Endividamento faz crescer procura por serviço do Procon
Alta inflação e menos dinheiro no bolso do mariliense têm refletido diretamente no número de atendimento do Programa de Apoio ao Superendividado (PAS), da agência local do Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor). Unidade tem recebido cada vez mais consumidores atrás de negociação das dívidas.
O programa criado em 2020 já tirou 481 consumidores da condição de superendividamento. Somente nos últimos 30 dias, 46 marilienses se inscreveram no programa para tentar sair da inadimplência crescente.
O economista e professor Eduardo Rino alerta para o endividamento das famílias, em decorrência da impossibilidade de um planejamento adequado dos gastos mensais.
O resultado disso é o que foi apontado no começo de maio por uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que aponta que três em cada dez famílias brasileiras possuem dívidas no Brasil.
“O Brasil é considerado o país que tem a população que menos investe em poupança, um reflexo de que não sabe lidar com os recebimentos e pagamentos, pois deixar uma reserva para emergência é a principal regra para não se endividar”, afirma o economista.
O percentual de endividados bateu um novo recorde em abril deste ano, ao atingir 28,6% do total das famílias brasileiras. O índice é 0,8% maior do que o registrado em março e 4,3% a mais do que abril do ano passado. A piora foi intensificada nos últimos três meses.
A agência do Procon de Marília oferece um serviço de apoio para quem já atingiu o estágio irreversível do superendividamento.
“Endividados somos todos nós que pagamos débitos parcelados, mas que ainda temos um débito menor do que o crédito ou ganho mensal que temos. Superendividado é aquele que a dívida já supera os ganhos ou compromete a renda ao ponto de inviabilizar a subsistência. O Procon oferece apoio a esse superendividado, mas ele precisa nos procurar antes que o endividamento atinja seu grau máximo, que é a perda de renda, o desemprego ou a incapacidade total de quitar o que deve”, explica o diretor do Procon, Guilherme Moraes.
Segundo o dirigente, o Procon intermedia a renegociação da dívida, negociando o reparcelamento e até recomposição de valores cobrados, para pôr fim à dívida de forma parcelada, dentro do orçamento disponível pelo devedor, de forma lenta e gradativa.
É o caso do vigia aposentado Pedro Gomes. Há seis meses, ele se inscreveu no PAS do Procon porque recebia R$ 1.200 de pensão e lhe sobrava apenas R$ 400 de renda. O resto do benefício estava comprometido com financiamentos e prestações.
Sem poder de compra para comida e moradia, Gomes conseguiu renegociar todas as dívidas, aprendeu a não mais pegar empréstimos consignados sem necessidade e já possui de volta toda a renda da aposentadoria. “Reaprendi a usar meu dinheiro com o Procon”, conta.
O economista Eduardo Rino explica que o endividamento é um reflexo da falta de planejamento. “O Brasil não oferece educação financeira nas escolas, para compreensão sobre como gastar e utilizar seu dinheiro de forma correta. As empresas não ensinam seus funcionários a fazer planejamento econômico do salário e, quando vem a crise – uma mudança de cenário econômico -, muitos são atingidos”, afirma.
A reserva de 30% a 35% da renda para emergências futuras é a única alternativa para se enfrentar com menos sofrimentos os períodos de uma recolocação no trabalho, uma quitação de um débito. Mas, principalmente no controle do que se ganha e do que se gasta, identificando mês a mês tudo o que “entra e sai”, é que a família garante as contas no azul.