Das ruas de Jerusalém
A primeira vez que as ruas de uma outra cidade que não fosse a minha cidade natal me chamaram a atenção a ponto de querer escrever algo literário ou poético, foi em Balneário Camboriú, no litoral catarinense. Tinha 14 anos e encerrava o primeiro grande ciclo de estudos iniciados na pré-escola, a Educação Infantil, 11 anos atrás. Na minha época não havia 9º ano e, sendo assim, terminávamos o Ensino Fundamental na 8ª série.
Como a minha turma, a 8ª-A do Grupão, EEPG Cel Antônio Nogueira, de Paraguaçu Paulista, descartou a formatura solene, organizamos uma excursão para Santa Catarina. Até hoje mantenho contato com os amigos e as amigas daquela série, que concluímos juntos no ano de 1993. Pena que tivemos algumas perdas… Ao menos dois amigos já nos deixaram: o Samuel e a Fátima. A Fátima não viajou com a gente, mas o Samuca sim. Já escrevi sobre ele em uma crônica, anos atrás, relembrando a interpretação antológica que ele fez do cantor Wando. Eu e o Samuel militamos no teatro amador de Paraguaçu Paulista, no Interact Club de Paraguaçu e também na juventude católica.
Naquele ano, de 1993, embarcamos com os nossos professores para o litoral de um outro Estado e a viagem foi inesquecível. Lembro da Casa da Pedra, do Ítalo não nos deixando dormir porque o São Paulo estava enfrentando o Milan na final do Mundial de Interclubes, da Leila jogando garrafa d’água na gente, do Renatinho roncando, da chegada à praia da Joaquina no passeio a Florianópolis e até mesmo do Rodrigo Rio achando – acreditem – uma pulseira no meio das enormes dunas!
Depois dessa viagem, passei a reparar melhor nas ruas das cidades que visitei. Ocorreu muito quando trabalhei por quase um ano em São Paulo, prestando serviços para uma multinacional de celulose. Caminhava pela avenida Paulista, observava o entorno, e, depois, escrevia algo que me ocorria. Também escrevi muito sobre Marília nos meus primeiros anos por aqui. Tinha e tenho muita inspiração quando caminho pela Sampaio Vidal, pelo centro passando pela rua Quatro de Abril e descendo a Nove de Julho no sentido do terminal urbano.
Aquele quadrilátero dos primeiros prédios do centro mexe muito com o meu pensamento literário. Na Dom Pedro, por exemplo, tem o primeiro sobrado da cidade e ali já foi cena de um conto meu, ‘Era de cubano’, que ficou em 3º lugar no Concurso Nacional de Contos ‘Prêmio Prefeitura de Niterói’ de 2007. Ao passar pelo Rio de Janeiro e por Niterói, então, parecia que estava ora numa novela das nove da Globo – principalmente às escritas por Manoel Carlos – ora estava nas páginas de um livro de história do Brasil. Em Cuiabá e em Campo Grande me deparei da mesma forma, como se estivesse folheando as passagens da construção da identidade nacional.
Quando em outubro e novembro estive por Jerusalém, a capital de Israel, me senti muito envolvido com aquela tonalidade de suas ruas antigas. Na cidade Velha de Jerusalém, em suas ruas estreitas, incluindo a Via Crucis por onde Nosso Senhor Jesus Cristo carregou sua cruz, a vontade de detalhar em palavras escritas cada coisa que vi e senti foi intensa.
Por isso, comprei um caderninho, na mesma tonalidade das pedras israelenses e com uma menorah na capa. Das ruas de Jerusalém, que não saem mais das minhas lembranças, brotam emoções e relatos, que venho traduzindo em um novo romance que pretendo concluir em breve. Pensei que iria conseguir terminá-lo lá em Israel, mas a obra está ganhando novo fôlego e novos capítulos, feito a vida da gente, que a cada ciclo nos convida a lutar e a vencer de um modo diferente e autêntico.