Primeira apreensão da droga K4 em Marília preocupa autoridades: ‘fica parecendo zumbi’
A Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) fez sua primeira apreensão da substância conhecida como K4, na última quarta-feira (19), no bairro Palmital, zona Norte de Marília.
Produzido artificialmente em laboratórios clandestinos e com fabricação artesanal, o entorpecente provoca efeitos similares aos da maconha, porém, segundo especialistas, cerca de cem vezes pior.
A descoberta da droga sintética demonstra que o tráfico procura maneiras diferentes de enganar as autoridades, burlar a fiscalização e, com isso, conseguir meios de infiltrar-se nas penitenciárias. Por esse motivo, o formato de selo – bastante discreto – utilizado na droga pode ser considerado uma inovação.
Diante do caso inédito na cidade, que envolve um ilícito cuja procedência ainda é pouco conhecida, o Marília Notícia procurou o delegado titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), João Carlos Domingues, para uma entrevista sobre a apreensão.
VALOR ELEVADO
O delegado João Carlos Domingues afirma que a informação de que a droga poderia estar circulando pela cidade já era de conhecimento da especializada. Ainda de acordo com Domingues, como a substância se parece com uma folha de cartolina, que é posteriormente cortada em “quadradinhos”, pode passar facilmente despercebida.
“A gente sabia que ela estava rodando por aí. Já tivemos algumas apreensões em presídios, mas nunca tínhamos encontrado fora deste contexto. Ela tem uma facilidade maior para esconder. Se você não souber do que se trata, não vai dar a importância que ela realmente tem. Estamos preocupados e vamos seguir investigando”, diz o delegado.
O responsável pela Dise destaca não se tratar de uma droga nova, mas de um entorpecente que já está presente nas grandes cidades. Por conta de seu elevado valor de venda por porção, o delegado acredita que não deva ser encontrado nas “biqueiras” de Marília.
“Em biqueira nunca pegamos. Acredito que não compensa vender pelo valor. Uma porção dessa, que é um quadradinho, a pessoa paga uns R$ 35,00 dentro do presídio. Por enquanto, por causa do preço, pessoas de um nível social mais elevado estão usando. Elas tendem a se expor menos”, analisa Domingues.
‘PARECE ZUMBI’
Comercializada em formato de selos, a droga pode ser dissolvida, fumada ou até ingerida como chá quente. Independente da forma de utilização, os efeitos sobre a saúde do usuário podem ser preocupantes.
A substância pode provocar alucinações, pesadelos, sudorese excessiva, náuseas, dores de cabeça, insônia, dificuldades de memória e de concentração, bem como transtornos emocionais e psíquicos.
Além de causar dependência química, drogas como a K4 afetam importantes funções cerebrais. Por isso, o usuário corre o risco de desenvolver depressão, ansiedade e síndrome do pânico.
“Algumas cidades já apreenderam essa droga. Acredito que ela esteja sendo mais divulgada agora. A pessoa fica parecendo um zumbi. Percebemos que hoje em dia os traficantes estão organizando, a cada dia que passa, um novo formato de tráfico”, afirma o delegado.
EXAMES
Para constatação do entorpecente, policiais da Dise levaram uma amostra até o Instituto de Criminalística (IC) de Bauru. Em breve, o IC de Marília também deve contar com o reagente para comprovação deste tipo de droga.
“É um exame mais apurado, que foi feito em Bauru, mas logo será feito também aqui em Marília. Se a gente não tivesse levado lá para a constatação, a suspeita seria liberada. Não podíamos perder essa oportunidade”, finaliza o delegado da Dise.
Até o dia 8 de julho deste ano, segundo dados da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde de Marília, a cidade teve, desde o início de 2023, 298 casos de intoxicação exógena. Alguns desses casos podem estar associados ao uso de entorpecentes. Uma pessoa morreu na cidade neste ano por este tipo de intoxicação.
APREENSÃO EM MARÍLIA
Uma mulher de 58 anos foi presa na quarta-feira (19), com mais de 1.200 porções da droga sintética ‘K4’.
Também encontrada com os nomes de K9, K2 e spice, o grupo de entorpecentes é conhecido por causar dependência.
Conforme informações da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), a suspeita já vinha sendo monitorada pelas equipes de investigação.