Com ‘O pai da matéria’, Osmar Santos
Quase 40 anos atrás, em abril de 1984, ele vestia uma camiseta amarela e entoava com a sua emoção a narrativa pelo voto direto para presidente da República. Não estava sozinho. No último comício das Diretas Já!, movimento que marcou a redemocratização do Brasil, o pai da matéria, Osmar Santos apresentava para um milhão e meio de pessoas aquele antológico ato histórico em 16 de abril de 1984. Foi a última e maior manifestação popular que pedia o sepultamento de uma manobra ocorrida quase 20 anos antes e que havia deposto um presidente civil. A manobra impôs a junta militar para responder pelo comando da nação.
Terça-feira passada, dia 18, com o seu panamá e sorrindo, da mesma forma que sorria ao aparecer na televisão – seja para narrar uma Copa do Mundo, uma Olimpíada ou para apresentar o gameshow “Guerra dos Sexos”, na rede Globo – o “Pai da Matéria;’ estava em sua Marília, a “Marilinha” que tanto enaltecia nas transmissões de futebol.
Sentado em sua cadeira de rodas elétrica, um dos maiores locutores esportivos de todos os tempos – que influenciou ao menos duas gerações de radialistas e comunicadores – Osmar brilhava no vernissage da mostra “Osmar Santos – O Pai da Matéria”, organizada pela Secretaria Municipal da Cultura e Prefeitura na Galeria de Artes.
Quem desejar conhecer as artes plásticas produzidas por Osmar tem até o dia 29 de abril, a entrada é franca.
A Galeria Municipal de Artes funciona no piso térreo do Complexo Cultural Braz Alécio, antiga biblioteca de Marília. Sua obra, inclusive, está à venda. As séries de telas trazem cores vibrantes e ao menos duas sequências de quadros integram esta exposição.
Talvez possam ter outras produções sequenciais na mostra, mas ao meu olhar de leigo nas artes plásticas pude identificar somente duas. Ainda assim, contei com o auxílio da artista plástica Sônia Lombardi, contemporânea de Braz Alécio, que possui mais de 50 anos de atividade cultural em Marília.
“Ramon, sou do tempo em que só se encontrava tintas em São Paulo”, me confidenciou dona Sônia. Ela relatou que quando começou a pintar, ainda na casa dos pais, precisava encomendar tintas específicas numa loja de São Paulo. Como o aparelho de telefone era objeto raro em qualquer residência, tinha que pedir para a vizinha telefonar à Capital.
Dona Sônia me mostrou quatro quadros de Osmar e disse: “veja, aqui ele retrata as quatro estações do ano: inverno, verão, outono e primavera. Isso porque pintou a mesma árvore em tons e cores diferentes”, disse. Na outra ala da mostra, a experiente artista me apontou outra série de Osmar, a que remete à releitura do girassol.
Releitura, acho, que faz parte da nossa própria existência. Nos lemos de um jeito de dia, e horas mais tarde, à noite refazemos a interpretação. Tive um tio artista plástico, o Trajano Neto, um exímio escultor. Ele me mostrava suas peças entalhadas e dizia sempre assim: “construí aqui, reconstruí ali”.
Reconstruímos o Brasil com a redemocratização, Osmar liderou o “mar de gente” no Anhangabaú de 16 de abril de 1984. Hoje o narrador-referência para todo profissional da Imprensa de Marília nos brinda com uma explosão de cores, de alegria e de muitos sorrisos. Valeu garotinho! E, como dizia: “ripa-na-chulipa” e “pimba-na-gorduchinha”!
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Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’ (La Musetta Editoriais), ‘A próxima Colombina’ (Carlini & Caniato), ‘Contos do japim’ (Carlini & Caniato), ‘Vargas, um legado político’ (Carlini & Caniato), ‘Laurinda Frade, receitas da vida’ (Poiesis Editora) e das HQs ‘Radius’ (LM Comics), ‘Os canônicos’ (LM Comics) e ‘Onde nasce a Luz’ (Unimar – Universidade de Marília), ramonimprensa@gmail.com