Marília quer um Centro vivo
Por Luis Eduardo Diaz
Em muitos lugares do mundo, não apenas do nosso país ou de nossa cidade, os centros urbanos têm se tornado cada vez mais irrelevantes do ponto de vista do crescimento e investimento urbano. Tal tendência tem resultado em desvalorização e abandono rompantes, habitação subvalorizada e aumento da violência e fragilidade estrutural no miolo das cidades.
Não é diferente em Marília. Se no início Marília se desenvolveu a partir de sua estação ferroviária – assim como inúmeras cidades do interior paulista – a partir do abandono desta modalidade de transporte outras centralidades surgiram, e deste ponto em diante o crescimento urbano se deu em torno de suas vias automobilísticas, e o automóvel comanda a expansão urbana.
A partir da ocupação das pequenas chácaras que circundavam o centro, novos bairros foram criados, e muitos, sem infraestrutura adequada de transporte público. Muitas famílias que não possuem veículos são expulsas da opção de mobilidade adequada, e é comum que na periferia uma família sem carro é vista como uma família sem meios, uma família “pobre”. Não é natural que uma família que não possua automóvel seja uma família pobre, mas é natural em uma cidade que não provê transporte público adequado ela seja vista como privada de mobilidade.
Voltando à questão do centro, talvez possa se estimar que pelo menos 30% dos imóveis comerciais estejam vazios. Muitos destes imóveis, vazios por um longo período.
Experiências internacionais bem-sucedidas de recuperação de centros urbanos passam por investimentos públicos e privados feitos de forma coordenada e inteligente. Entre as diversas ações, incentivos tributários para que edifícios possam ser recuperados e vazios sejam preenchidos, mecanismos de reforma urbana aplicados para incentivar a ocupação de áreas subutilizadas, infraestrutura renovada de transporte público, investimento em paisagismo e melhoria da qualidade de vida no centro, além de incentivo à recuperação do patrimônio histórico. Pudemos rapidamente observar a valorização do entorno da Praça Maria Izabel a partir da sua recuperação, a mesma lógica deve se estender para o resto do centro urbano.
Ao mesmo tempo, o Poder Público neste momento estuda a construção de Centro Administrativo em área localizada no distrito de Lácio. Acredito que dada o estado da situação de abandono gradual do centro, com dezenas de negócios fechados, ausência de infraestrutura adequada e desemprego crescente, a ideia de investimentos na reforma e readequação de áreas públicas já existentes nas proximidades da prefeitura é muito mais interessante. Por exemplo, as áreas anteriormente destinadas à Polícia Civil na rua Gonçalves Dias, o antigo Fórum, e demais áreas contínuas poderiam abrigar área adequada para uma nova Câmara de Vereadores e inúmeras outras áreas administrativas, focando na recuperação destes vazios e trazendo vida local.
Pensemos em apostar no que já temos, e deixar o novo para o novo entrar.
Luis Eduardo Diaz é empresário e arquiteto e urbanista.