Coldplay no Brasil: espetáculo de ‘retorno à vida’ pós-pandemia
Oito shows, mas mais do que isso. Oito shows em estádio, sendo um deles no Rock in Rio, e com ingressos esgotados. Apesar de não ter um último álbum tão feliz em hits quanto os anteriores – Music of the Spheres fez uma bagunça danada na cabeça dos fãs – o Coldplay se tornou uma máquina indiscutível. Eles representam a última criação do rock com potencial de encher estádios, ou muitos estádios em sequência, algo que nenhum outro grupo surgido depois de 1995 conseguiu fazer. Mas, ainda para além disso, criaram o “rock espetaculoso”, aquele que já vem com a ideia de estádio em seus detalhes. Assim que Music of the Spheres foi lançado, já era possível “vê-lo” no palco. Muitas luzes, explosões de afeto, refrões para serem cantados juntos, lágrimas e uma viagem espacial pós-covid desesperadoramente bela e esperançosa.
O Coldplay traz para o Brasil um espetáculo de retorno à vida, talvez o maior deles desde que isso se tornou possível. Music of the Spheres chega primeiro ao Rio, dias 11 (Rock in Rio) e 12 (Engenhão), e depois em 15, 16, 18, 19 e 21 de outubro, no Allianz Parque, em São Paulo. Uma residência que Paul McCartney adoraria fazer em uma de suas infindas passagens pelo país. E o Coldplay fará todas elas com a abertura da cantora de modern soul H.E.R., de 25 anos e mais de 11 milhões de ouvintes mensais O Coldplay pode ser visto em duas frentes: a visível e compartilhada de forma emocional e a invisível, mas pensada para ser tão espetacular quanto. A imprensa londrina já chama a turnê de Music of the Spheres como “a turnê mais ecológica da história”.
Se um show dessas dimensões pode ser energeticamente autossustentável, o quanto mais não poderia ser? Eis a provocação de Chris Martin e seus parceiros ao anunciar tal estrutura: boa parte da energia será gerada por bicicletas ergométricas, um gerador nos bastidores terá como fonte o óleo de cozinha vegetal, um piso cinético vai aproveitar a energia dos fãs, transformando-a em eletricidade, e o palco será feito de materiais renováveis. Haverá ainda painéis solares e outras energias extraídas de fontes renováveis para o reabastecimento das baterias. A promessa é reduzir as emissões de CO² em 50% em comparação com a turnê mundial feita entre 2016 e 2017.
Music of the Spheres, produzido por Max Martin, o cata do BTS e de Selena Gomez, soou viajante demais aos fãs ortodoxos, mas os concertos do Coldplay devem redimir parte do incompreensível. Conceitualmente, a música do espaço será levada às extremidades. Além de tudo o que seu espólio permite – Yellow, The Scientist, Viva la Vida, Paradise, Clocks, Hymn for the Weekend – as sonoridades suntuosas do novo álbum são inseridas como se já fizessem parte desta família. Alguns especialistas na banda dizem que Chris Martin chega a ser covarde ao ordenhar suas plateias de forma incessante, mas o fato é que algo realmente funciona. As pulseiras de LED, por exemplo, estarão lá de novo, distribuídas gratuitamente aos fãs para que a impressionantes do “céu cintilante na terra” volte a acontecer.
Um slogan de engajamento imediato será usado na camiseta de algum integrante do grupo, que diz “todo mundo é um alienígena em algum lugar” – o que pode ser lido como uma postura a favor das imigrações ilegais e dos refugiados. Ou não. O meio pode trazer outra mensagem mais forte depois de Martin cantar uma das músicas, Human Heart, com uma gigantesca marionete extraterrestre e de a banda tocar Something Just Like This usando cabeças alienígenas iluminadas. Depois de conquistar a terra, o Coldplay, mesmo dizendo que não deve mais compor um novo trabalho inédito, quer agora o una o universo.