Para astróloga, 2024 deve ser ainda mais difícil que o ano anterior, mas há esperança
A astróloga, taróloga e sacerdotisa de umbanda Licina Soares, de 80 anos, descobriu cedo que tinha algo diferente, um dom. Já aos 15 anos, ela fazia previsões com cartas de tarô para as amigas. Desde então, seu conhecimento e participação na comunidade foi crescendo e, hoje, é reconhecida como importante figura mariliense na religião e no esoterismo.
Licinha, como muitos a conhecem, nasceu em Avencas, distrito na zona oeste de Marília, mas a origem de sua família tem ancestralidade na Hungria. Devido ao sangue cigano – talvez daí que venha o dom – a família foi perseguida no país europeu, um dos motivos da mudança para o Brasil.
Antes de cruzarem o Oceano Atlântico, a família precisou passar por Portugal, onde ganharam nomes de origem lusitano. O avô Joseph, que ainda eram uma criança, virou José Soares.
Além dos títulos da religião e esoterismo, Licina também coleciona muitos anos de atividade em jornais e rádios, falando principalmente sobre suas previsões. Em Marília, trabalhou nas rádios 950 e Dirceu, além do jornal de Evaristo Soares e a Voz do Povo.
Licina é a personagem da Entrevista da Semana, neste domingo (14). Ela fala um pouco sobre religiosidade, sobre o preconceito contra a umbanda e ainda faz uma previsão esotérica para 2024.
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MN – Como descobriu seu dom?
LICINA – Eu usava umas cartas de baralho, antigas, que eram das minhas tias. Eu era filha de Maria (título católico) e levava as cartas para igreja. No banco, as amigas pediam coisas de menina-moça, para saber se iriam arrumar namorado. Eu sempre previa certo. Quando o padre ou frei vinha por perto, a gente escondia as cartas.
MN – Mas a senhora precisou aprender algo?
LICINA – Isso aí não se aprende, você tem o dom ou não. Já nasce com isto. Quando você tem dom, até se pegar um monte de feijão é possível fazer a leitura. Como nos búzios, que não tem nada marcado, mas cada um representa algo diferente. A diferença é que os búzios são consagrados, há uma passagem, que eu fiz quando tinha apenas 24 anos, com pai Ronaldo Antônio Linares, presidente da Federação Umbandista do Grande ABC.
MN –De onde nasceu a vontade de conhecer a umbanda?
LICINA – Quando fui morar em São Caetano do Sul, aos 21 anos. Lá me interessei pelo espiritismo, frequentei primeiro kardecismo. Conhecer a umbanda foi algo natural, porque eu gosto de conhecer todas as religiões, eu tenho essa fome de conhecimento.
MN – E como é conhecer outra religião?
LICINA – Como Chico Xavier dizia: “você pode ser o que quiser ser, é homem quem divide as coisas”. Se hoje eu quero ir na igreja católica, eu vou. Se tem alguém que me conhece me olha torno, ou porque eu vou no centro ou na igreja evangélica, é ele que quer ser assim. A gente vai procurar Deus e conhecer. Tudo o que aprendi só me trouxe uma bagagem de coisas boas.
MN – Então a senhora quer dizer que já sofreu preconceito?
LICINA – Isso aí vai existir sempre. A bíblia é uma só, mas interpretam ela em benefício próprio, querem extorquir de tal maneira ao afirmar que a religião dele é a certa, que entendeu melhor. É isso que você não pode deixar em hipótese alguma. Quando Jesus disse: “amei-vos uns aos outros como eu vos ameis”, ele não perguntou no que você acredita. Jesus disse “são vários os caminhos de meu pai”, então desde que use o caminho para fazer o bem, nada vai ser condenável.
MN – O que significa a religião?
A palavra religião significa religar. Aquela fé que você tem realmente em alguma coisa, do que você acredita. Eu sou uma pessoa que o meu religar é em todas as religiões que se fala de Deus e não agride o outro.
MN – A umbanda fala de Deus?
LICINA – A minha religião é tipicamente brasileira, ela foi criada por Zélio de Morais em 1908. Era um homem branco, europeu, do Rio de Janeiro. Com 15 anos, frequentava a casa de um tio que era kardecista. Então, essa umbanda é genuinamente nossa. Os santos da umbanda são os mesmos do cristianismo.
As pessoas preconceituosas não têm o conhecimento da história das religiões ou mesmo dos símbolos. Nós não adoramos a imagem, nós achamos bonita a imagem, porque ela representa um ser. É como uma foto. Se tenho uma foto de um amigo e ela fica molhada, vou jogar fora. Mas isso não muda a minha amizade com a pessoa da foto.
MN – E quando começou a ler os astros?
Comecei a me interessar de verdade. Eu gosto de ir além, de aprender mais, nunca é demais, sempre serve, e fiz curso com Omar Cardoso, o maior astrólogo do Brasil, em uma das minhas voltas para Marília.
MN – A senhora ficou muito conhecida pelos horóscopos em transmissões em rádio. Como foi participar na época?
LICINA – Eu gostava do meu trabalho e das pessoas. Não poderia ter acabando nos jornais e nem nas rádios. Antes as bancas de jornais eram cheias, agora não tem mais ninguém. Eu tenho tudo guardado em fotos e recortes, é o meu legado.
Eu montava diversos tipos de horóscopos. Fiz um, certa vez, de flores que combinavam com signos. Ao final de cada signo, sempre passava um salmo para ler. Tinha gente que ficava com a bíblia do lado para saber qual salmo era.
Mais do que isto, eu passava na rua e me ouvia. Uma vez, vi pedreiros brincando que não era para desligar o rádio até escutar a previsão do seu signo. As pessoas vinhas me cumprimentar nas lojas e todos eram muito educados, ninguém chegava pedindo previsões.
MN – Já fez a previsão para este ano? Como será?
LICINA – Vai ser um ano muito difícil, talvez mais ainda do que o ano que passamos, mas há esperança. 2024 é regido por Santa Ana, que é mãe de Maria e avó de Jesus, e também por São Lázaro. Os dois são santos de cura, por isso, deve ser um ano de muitas descobertas na ciência para tratar doenças que até hoje não se descobriu.
Santa Ana é conhecida também pela aprendizagem, ensinou Maria a ler, e também pela paciência e equilíbrio que cada um de nós precisamos ter. Então, é que devemos ter. São Lázaro é ainda o senhor da vitória, é tio e o único ressuscitado de Jesus.
Saturno estará governando. Então, para as pessoas do símbolo de capricórnio e para quem é elemento terra também, como touro. Serão para elas que será gerida toda fábula. Vai ser um ano muito quente porque o homem estragou a terra. Não tem como dar ordem à natureza, a ordem vem de cima.
MN – E em Marília?
LICINA – Nós temos que trabalhar e os governantes muito mais. Principalmente aqui em Marília, o governante precisa ter mais pulso. Precisa modificar as instruções. Os impostos estão muito altos. Precisa dar uma trégua nisto e ver como está a população. Aqui ainda está muito precário de saúde. Eu digo que é preciso ter muita oração para que as coisas sempre se facilitem e passem a avançar.