Na agonia da espera…
Quando completei 43 anos, minha mãe – logo ao me telefonar pela manhã e dar os parabéns – repetiu a pergunta que desde a minha infância ouço com muito carinho e afeto: ‘Filho, o que você quer de presente?’. E, desde os meus 17 anos, respondo com o mesmo entusiasmo de uma criança de cinco: ‘Livro!’.
Todo mundo da minha família já sabe: os presentes que mais me agradam e completam são os livros.
Como minha mãe vive em outra cidade, ela sugeriu, então, que eu escolhesse um livro e lhe falasse o valor. Por aquelas semanas estava paquerando um livro que reúne os diários de reflexão de Karol Wojtyla, o cardeal polonês e arcebispo da Cracóvia que em 1978 foi eleito papa João Paulo II.
‘Estou nas mãos de Deus’ – este é o título – é uma confissão da fé e do amor com os quais ‘João de Deus’ – como foi chamado por nós brasileiros na década de 1980 ao visitar o Brasil – se dedicou à Igreja Católica. João Paulo II foi o primeiro pontífice a visitar o Brasil, em 30 de junho de 1980, e ao chegar na Pátria do Cruzeiro do Sul, ajoelhou-se e beijou o chão. Lembro que nos anos de 1980 essa imagem era reprisada com muita frequência na televisão, principalmente em programas jornalísticos.
Recordo que no ano de 2005, à espera do meu primeiro filho, Guilherme Miguel, João Paulo II adoeceu gravemente e começaram os rumores de seu quadro irreversível. Até que em 2 de abril daquele ano os sinos das igrejas católicas de Marília tocaram, era perto da hora do almoço e fiquei meio sem entender o que estaria acontecendo. Ao chegar em casa, vejo no telejornal a notícia da morte de Karol Wojtyla.
O Vaticano iniciaria nos dias seguintes a escolha do novo papa e o mundo entraria na agonia da espera. Trancados na capela da Sistina, na Cidade do Vaticano, os cardeais realizaram o conclave. A fumaça da chaminé – única forma de comunicação com o mundo exterior – só saía escura. Se saísse branca, novo papa teria sido eleito.
E certo dia, a fumaça branca apareceu e Bento XVI assumiu o trono de São Pedro. Anos depois, Joseph Ratzinger surpreenderia o mundo com a renúncia e em 13 de março de 2013, o argentino Jorge Bergoglio se apresentava como Papa Francisco.
Dez anos se passaram desde então. Quando estive no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, toquei na oliveira milenar que estava lá na noite da profunda agonia do Cristo. Ali, naquele lugar, Jesus suportou a espera pelo pior que viria: a tortura física, a humilhação, a dor e a derradeira cruz. A pedra onde ele suou sangue ajoelhado e pedindo para que o cálice de sangue fosse afastado de sua sina também lá está. São bases essências da fé cristã e provas vivas da infinita força do nosso Salvador.
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Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’ (La Musetta Editoriais), ‘A próxima Colombina’ (Carlini & Caniato), ‘Contos do japim’ (Carlini & Caniato), ‘Vargas, um legado político’ (Carlini & Caniato), ‘Laurinda Frade, receitas da vida’ (Poiesis Editora) e das HQs ‘Radius’ (LM Comics), ‘Os canônicos’ (LM Comics) e ‘Onde nasce a Luz’ (Unimar – Universidade de Marília), ramonimprensa@gmail.com