Atendimento ruim na Saúde irrita e gera pressão em gestão
Com a promessa de atendimento de excelência e acolhimento humanizado, a nova gestão terceirizada do Pronto Atendimento (PA) da zona Sul de Marília não tem funcionado de maneira satisfatória. Após menos de dois meses do novo comando, a realidade é diferente, o que tem irritado a população e causado problemas inclusive para os funcionários que trabalham no local.
A demora no atendimento tem sido a principal reclamação da população, que tem enfrentado um longo período de espera para ser recebida pelos profissionais. O Marília Notícia foi até o local e ouviu as queixas de pacientes e funcionários.
Jéssica Silva, de 24 anos, diz que procurou o PA Sul porque a filha, de cinco anos, estava com 40 graus de febre. Ela reclama que o tempo médio de espera na fila para atendimento médico aumentou muito desde que a Associação Beneficente Hospital Universitário (ABHU) assumiu o comando da unidade no início de fevereiro.
“Eu vim aqui por causa da minha filha. Acho que ela está com dengue. Desde ontem de manhã está com febre alta e mandaram ir na Unidade Básica de Saúde (UBS), mas só depois das 16h. Aqui o atendimento é por senha, mas como teve um descaso ontem [anteontem] e quebraram o aparelho, hoje está um rolo. Ninguém sabe quando é chamado, se é chamado, se tem fila ou se não tem. Está essa confusão”, afirma.
A usuária da unidade do sistema de saúde conta que algumas pessoas aguardavam há mais de 4h por atendimento médico. Teriam passado apenas pela triagem.
“Tem muita gente aqui hoje. Tem paciente com o pé quebrado, tem pessoas vomitando, gente com Covid-19 e todos misturados. Não estão separando ninguém. Isso aqui está um descaso total. Depois que mudou o comando do PA, isso ficou péssimo. Antes era bem melhor. Eu estou gestante e nem poderia estar aqui, mas tive que trazer minha filha”, diz.
Outra paciente – que prefere não ter o nome revelado – lembra que foi atendida na semana passada, com bastante tosse, recebeu a receita de medicamentos, mas não melhorou. Agora, ela diz que precisou procurar novamente o PA da zona Sul e também reclama da demora no atendimento.
“Isso aqui está horrível. Ninguém está nem aí para ninguém. Não é a primeira vez que passamos por isso. O negócio está feio. Antes era melhor. Até na época do Covid-19 eles davam conta, separavam e atendiam todo mundo. Não era desse jeito. Hoje em dia, em qualquer dia ou hora, o paciente fica quatro ou cinco horas. O povo tem que fazer ‘vexame’ para ser atendido”, lamenta a paciente.
A mulher conta que outra usuária do serviço, pouco antes da chegada da equipe do MN, teria dito que quebraria a porta se a filha não fosse atendida. Em pouco tempo, a garota foi chamada pelos médicos e liberada.
“Parece que esperam que a gente perca cabeça e faça algo para ter o atendimento. Eu vim aqui semana passada, com uma tosse muito forte e catarro. Não estão nem aí para o nosso sofrimento”, relata.
Outra paciente, que também não quis se identificar, contou que há muitos anos não precisava de atendimento no PA da zona Sul. Contudo, teve que levar a filha de sete anos para passar por consulta e estava assustada com a realidade encontrada.
“Fazia tempo que eu não vinha aqui, não era desse jeito. Não sabia que estava assim aqui no PA da zona Sul”, critica.
FUNCIONÁRIOS
A demora tem gerado grande irritação e insatisfação dos pacientes. Além disso, os funcionários também têm sido afetados pela situação. Com a sobrecarga de trabalho, muitos profissionais estão pedindo para deixar o local.
“Eu não estou mais aguentando trabalhar aqui. Estou ficando até doente. Faz pouco tempo que vim para cá, mas já vi que é muito difícil”, afirma um trabalhador via aplicativo de mensagens que prefere não se identificar.
OUTRO LADO
O Marília Notícia entrou em contato com a assessoria de imprensa da ABHU, para questionar sobre a demora nos atendimentos, insatisfação dos usuários e esgotamento dos funcionários.
Em nota, a assessoria da ABHU assume que a UPA da zona Norte e o PA da zona Sul estão com superlotação, principalmente, nos casos pediátricos.
“Muitos pacientes estão ficando por alguns dias internados nesses pronto-atendimentos, com diagnósticos de bronquiolite, broncopneumonia, descompensação de asma, que necessitam de uso de oxigênio suplementar e medicações endovenosas“, afirma a nota.
Diante do quadro, segundo a nota oficial, a direção das unidades orienta os pais ou responsáveis para que os pacientes com quadros leves devam ficar em observação em casa ou procurar a rede de atenção básica, como as Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
“Sintomas leves como coriza, espirros, tosse, febre, associado à diarreia e vômitos, com início de poucas horas, devem realizar medidas com medicações prescritas pelo médico da UBS. Sintomas de falta de ar (dispneia), febre há mais de três dias, diarreia e vômitos persistentes e com gravidade devem procurar a UPA ou PA Sul”, diz a nota.
A ABHU também afirmou que a espera está mais alta para os pacientes classificados como “azul”, que são de menor prioridade e que deveriam estar em atendimento nas Unidades Básicas de Saúde.
O Marília Notícia também entrou em contato com a Prefeitura de Marília, responsável por contratar a ABHU para gestão dos serviços de saúde, mas até o fechamento desta reportagem ainda não havia obtido retorno.