BBB 24: O que explica o conflito entre camarotes e pipocas na atual edição do reality
O BBB 24 é a quinta edição do maior reality da Globo com a participação de celebridades no elenco. Dentro e fora da casa, discute-se quais as vantagens e desvantagens de ter famosos em um programa como esse.
Embora a conclusão seja incerta, o que se pode afirmar, com certeza, é que os camarotes largam com vantagem por já ter uma base de fãs fora do programa. Reflexo disso é que, numericamente, eles chegaram mais às finais do programa até aqui. Nove dos últimos doze finalistas foram celebridades.
Porém, de nada adianta se elas não fizerem por merecer dentro do jogo. Tanto é que, desde que o programa uniu camarotes e pipocas para disputar o prêmio, o time das estrelas ganhou apenas o BBB 22, com a vitória do ator Arthur Aguiar, 34. E vale lembrar que a edição que o sagrou campeão só teve camarotes na final –além dele, estavam o também ator Douglas Silva e o atleta Paulo André.
E tudo bem. Até porque a maioria dos famosos que aceita participar do programa não está interessada necessariamente no prêmio principal, mas na visibilidade que pode alcançar com a exposição em um programa com tanta visibilidade.
Só que, a despeito de saberem a importância de ficar bem na fita para fecharem contratos publicitários quando saírem, as celebridades que fazem parte do BBB 24 vêm alternando altos e baixos que colocam em xeque a viabilidade do grupo em edições futuras. No momento, Rodriguinho, MC Bin Laden, Wanessa Camargo e Yasmin Brunet estão sob escrutínio do público –completam o grupo o paratleta Vinicius Rodrigues, já eliminado, e a influenciadora Vanessa Lopes, que desistiu do programa e está sob tratamento psiquiátrico.
Nesta edição, tem sido frequente os camarotes dizerem que estão se sentindo perseguidos pelos pipocas -como são chamados os participantes comuns, que se inscrevem para entrar no reality. Por que a divisão entre camarotes e pipocas ficou tão marcada neste ano? Existem razões para isso? O F5 falou com especialistas para tentar explicar o fenômeno; confira abaixo.
FORÇA DO GRUPO
O primeiro motivo seria o número de camarotes em comparação ao de pipocas, algo que vem sendo apontado pelos próprios participantes. “Amiga, essa edição tem menos camarotes que as outras. Somos seis”, disse Wanessa Camargo, 41, para Yasmin Brunet, 35, na primeira semana. “Ainda bem que você está aqui. Se não, eu não iria aguentar”, completou a cantora.
Pessoas famosas começaram a participar do BBB na edição de 2020, quando o grupo ficou conhecido como camarote. Na primeira aparição, eles eram nove, o que correspondia a metade do elenco. Nos três anos seguintes, o padrão meio a meio se repetiu, mas com dez participantes de cada lado –em 2022 e 2023, a entrada de brothers e sisters vindos da Casa de Vidro fez o número de pipocas inflar. O equilíbrio na quantidade acabou de vez neste ano. Como bem observou Wanessa, foram apenas seis camarotes ante um grupo de 20 pipocas.
EXPOSIÇÃO E VULNERABILIDADE
“O meu maior pânico é, além de ficar longe de pessoas que eu amo, destruir minha carreira de 23 anos”, disse Wanessa Camargo na madrugada desta sexta-feira (26). Por já terem chegado aonde chegaram, os camarotes acabam tendo ainda mais medo de expor suas falhas e intimidades. Em vários momentos, eles demonstram receio de serem cancelados por racismo, machismo e outras questões sociais.
Para a historiadora Monalisa Carmo, as condições de privilégio financeiro e social dos famosos fora da casa se transformam no reality. “Elas se colocam em uma posição de risco, que é diferente do cotidiano. Ali temos a oportunidade de vê-los sem filtros”, diz.
ESCUDO DE PROTEÇÃO
E, uma vez que estão se sentindo acanhados, os camarotes começam a buscar a possível ameaça à sua permanência no reality. Nesse sentido, Monalisa Carmo explica que a sociedade brasileira se construiu a partir de processos de violência e hierarquização desde o período colonial.
“Para estabelecer quem é melhor que quem, é preciso criar [a imagem] do outro. E quem é esse outro? É tudo aquilo que eu não quero em mim”, apontou. Esse lugar de negação compreende desde a aparência até aspectos mais subjetivos, como a régua moral.
Um exemplo é a polêmica envolvendo Davi há dias. Uma distorção da palavra “humilde”, usada por ele para se referir àqueles que mereciam vencer o reality, foi transformada na história do “pipoca que não quer que camarotes ganhem” por MC Bin Laden e Lucas Henrique.
No desdobramento da discussão, brothers e sisters passaram a atribuir a ele características que reforçam estereótipos de um homem negro violento, manipulador e maldoso”, afirma Monalisa.
EU MERECI
Essa ideia de que as conquistas profissionais, financeiras e o reconhecimento dos camarotes os desqualificaria para ganhar o prêmio em dinheiro também acaba por assombrá-los. Por outro lado, o número de tentativas de um pipoca para ser aceito no reality, sua história de superação e até as dificuldades financeiras da família se tornam argumentos sobre por que eles são merecedores.
“A ideia da meritocracia é tão difundida que até pessoas de outras condições e de outras classes [menos favorecidas] acreditam nela”, aponta o antropólogo Mauro Baracho. Para o especialista, camarotes e pipocas reproduzem a crença, mas de maneiras diferentes.
“Enquanto camarotes acreditam merecer por conta da carreira consolidada, pipocas acreditam que foram batalhadores o suficiente”, disse. “Bebe da mesma fonte a ideia de acessar as coisas com muito trabalho.”