacinar.
Além disso, a vacina da dengue não pode ser aplicada com outras do calendário de vacinação. O paciente deve esperar 24 horas até receber outro imunizante.
Em 18 de março, a cidade de São Paulo decretou estado de emergência em saúde por dengue, o que permite o emprego urgente de medidas de prevenção e contenção de riscos para epidemias, surtos, doenças emergentes e desastres.
De 1º de janeiro até o dia 27 de março, foram registrados 89.153 casos de dengue neste ano, 2.183% a mais se comparado ao mesmo período de 2023. As mortes por dengue na capital saltaram de 19 para 33 em apenas uma semana – aumento de 73,6%. Outros 80 óbitos no município estão em investigação.