Dia do Professor é celebrado em Marília com histórias de dedicação ao ensino
O Brasil celebra o Dia do Professor neste domingo (15), data que homenageia aqueles que desempenham um papel crucial na formação das mentes que moldarão o futuro da nação. São eles que, com dedicação incansável, investem tempo e esforço para guiar os alunos em suas jornadas de aprendizado, proporcionando não apenas conhecimento acadêmico, mas também ensinamentos valiosos sobre ética, responsabilidade e cidadania.
O Marília Notícia conversou com alguns professores para conhecer e contar suas histórias dentro das salas de aula.
Um nome muito conhecido em Marília e região é o de Carlos Roberto Martins Tolói, com 45 anos dedicados à educação. Natural de Pompeia, o professor iniciou sua carreira em 1978, no Colégio Objetivo. Posteriormente ingressou na rede estadual em 1980, lecionando na escola da Usina Paredão.
Após um concurso público em 1984, se tornou efetivo em História, dando aula na escola Cultura e Liberdade. Em 1988 ingressou na escola Professor Baltazar de Godoy Moreira, onde ficou até 2012. Depois de 32 anos Tolói se aposentou no Estado e continuou na rede privada, no Colégio Interação, onde permanece desde 1989.
“Eu fiz vestibular, entrei na Faculdade de Filosofia de Marília, pois não existia a Unesp ainda. Entrei no curso de Ciências Sociais em 1974 e comecei a me interessar pela profissão, principalmente por ótimos professores que tive naquela época. Fui me apegando e depois que terminei o curso de Ciências Sociais, já estava começando a dar aula na escola privada. Também fiz o curso de História na UEL”, conta Tolói.
Depois de todo esse tempo em que trabalhou militando na escola privada e na escola pública, sendo membro dos sindicatos, no meio dos professores, Tolói acredita que é preciso um movimento de toda a sociedade para valorização da profissão.
“Eu não estou decepcionado com a educação, porque eu trabalho há muito tempo e eu me dei bem, sabe? Só que eu tenho uma crítica a fazer sobre a própria sociedade. O professor e a educação não são prioridades de governantes. Eu passei por isso e sei. É tudo encenação, tá? Somos trabalhadores oprimidos da educação. Os alunos, as condições, tem melhorado um pouquinho, mas enfrentei muitos desafios, falta de material, de condições. A escola pública ainda se mantém em pé pela dedicação de muitos professores”, conta Tolói.
Ele fez questão de enaltecer as professoras alfabetizadoras, que trabalham nas primeiras séries escolares.
“O que essas mulheres, ou a maioria mulher, passam, é impressionante. A escola que se vê na mídia não é a escola real, porque a maioria que escreve sobre escola, sobre educação, não vive a sala de aula. Enquanto não valorizarem esses professores, não darem condições de trabalho, não adianta, porque depois chega lá no Ensino Médio e não dá mais para consertar”, afirma Tolói.
INSPIRAÇÃO
O professor mariliense Gabriel Carneiro Nunes, de 32 anos, leciona História e Filosofia no Colégio Interação há oito anos, variando entre o Ensino Fundamental, Ensino Médio e curso pré-vestibular. Ex-aluno do colégio, ele teve inspirações em professores que hoje são seus colegas e amigos, como o professor Tolói.
“Por meio das suas experiências de vida, o professor Tolói narrava a História com personalidade e vivacidade. Foi assim que, ainda enquanto aluno, percebi que a História é sobre o presente, mais do que sobre o passado. Entendi com isso a importância de ser professor, na formação profissional e na ajuda de encontrar a individualidade pessoal de cada um. O professor forma e educa para enfrentamentos do mundo”, conta Nunes.
Em seu período como profissional, identificou que a maior preocupação do sistema educacional brasileiro, em relação à formação profissional, por meio dos vestibulares, mecaniza o ensino em um padrão de reprodução técnica dos alunos, muitas vezes apagando a personalidade e as múltiplas habilidades de cada um.
“Na busca pelo resultado imediato, com notas e aprovações, se esquece de avaliar o estudante em suas questões mais humanas, sensíveis e diferentes às nobres formações acadêmicas. Quando incluímos o fator social, vemos que a escola não consegue melhorar a desigualdade do acesso ao saber, das formações disciplinares e das linguagens utilizadas por cada grupo social que pertence os alunos. Sobra ao professor corrigir esse abismo econômico e social para equilibrar as oportunidades dos estudantes”, diz.
Nunes se sente responsável por instruir sua disciplina, construindo a personalidade cultural e ampliando o repertório do aluno, com um pé na necessidade dos vestibulares e o outro na formação cívica, moral, artística e técnica desses estudantes.
“Para além dessas questões, vale lembrar que o professor trabalha na escola e na sua própria casa, preparando as aulas, fazendo correções e estando em constante aprimoramento pelo seu próprio saber. Para isso tudo, não é segredo algum a injusta remuneração desse profissional, que forma as outras profissões e constrói também a base da nação”, afirma Nunes.
SEM MOTIVOS PARA COMEMORAR
O professor Jair Pinheiro leciona Ciência Política na Unesp de Marília. Ele acredita que não há o que ser comemorado no Dia do Professor. Ele iniciou sua carreira no Magistério Superior em 1996, na Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. A partir de 1999, deu aula na Uninove, até 2006, sendo que, desde 2004, leciona na Unesp. Ele afirmou que as condições de ensino no país vêm se deteriorando a cada ano.
“Todas as medidas, as propostas elaboradas, como políticas públicas para a educação, são medidas salvacionistas ou mercantis. São medidas que, de fato, não enfrentam o real problema. Estamos passando por uma mudança social de grande relevo e que requer outra abordagem. Hoje, no Ensino Médio, no Ensino Fundamental, na periferia, as crianças e os jovens não aprendem, porque não veem sentido”, explica Pinheiro.
O professor pensa também que a faculdade no Brasil está cada vez mais abandonada. Ele disse que o último governo federal promoveu uma política de ataque à universidade pública, que responde por mais de 90% da produção científica do país.
“Embora seja minoritária em número de alunos, a universidade pública responde por mais de 90% da produção científica do país. No entanto, é essa instituição que tem sofrido ataques. E não só do governo, mas dos setores sociais que apoiam o governo, de modo que a instituição de maior relevo, mais produção do conhecimento, está deslegitimada por uma política de governo. Então, não há, na minha opinião, o que comemorar nesse Dia dos Professores”, afirma.
RECONHECIMENTO DOS ALUNOS
O professor Vitor Engrácia Valenti leciona na Unesp de Marília desde o final de 2011. Nos 12 anos de experiência, como professor e pesquisador, tem recebido com muito orgulho as atualizações de alunos que se formam, trabalham na área e que quando o encontram, agradecem pelo apoio e ensinamentos.
“Isso me deixa muito grato e muito contente. Eu particularmente administro oito disciplinas, tanto para os níveis de primeiro ano de faculdade, para nível de mestrado, doutorado e supervisão no pós-doutorado. Trabalho bastante com pesquisa e é muito bom e um motivo de alegria quando recebo palavras de reconhecimento e agradecimento destes alunos e também dos pais que conversam com a gente”, diz Valenti.
Ele também destacou o quanto é gratificante quando encontra algum aluno que se formou e que está trabalhando dentro ou fora da área, mas que está alcançando o sucesso profissional.
“Quando nós vemos que eles têm sucesso, percebemos que aquilo que eles aprenderam no contato com a gente os ajudou. É algo que me deixa muito feliz”, explica o professor.
Ele revelou que os maiores desafios dos professores são pela falta de investimento em ensino, pesquisa, ciência e tecnologia. Valenti citou a Coreia do Sul como exemplo para o Brasil no investimento da área.
“No Brasil isso é algo que sofre bastante. A gente sabe que quando se investe em educação, pesquisa e tecnologia, esse investimento vai ter uma repercussão. Uma solução positiva que pode demorar talvez 10 ou 20 anos, mas é um investimento que vale muito a pena. Um exemplo disso é a Coreia do Sul, que no começo do século passado era um país consideravelmente mais pobre do que o Brasil, que tinha menos recursos financeiros. Agora, devido ao investimento na área, é um dos países mais ricos do mundo”, diz Valenti.