Mariliense deixa de parcelar compras para evitar endividamento
Cresceu o número de famílias com dívidas a vencer em todo o país. A marca recorde já chega a 78% dos lares brasileiros. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Quem não entrou em dívida “aperta o cinto” para evitar gastos desnecessários, para não aumentar ainda mais a lista de endividados.
Em Marília a situação não é diferente e os relatos acompanham a tendência nacional. A dona de casa Fernanda Nunes deixou o emprego recentemente. A moradora da cidade trabalhava em uma padaria, e conta que não precisou se endividar para cortar gastos que classifica como “desnecessários”. Assim, já não vai mais tantas vezes ao shopping ou cinema, justamente, por causa dos custos.
“Não tem um lugar para ir que não seja pago. Tá complicado sair de casa. No momento não estou pagando nenhuma dívida, mas a gente pensa muito antes de assumir qualquer compromisso. Isso não significa que compramos as coisas à vista, mas sim que deixamos de comprar, com medo de parcelar, acontecer um imprevisto e não conseguir pagar. Deixamos de sair, de ir ao shopping ou outros lugares, pois está tudo muito caro”, afirma Fernanda.
As famílias com dívidas ou contas em atraso ficou em 29% no mês de julho, contra 28,5% em junho deste ano. Em julho do ano passado, o número era de 25,6%. Entre os endividados, 10,7% disseram não ter como pagar os compromissos assumidos.
O aumento do endividamento do brasileiro foi de 0,5 ponto percentual entre as mulheres e de 1 p.p. entre os homens, ficando em 80,6% e 77,5%. A pesquisa indica desaceleração no endividamento entre as mulheres nos últimos meses, mas mesmo assim, o aumento na comparação anual foi de 8,3%, enquanto entre os homens subiu 6,3%.
RENDA CRESCE MENOS QUE A INFLAÇÃO
Segundo outra pesquisa, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a renda das famílias cresce menos que a inflação e isso provoca um endividamento para as famílias em patamares recordes.
O levantamento apontou que 19% dos entrevistados deixam alguma conta para pagar no mês seguinte, 3% recorrem a ajuda ou empréstimos para quitar os débitos, 2% precisam entrar no cheque especial e 1% paga o mínimo da fatura do cartão e deixa o saldo para depois.
A pesquisa revela que a maioria ainda consegue encerrar o mês com as contas em dia, mas 44% relatam que quase sempre ficam apertados, sem conseguir economizar nada, e apenas 29% dos entrevistados afirmam chegar ao fim de quase todos os meses com alguma sobra em dinheiro.
INADIMPLÊNCIA
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o mercado de trabalho está absorvendo trabalhadores com menor nível de escolaridade e de maneira informal. Isso tem aumentado a incerteza na gestão das finanças pessoais. Além disso, para a CNC, a alta inflação reduz os rendimentos e dificulta a organização do orçamento familiar.
Os dados da pesquisa foram coletados em todas as capitais do país e no Distrito Federal, com aproximadamente 18 mil consumidores. As principais dívidas são com cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamento de carro e financiamento de casa.