O gosto da guerra, de novo
Volto ao tema guerra neste espaço por alguns motivos e coincidências. Na véspera da redação desta crônica recebi por e-mail o posfácio de “Canavial, os vivos e os mortos”, romance de minha autoria e que conquistou o primeiro lugar no Edital de Fomento nº 2, da Prefeitura e Secretaria Municipal de Marília em 2021.
O encerramento deste trabalho que levei mais de 15 anos para maturar e colocar no papel tem a assinatura de uma verdadeira lenda do jornalismo brasileiro e um mestre da imprensa: José Hamilton Ribeiro.
Não consigo traduzir em palavras o que senti ao saber que José Hamilton havia aceitado a tarefa de ler o original de “Canavial”, que terá ilustrações naif do artista plástico mariliense Aloísio Dias da Silva e trilha sonora do compositor e cantor Dudu Max.
O prefácio é assinado por um grande amigo, um verdadeiro irmão que Marília me proporcionou: o jornalista e escritor Nelson Liano Júnior. Nelson, hoje radicado no Acre, trabalhou no Rio de Janeiro com grandes nomes do Jornalismo e esteve ao lado de grandes nomes da Literatura Brasileira, a exemplo de Carlos Heitor Cony (1926-2018) e de Paulo Coelho. Aliás, Nelsinho escreveu um livro com Coelho e também editou “O alquimista” na sua primeira publicação.
O mesmo fazendo com “O diário de um mago”. Reencontrei Nelsinho recentemente em Marília e jantamos numa pizzaria na avenida Rio Branco. O posfácio de Zé Hamilton me chegou entre 16 e 17 de março e ao correr os olhos no livro-reportagem “O gosto da guerra”, escrito por Hamilton relatando sua passagem como correspondente da Guerra do Vietnã (1961-1975) e o acidente que lhe amputou parte de uma perna, notei que o diário do experiente repórter começa em 18 de março de 1968. Ou seja, 54 anos atrás e, lamentavelmente, vivemos outra guerra neste mesmo momento, a da Ucrânia.
Portanto, novo amargo e horrendo sabor de guerra. José Hamilton Ribeiro, Joel Silveira (1918-2007), John Reed (1887-1920), Ernest Hemingway (1899-1961) e Bernard Shaw (1926-1967) trazem em suas bagagens impressionantes histórias verídicas do que viram e sentiram ao cobrir confrontos bélicos.
Silveira esteve na II Guerra Mundial, Reed foi testemunha de duas revoluções: a do México, em 1910, e a da Rússia, em 1917, Hemingway esteve na I Guerra Mundial, na Guerra Civil Espanhola e na II Guerra também, quanto à Shaw, ele não conseguiu voltar da mesma Estrada sem Alegria, no Vietnã, que provocou a amputação de Hamilton.
Recentemente, em sua oração de domingo, o Papa Francisco – que acaba de celebrar o 9º ano de papado e que ao ser eleito foi reconhecido como o maior expoente da paz do nosso tempo – pediu que o mundo orasse pelo fim da Guerra da Ucrânia, e também pela proteção aos jornalistas e correspondentes que lá estão, sendo os olhos e os ouvidos do mundo. Mas também sentindo no próprio estômago o que é, de fato, a maldade humana.