Emdurb tenta criar imagem positiva de radares, mas dados são inconclusivos
A implantação dos radares em Marília causou, desde o início, fortes críticas entre a população. Embora a intenção por trás da medida seja, em teoria, a de reduzir acidentes – principalmente com vítimas fatais – e promover um trânsito mais seguro, a falta de informações claras por parte da Empresa Municipal de Mobilidade Urbana de Marília (Emdurb) causa ainda mais desconfiança e abre margem para interpretações subjetivas sobre a questão, causando uma polarização pouco saudável quando se trata de um assunto objetivo e que deveria ser baseado em dados concretos.
Nesta semana, a Prefeitura de Marília divulgou informações fornecidas pela Emdurb que fazem uma suposta ligação direta entre a queda no número de mortes em acidentes de trânsito, através de um comparativo entre os meses de maio e agosto – período de funcionamento dos radares -, dos anos de 2022 e 2023. De acordo com o informativo, publicado no portal oficial do município, os óbitos caíram de 5 para 3.
Os dados foram retirados do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga). O problema reside na forma seletiva em que a administração municipal escolheu divulgar números específicos que se encaixem em sua agenda, propiciando um ambiente imparcial e apto para a polarização da discussão. Vale ressaltar que pessoas contrárias aos radares tratam a questão do mesmo jeito nas redes sociais, mas com dados que favorecem suas próprias narrativas.
Em rápida consulta feita pela reportagem do Marília Notícia, é possível, por exemplo, analisar o número de mortes de anos anteriores e perceber que não houve uma redução significativa, como afirmou o Executivo.
Utilizando o mesmo período escolhido pela Emdurb para comparação (maio a agosto), em 2018, foram registradas também três mortes nas vias de responsabilidade do município. Em 2019, foram seis. Já em 2020, somente dois óbitos. Em 2021, a cidade teve três perdas. Ano passado, em 2022, foram constatadas as cinco mortes divulgadas pela empresa pública, e neste ano, em 2023, foram três óbitos.
Ou seja, não é possível dizer que os radares tiveram qualquer influência nem que não sejam de fato eficazes. Segundo especialistas ouvidos pelo MN, não há tempo suficiente para que uma comparação efetiva seja realizada.
Outros dados que não foram abordados no levantamento realizado pela Emdurb dizem respeito ao número de acidentes, sem vítimas fatais, em vias urbanas. Em 2022, de janeiro a agosto, foram 116,7 mil casos constatados. Se considerar o período de maio a agosto, são 62,5 mil. Em 2023, do começo do ano até agosto, foram 127 mil acidentes. Já entre maio e agosto, foram 69,4 mil. Em ambos os casos, houve aumento de registros.
ESTUDOS TÉCNICOS
Ponto primordial da discussão dos radares em Marília é o estudo técnico que, segundo a Emdurb, foi realizado para determinar a melhor localização para cada um dos equipamentos. O levantamento, na verdade, apesar de cobrado por parte da população, nunca foi disponibilizado para análise pública.
Uma parte da crítica contra os radares é justamente entender quais são os critérios para cada ponto escolhido, gerando ainda mais desequilíbrio nas discussões. Até o momento, a Prefeitura, inerte nessa questão, não fez o suficiente para dissipar as dúvidas.
MULTAS
Números publicados sobre as multas aplicadas desde o início do funcionamento dos radares também acabam ficando vazios, quando não são permeados por outras informações.
De acordo com a Emdurb, o primeiro mês completo, de 1º a 30 de agosto, foram 16.816 autuações. Em junho, o número caiu para 13.929. Uma parcial de agosto mostra que foram pouco mais de 7 mil multas nos primeiros 20 dias do mês.
No rodapé da imagem, é possível identificar quais seriam as vias com maiores números de infrações. As avenidas Sampaio Vidal, Castro Alves, Santo Antônio, Rio Branco e Sanches Cibantos lideram a lista.
Não há, porém, a separação por tipos de infrações. Cada uma apresenta um valor de multa, como por exemplo os excessos de velocidades, que podem ser classificados através das porcentagens superadas. Avançar sinal vermelho e parar sobre a faixa de pedestres também são condutas que podem ser identificadas pelos radares.
A arrecadação, ponto importante do assunto, também não foi divulgada em nenhum momento.
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