Profissionais da UPA fazem duras críticas e cobram melhorias
Em carta aberta divulgada nesta terça-feira (30), os médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da zona Norte de Marília denunciaram uma série irregularidades, que vão desde problemas na infraestrutura à falta de equipamentos e profissionais. Os trabalhadores da área da saúde cobram providências da Associação Beneficente Hospital Universitário (ABHU), responsável pela gestão do serviço.
“A presente manifestação possui como objetivo evidenciar as condições alarmantes e insuficientes às quais os profissionais médicos da UPA zona Norte estão submetidos. Consoante se verá adiante, existem sensíveis e flagrantes problemas de infraestrutura, segurança, recursos humanos, remuneração e gestão que não podem ser tolerados”, diz a abertura da carta.
Segundo o documento, também endereçado à população, as irregularidades atingem diretamente os atendimentos prestados aos pacientes. A quebra do aparelho de raio-X, que estaria sem funcionar há cerca de 45 dias, é um exemplo citado.
Com relação à precária infraestrutura da unidade, os profissionais denunciam a existência de rachaduras nas pareces, fios expostos, goteiras, mofo e bolor com mau cheiro. “Tais condições são incompatíveis com as características esperadas de um ambiente hospitalar humanizado que, a rigor, deveria ser arejado, limpo, higiênico, estéril e confortável.”
SEGURANÇA
Os profissionais também reclamam da falta de segurança, já que há apenas vigilância não armada na parte da noite. “Assevera-se que a pretensa proteção é insuficiente, como provam os inúmeros casos já registrados de ameaças (inclusive de morte), agressões físicas, xingamentos e constrangimentos”, diz outro trecho da carta.
A carta lembra o caso em que um enfermeiro foi atacado por uma paciente com um canivete.
FALTA DE PROFISSIONAIS
Outro problema levantado é a falta de profissionais: “(…)o número de profissionais contratados para a realização das escalas é insuficiente para a demanda existente. Os pacientes são submetidos a horas de espera (…). Naturalmente, a pressão por celeridade coloca em risco a qualidade dos atendimentos”, diz trecho da carta.
Os médicos reclamam ainda da falta de correção nos valores pagos pela hora trabalhada, desde a abertura da UPA, há seis anos – com uma inflação de 38,68% acumulada no período. “Apenas profissionais pediatras tiveram alguma majoração, em razão do completo desinteresse da classe em trabalhar sob as condições narradas”, pontua o documento.
DIREÇÃO CLÍNICA E ADMINISTRATIVA
A carta faz críticas às administrações clínica e administrativa da unidade. Alega que os profissionais sentem-se tratados com desrespeito e descaso, e que são ameaçados de desligamento caso não aceitem assumir mais horários na escala. Os médicos defendem que a direção clínica seja comandada por um profissional com conhecimento técnico.
O documento não é assinado por nenhum profissional especificamente, por medo de retaliações, mas a reportagem do Marília Notícia confirmou a veracidade das denúncias com diversos trabalhadores da UPA.
REQUERIMENTOS
No final da carta, os profissionais listam as melhorias requeridas. São elas:
- imediata correção dos problemas estruturais apresentados, de ordem física (paredes, rachaduras, mofo), técnica (equipamentos) e sistêmica (prontuário eletrônico);
- contratação de mais profissionais de segurança, inclusive para o período matutino e vespertino;
- contratação de mais profissionais médicos, a fim de atender a alta demanda existe;
- majoração da remuneração dos profissionais médicos para 130/h em dias de semana e 140/h nos finais de semana, inclusive com a padronização entre as diferentes áreas de atendimento;
- remuneração adicional pela função de preceptores (dos alunos que fazem estágio na unidade);
- substituição do diretor-administrativo da unidade;
- contratação imediata de um diretor-técnico com especialização médica, com conhecimento profundo em saúde pública primária e secundária, mínimo de cinco anos de experiência em atendimento de urgência e emergência.
Leia a íntegra da carta, clique aqui.
RELATO DE UM PROFISSIONAL DE SAÚDE
Ao Marília Notícia, um profissional de saúde confirmou que as condições precárias de trabalho na UPA da zona Norte. Para evitar represálias, o profissional prefere não ter o nome divulgado.
“Está uma condição inadmissível de trabalho. Temos furos na escala, pois muitos médicos antigos entregaram seus plantões. Volume cada dia maior de pacientes, poucos médicos, raio-x quebrado há mais de 45 dias. Teve dia de estarmos sem sistema, sem internet, sem raio-x e sem exames laboratoriais. Faz o quê com o paciente? Benze e manda embora, né? Pacientes ficam nervosos (com razão), nos atacam verbalmente e até mesmo fisicamente. Quando chove, atendemos embaixo de goteiras. O repouso chove dentro, colchões molhados, quarto inundado. Enfim, degradante”, disse ao MN.
OUTRO LADO
Em nota, a Prefeitura de Marília informou que os esclarecimentos com relação aos problemas apontados devem ser feitos pela ABHU, que é a responsável pela gestão da UPA Norte.
Questionada pelo MN, a Associação Beneficente Hospital Universitário (ABHU) afirmou que as últimas pesquisas colhidas junto à população que utiliza os serviços da UPA ultrapassam 90% de satisfação e que “as direções da ABHU e da UPA são compostas por pessoas públicas que se tornaram referência nas discussões e decisões da saúde pública do município.”
“Causa-nos estranhamento o surgimento de uma ‘carta aberta’ de autores desconhecidos justamente no momento em que a ABHU participa do processo licitatório para um novo período de administração da unidade, trazendo a impressão de possíveis interesses escusos e de terceiros no resultado do chamamento público”, diz trecho da nota.
Sobre as reivindicações:
“Com relação às citações tidas na carta como reivindicações, informamos que a UPA zona norte faz parte de um contrato de gestão em que a ABHU atende a integralidade do plano de trabalho no que diz respeito:
- prédio público em que a ABHU executa, de forma contínua, manutenções corretivas;
- não prevê profissionais de segurança, porém a ABHU, por liberalidade e pensando no bem-estar dos seus colaboradores, disponibiliza no período noturno;
- atende a escala de médicos necessária para o número de atendimentos;
- a hora plantão faz parte de um plano de trabalho pactuado com o município, através de chamamento público e o valor praticado na UPA é maior do que em outras unidades;
- o contrato de trabalho dos profissionais médicos já inclui a preceptoria, tendo em vista que a entidade é um hospital de ensino;
- é de conhecimento público que instalamos um processo de recrutamento para o cargo de diretor-técnico, o qual já está em processo de contratação.
Reiteramos nosso compromisso com a saúde pública do município e continuamos à disposição de profissionais que, de fato, querem colaborador com o bom atendimento da população mariliense”, finaliza a nota.