Aos 74 anos, Dona Santina preserva a tradição do café e se torna referência em qualidade
Aos 74 anos de idade, a empresária Santina Imaculada Bonini Pardo, conhecida como Dona Santina, tem uma história de vida voltada para a cultura do café em Marília e guarda segredos para a qualidade do seu produto, comercializado em vários estados.
Em entrevista ao Marília Notícia, Santina detalha como foi a chegada da família Pardo a Marília nos anos 40 e a formação do Sítio Olho D’Água em Padre Nóbrega em 1997, quando ainda não existia o populoso bairro Maracá, na zona norte da cidade.
Até a consolidação do café Dona Santina, foram muitas adaptações e testes de qualidade na produção de seu maquinário, existente no próprio sítio, que também é ponto turístico e sedia a famosa “Festa da Roça”, com duas edições promovidas em Marília.
Santina, que é viúva de Maier Pardo e tem três filhos: Renata Bonini Pardo, Victor Hugo Bonini Pardo e Júlio César Bonini Pardo, destaca que aprendeu a colher e torrar café quando era criança e até hoje preserva a tradição da família.
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MN – Como foi a chegada de sua família a Marília?
SANTINA – A minha família veio para Marília em 1945. Eles vieram de Torrinha, porque os italianos tinham vindo ao Brasil e ficado alojados neste município aqui de São Paulo. E ali, então, tiveram seus filhos, que cresceram, foram criados e casaram. Depois, cada um seguiu o seu rumo. Os meus pais acabaram vindo para Marília nessa época e nasci em 1950. Eu tinha sete irmãos vivos. Foi um período bom, onde a gente tinha uma vida maravilhosa. E partindo do princípio que fui criada em uma vida rural, minha mãe já me ensinou a torrar café bem na minha infância. O cheiro era maravilhoso. A gente torrava o café e moía depois. Nessa ocasião, não tínhamos plantações ainda, mas nossa família comprava os grãos para moer.
MN – O Sítio Olho D’Água foi construído dentro de Padre Nóbrega ou Maracá?
SANTINA – No final do trabalho do meu marido, Maier Pardo, quando se aposentou e com o dinheiro que recebeu da rescisão do contrato dele, nós adquirimos um carro e morávamos já em Marília. Um dia falei para ele que queria um pedaço de terra. Com muita luta, ele acabou concordando. O pedaço de terra foi comprado pelo valor do carro que a gente tinha, que era do ano: uma Blazer. Isso ocorreu em 1997, quando ainda não existia o bairro Maracá. A localização do sítio ainda é considerada Padre Nóbrega. Hoje, a região valorizou tanto que não sei quantas Blazers caberia aqui [risos]. Foi nessa época que plantamos nosso café, que no começo era vendido apenas para os amigos íntimos. Meu marido, já falecido, era descendente de espanhóis, uma pessoa extremamente cuidadosa, muito trabalhador e impecável no caráter, atitudes e responsabilidade, como pai e tudo mais [emocionada]. Ele trabalhou por 32 anos no Banespa.
MN – É a mesma plantação de café até hoje? Quantas sacas são produzidas por ano?
SANTINA – Sim. A plantação ficou na parte nobre do terreno, que é a parte alta. É a primeira área de quando você entra na propriedade. É o lugar mais alto, onde tem as curvas de nível, que seguram a água da chuva para ajudar na umidade dos pés de café. Porque quando dá uma seca muito forte, a gente é obrigado a usar irrigação. Aqui nós só usamos água de poço, não temos água da cidade, e mais de 70% da energia consumida no sítio vem das placas fotovoltaicas. Nós produzimos em torno de 120 a 130 sacas de café por ano. Cada saca tem 60 quilos.
MN – O fator climático, de chuva, por exemplo, atrapalha na colheita?
SANTINA – Sim. A temperatura tem uma influência grande. Porque, por exemplo, essa época de chuva favorece para manter os grãos que já saíram, mas não vai interferir muito no tamanho do grão. Essa chuva teria que ter acontecido bastante em setembro ou outubro do ano passado, para poder umedecer a terra até a árvore do café florescer, beneficiando assim o surgimento dos grãos.
MN – Seu maquinário de produção está todo instalado no sítio? A senhora exporta o café?
SANTINA – Nossa colheita é feita manualmente e usamos umas maquininhas, tipo ‘mãozinhas’, que ajudam na derriçada do café. O café é todo forrado por baixo e não deixamos o produto ter contato com a terra. Depois que termina esse trabalho, é feita a varrição do chão e este café é secado à parte, trabalhado separadamente. Temos clientes em todos os lugares, em vários estados e até exterior. Tem cliente que solicita fardos de 20 quilos.
MN – O sítio também atua no setor turístico e recebe o público?
SANTINA – Às vezes oportunizamos a criação de trabalhos diferentes. Minha filha, Renata, resolve fazer um prato no fogão à lenha e divulga para um grupo de até 40 pessoas, que vem conhecer o sítio. De fim de semana, os amigos também aparecem. Minha filha gosta de cozinhar e meu outro filho, o Victor, me ajuda no trabalho com o café e divulgação. Tenho também um filho que está no exterior, o Júlio César. E sediamos uma vez por ano a Festa da Roça, evento gastronômico, típico, com música ao vivo e entrada gratuita para a população.
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