Religiosos dividem opiniões, mas pregam tolerância
A religião tem tomado conta dos debates políticos. O tema nunca esteve tão presente na pauta eleitoral e gera discussões acaloradas. Para entender um pouco mais sobre a atual situação na cidade, o Marília Notícia entrou em contato com diferentes vertentes religiosas, para saber o posicionamento de cada uma delas e como devem se comportar durante o pleito presidencial.
A Igreja Católica se posicionou oficialmente sobre as eleições deste ano, por meio de uma mensagem oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que contou com a participação do bispo de Marília, Luiz Antônio Cipolini.
O texto afirma que a lógica do confronto ameaça o estado democrático de direito e suas instituições, transforma adversários em inimigos, desmonta conquistas e direitos consolidados, fomenta o ódio nas redes sociais, deteriora o tecido social e desvia o foco dos desafios fundamentais a serem enfrentados.
Duas ameaças são pontuadas na mensagem da CNBB. Uma delas é a manipulação religiosa, protagonizada tanto por alguns políticos como por alguns religiosos, colocando em prática um projeto de poder sem afinidade com os valores do Evangelho de Jesus Cristo. A nota diz que a autonomia e independência do poder civil em relação ao religioso são valores adquiridos e reconhecidos pela Igreja e fazem parte do patrimônio da civilização ocidental.
A segunda é a disseminação das fake news, que através da mentira e do ódio, falseia a realidade. Segundo o manifesto, carregando em si o perigoso potencial de manipular consciências, notícias falsas modificam a vontade popular, afrontam a democracia e viabilizam, fraudulentamente, projetos orquestrados de poder.
DIVISÃO
Em Marília, entre os religiosos, existe uma divisão. Parte deles tem visão mais progressista, de defesa das ideias de centro e centro-esquerda, com tendência para votar nos candidatos Ciro Gomes (PDT e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Outro segmento, considerado mais conservador, está mais propenso ao voto no atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Assim como a sociedade brasileira, o clero mariliense também vive um momento de polarização.
Apesar da forte mensagem da CNBB, não existe uma orientação explícita para o voto, nem para os padres e nem para os fiéis. Existe apenas o pedido para participação nas eleições, votando com consciência e responsabilidade, escolhendo projetos representados por candidatos e candidatas comprometidos com a defesa integral da vida, defendendo-a em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte natural.
EVANGÉLICOS
Já as igrejas evangélicas seguem forte tendência de voto no atual presidente, Jair Bolsonaro. O Marília Notícia entrou em contato com um importante representante evangélico da cidade, que afirma ser conservador nas escolhas políticas, mas diz que isso não significava propriamente o voto automático em Bolsonaro. Ele, que prefere não se identificar, conta compartilhar de muitos posicionamentos, mas discordar de algumas ideias que não seriam de um estadista apropriado.
“Eu espero, de fato, que ele vença outra vez. Espero que seja uma eleição limpa e transparente, apesar de perceber que existe um jogo sujo que está sendo jogado por todos os lados. Vamos orar por quem vencer. Se for alguém que a gente goste e defenda a pauta da gente, melhor ainda. Se não for, vamos orar para que Deus tenha misericórdia”, afirma o pastor ouvido pelo MN.
O evangélico pontua que aproximadamente 85% dos cristãos defendem pautas conservadoras, mas isso não significa que sejam bolsonaristas. O pastor lamenta a polarização política atual no Brasil, o que, segundo ele, tem feito com que o brasileiro perca um pouco a própria natureza de agregar e tolerar quem pensa diferente.
MATRIZ AFRICANA
Representantes de religiões de matriz africana, como Umbanda e Candomblé, se mostram mais propensos ao voto no ex-presidente Lula. Uma fonte ouvida pelo MN afirma que a intolerância cresceu nos últimos anos, e a vertente religiosa vem sendo alvo constante de preconceito. Ela conta que chega a ter receio de usar roupas totalmente brancas, com medo de sofrer algum ataque.
“De um tempo para cá estamos sofrendo muito preconceito. Antigamente não era assim. Já precisei chamar a polícia várias vezes. Passam aqui e jogam bomba ou pedras. Não temos liberdade. Nossa religião tem que se manter escondida. Não posso falar pelos outros, mas eu voto no Lula, pois o Brasil tem muitas famílias carentes, precisando de ajuda. Acredito que ele vai cuidar dos mais pobres”, afirma a representante do Candomblé.
Outro representante confirma a postura de apoio aos candidatos de esquerda. Ele não cita nenhum nome, mas afirma que as religiões de matriz africana, por conta das perseguições e ataques sofridos, têm mais familiaridade com políticas de inclusão de esquerda, apesar de não ser uma unanimidade.
“Sentimos maior apoio dentro desse segmento, mas sem um partido específico. É mais por uma filosofia mesmo, devido às nossas origens, por causa da junção dos nossos povos e a negritude dentro da religião, onde se formou no Brasil o Candomblé e a Umbanda, que é genuinamente brasileira. Por isso, as escolhas são geralmente por ideias liberais ou ligadas à esquerda mesmo”, explica outra fonte.
O Marília Notícia também entrou em contato com representante do budismo em Marília. Ele afirma perceber uma divisão de pensamentos, assim como acontece atualmente na sociedade brasileira, mas prega o respeito, a convivência harmoniosa e a paz entre as pessoas.
“Até agora, percebo uma divisão grande. Está muito polarizado. Nunca sofri preconceito por ser budista, mas sei que no passado isso aconteceu. Sabemos que outras minorias sofrem discriminação e nos manifestamos solidários. Nós nos sensibilizamos com essa situação, pois acreditamos que é importante cultivar a diversidade religiosa, saber conviver com os diferentes e respeitar isso. O budismo tem como missão ensinar isso”, conclui o representante religioso.