‘Aprendi a ter empatia, mas não posso demostrar fraqueza’, diz nova delegada da DDM
Darlene Rocha Costa Tozin, de 40 anos, assumiu a frente da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Marília neste mês de janeiro. A delegada já tem nove anos de experiência no comando da repartição que trata de violências domésticas e crimes de violação sexual.
Antes de assumir a delegacia de Marília, Darlene comandou os trabalhos da DDM em Presidente Epitácio, onde começou sua carreira como delegada e ficou por cinco anos. Depois, seguiu para Garça por mais quatro anos.
Darlene ainda ficou quase dois anos da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Marília antes de aceitar o convite para retornar ao comando de uma DDM, desta vez, também em Marília.
Ela é formada em direito pela Univem (Centro Universitário Eurípides de Marília), já teve registro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e é filha do atual coordenador da Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Marília, delegado José Carlos Costa, em que sem espelhou e seguiu os passos.
A nova titular da DDM local é a personagem da Entrevista da Semana e contou um pouco ao Marília Notícia sobre sua vida e os desafios e motivações da profissão.
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MN – Você chegou a trabalhar como advogada, como foi?
DARLENE– Eu fui inscrita na OAB por um ou dois anos, mas era incompatível com o meu sonho de ser delegada de polícia. Eu queria prender o bandido e não soltar ele. Nada contra os advogados criminalistas, mas cada um tem um sonho e aquele não era o meu.
MN – Ser delegada sempre foi o seu sonho?
DARLENE – Meu pai é delegado há 38 anos e eu tenho 40 anos, então eu nasci e cresci dentro da delegacia, é uma motivação de infância. Eu cresci vendo meu pai trabalhar e fui me espelhando naquilo. Sempre gostei da parte de investigação e adorava quando ele chegava em casa e contava os casos do dia, de como investigou e prendeu.
MN – Se gosta tanto de investigação, por que deixou a DIG para volta à DDM?
DARLENE – Quem me conhece sabe o quanto amo essa parte, mas quando eu recebi o convite sabia que era hora de voltar. Neste momento da minha vida, eu consigo ajudar mais pessoas do que ajudaria na DIG. Esse é o meu propósito.
MN – O que aprendeu durante esses anos nas outras DDM e que trouxe para Marília?
DARLENE – Aprendi a ter empatia e controle emocional. É difícil ver uma criança que acabou de se abusada e não poder cair uma lágrima. Eu tenho um filho de nove meses. Eu penso em quantas crianças eu atendi nestes nove anos e quantas vezes eu segurei o choro. Quem está atrás da mesa trabalhando está segurando muita coisa.
MN – Vejo que se emocionou em pensar no filho. Como é segurar a emoção durante a entrevista?
DARLENE – Eu aprendi a ter empatia, mas não posso demonstrar fraqueza ou qualquer sentimento. Aquela vítima, principalmente a criança, te olha e enxerga em você uma salvação. Na hora do atendimento, a gente respira e precisa ser profissional. Se não conseguir separar o pessoal do profissional, não consegue atender uma mulher ou criança estuprada.
MN – E o que acontece quando volta para a casa?
DARLENE – Saio da porta, acabou. Respira, reflete e “vamos”, porque eu tenho uma criança pequena para cuidar.
MN – O que faz para liberar toda a carga do trabalho?
DARLENE – Eu tenho vício em esporte, eu extravaso tudo no esporte. Se eu tenho uma folga, eu estou na academia. E meu filho me acompanha. Todo mundo sabe e todo mundo ajuda, ele vai passando de colo em colo, porque eu preciso ter um momento, senão eu não aguento. É difícil lidar com o sentimento dos outros.
MN – Como toda essa carga e um filho pequeno para criar, vale a pena ser delegada da DDM?
DARLENE – Teve um caso em Presidente Epitácio que sempre cito. Um menino de sete anos foi abusado por um primo dentro de casa. Na entrevista, o menino olhava para mim com desespero e eu consegui fazer a prisão do primo em questão de dias. Na outra semana, sem esperar, ele entrou na delegacia – a mãe dizia que ele queria ver a tia – e trouxe uma flor para mim. Senti o carinho daquela criança e acho que ele nunca vai me esquecer. Isso para mim não tem preço, é isso que me motiva.
MN – Você sabe quantas pessoas já ajudou como delegada?
DARLENE – Eu não faço ideia de quantas pessoas eu ajudei, foram muitas. Mas eu prefiro não pensar em quantas foram. É um dia por vez.