Fome aumenta na ‘Capital Nacional do Alimento’
Marília registrou um aumento de 23,5% no número de famílias que recebem até meio salário mínimo per capita por mês para sobreviver. São pessoas consideradas em situação de extrema pobreza.
Dados de abril apontam que na cidade são 14.619 famílias neste quadro. Em janeiro do ano passado, o número era bem menor. A “Capital Nacional do Alimento” contava com 11.837 famílias em condição de vulnerabilidade social.
Os números são do Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal, responsável por mapear pessoas em situação de vulnerabilidade social, onde estão registradas as informações socioeconômicas das famílias de baixa renda domiciliadas no território brasileiro, ou seja, aquelas que possuem renda mensal de até ½ salário mínimo por pessoa ou renda familiar total de até três salários mínimos.
O total de famílias cadastradas em Marília no CadÚnico é de 21.297, sendo que a maioria delas (14.619) vive com renda até ½ salário mínimo.
Desde o início da pandemia, a Associação dos Moradores do Nova Marília realiza um importante trabalho social no sentido de ajudar essas famílias. Toda segunda-feira, no horário do almoço, e quarta-feira, no final da tarde, a entidade distribui marmitas para moradores da região e para pessoas em situação de rua no Centro da cidade.
A dona Luciana Coutinho Matias mora próximo ao bairro CDHU, na zona Sul de Marília. Ela conta que vai toda segunda e quarta na Associação de Moradores do Nova Marília buscar marmitas. Catadora de material reciclável, diz que o marido era motorista de caminhão, mas ficou desempregado depois de um problema no joelho. Na casa em que mora, além dela e do marido, três netos também dividem a comida.
“A comida aqui é muito boa. Tudo é muito organizadinho e estão de parabéns. Tem seis meses que venho buscar. Nos dias que não tem a entrega, faz falta. Pego os netos na escola e já passo aqui. Não recebo aposentadoria, nem Bolsa Família. Desde dezembro eu tenho tentando, mas não consegui receber nada. Daí pegamos reciclagem durante a semana e participo da feira do rolo de fim de semana”, afirma a mulher.
O projeto “Marmitas Solidárias” é esperança de comida na mesa de muitas famílias. São aproximadamente 700 refeições distribuídas por semana, que ajudam a matar a fome de pessoas que vivem em vulnerabilidade social.
De acordo com Sandra Farias, uma das responsáveis pelo projeto, existe uma percepção de aumento da pobreza, com mais gente em situação de rua e procurando as marmitas na associação. Ela explica que é necessário um cadastro para ter acesso ao alimento, para evitar que pessoas que não precisem tentem se aproveitar da situação.
“São muitas marmitas. A cada dia parece que a fome tá aumentando e não tem parada. Achamos que ia diminuir, mas temos constatado que só tem aumentado mais. Nas ruas cresceu muito o número de pessoas. Infelizmente, as doações diminuíram e temos que dividir o que temos”, lamenta Sandra.
O projeto “Marmitas Solidárias” precisa de doações de arroz, feijão, macarrão, salsicha, ovo, linguiça ou qualquer outro tipo de alimento, que ajuda no combate da fome de uma grande parte da população, que está crescendo. Ela também contou que muitos buscam na janta a marmita, mas fracionam o alimento, guardando um pouco para o outro dia.
“Precisamos de coisas simples. As pessoas aqui, quando falo que vou ter que parar com o projeto, por não ter ‘mistura’ para colocar nas marmitas, me falam para não parar, pois o que mata a fome é o arroz e o feijão. O que colocamos ali já deixa satisfeito quem precisa desse alimento”, conta Sandra.
AUMENTA A FOME NO BRASIL
Em 2022, segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer.
Os dados da pesquisa, realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), revelaram que 14 milhões de novos brasileiros entraram em situação de fome em pouco mais de um ano. Com isso, o país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990.