‘Blonde’ e a narrativa ficcional do que poderia ter ocorrido com Marilyn
Recentemente conferi o filme ‘Blonde’, inspirado na homônima biografia romanceada do símbolo sexual Marilyn Monroe. A biografia, escrita pela competente escritora e professora universitária Joyce Carol Oates, sempre esteve entre os livros que inspiraram debate.
Joyce Carol Oates, que leciona escrita criativa há mais tempo do que eu tenho de vida, ficcionou o enredo biográfico de Norma Jeane Mortenson, estonteante loira esguia, nascida em 1926 e que com seus 1.68 de altura e pouco mais de 50 quilos deixou o mundo atônito.
A atriz cubana Ana de Armas, que vive Marilyn Monroe no filme dirigido por Andrew Dominik, consegue realmente convencer o telespectador de que aquelas cenas formam um registro real da vida da atriz mais desejada da era de ouro de Hollywood.
A era de ouro da capital do cinema mundial compreende as décadas de 1920 a 1960. Para alguns críticos, os anos dourados dos estúdios norte-americanos terminariam a partir do suspense ‘Psicose’, dirigido pelo mestre da arte de assustar os outros, Alfred Hitchcock (1899-1980).
Certa vez, quando me perguntaram quais eram os quatro maiores cineastas de todos os tempos, não tive dúvida e elenquei: Alfred Hitchcock, John Ford (1894-19730), Clint Eastwood (1930) e o brasileiro Amácio Mazzaropi (1912-1981). Mas este é assunto para uma outra crônica.
Cito aqui as quatro manilhas do jogo do truco da sétima arte para que possamos compreender o que há de singular em ‘Blonde’: uma resposta para saciar a nossa intensa curiosidade sobre a vida de Monroe.
Os quatro cineastas souberam – ainda que Eastwood nonagenário continue produzindo filmes e ‘Cry Macho’ de 2021 foi sua última obra – narrar suas histórias respeitando seu contexto e dialogando com a essência de seu público.
Mazzaropi levou às telas as indignações do caipira que resiste ao progresso que, aos pouquinhos, vai devastando o seu mundo. Hitchcock, por sua vez, nunca mais nos deu sossego ao ligar um chuveiro. Certamente, depois de ‘Psicose’, muita gente conferiu se a porta estava bem trancada antes de tomar aquela ducha relaxante.
Ford mostrou que nossos heróis, às vezes, tomam atitudes precipitadas e, depois, precisam mostrar força para não sucumbirem às consequências que causaram. Em ‘Blonde’ assistimos – ainda que ficcionada em muitas partes – o lado B de uma estrela, ficando assim bem perto daquele famoso ditado que muito se ouve em nossa região: Ah, ‘vocês só veem as pingas que tomo, mas os tombos que levo ninguém vê!’.
O longa sobre Marilyn Monroe tem linguagem contemporânea, adota uma estética moderna e desencadeia cenas poéticas, com imersões reflexivas. Boa sessão de cinema, principalmente para quem admira a sétima arte.