Motoristas em Marília começam a abandonar apps: ‘conta não fecha’
Há duas semanas o motorista de aplicativos Denis Zaghi, de 50 anos, decidiu abandonar a atividade. Agora ele procura emprego como motorista, sem desperdiçar eventuais oportunidades na áreas comercial ou industrial. “Não deu mais. O preço das corridas não sobe, mas tudo que a gente precisa para trabalhar disparou, a começar pelo combustível”, afirma.
Denis faz parte de um grande contingente de motoristas autônomos que ficou no limite, com o elevado custo dos veículos, das peças, do seguro e, principalmente, do combustível que tanto necessita para passar extensas horas no volante e tentar ganhar a vida.
“A conta não fecha. Não há o que a gente faça, não é viável. As empresas trabalham com ‘desafios’, que dão bônus, mas não reajustam a tabela. O resultado é que você fica sendo obrigado a fazer corridas abaixo de R$ 5. É exploração”, afirma.
Em setembro do ano passado, segundo a Empresa Municipal de Mobilidade Urbana (Emdurb) – que atua na regulamentação dos motoristas na cidade – havia no município 129 trabalhadores cadastrados para essa finalidade. Contudo, os dados não refletem a realidade das ruas, já que muitos trabalham sem cadastro oficial, apenas com vínculos nas plataformas.
SE VIRANDO
O trabalho como motorista de aplicativo está com dias contados para Ana Cláudia Telles, de 29 anos. Ela começou a dirigir de forma autônoma em setembro do ano passado. Desde então, acompanha com muita atenção o custo do etanol, combustível que utiliza.
Mesmo com a variação menos desfavorável que a gasolina nos últimos meses, já pensa em parar e dedicar seu tempo de forma integral a um pet shop que iniciou há cerca de um ano e meio. “Fiquei desempregada na pandemia, logo após pegar Covid-19. Como a loja ainda não é tão conhecida, preciso completar a renda”, afirma.
Ana relata muitos problemas ao volante, como passageiros alcoolizados, alguns que brigam e não aceitam a conta, entre outras dores de cabeça. Há também riscos à segurança. “Já peguei gente que havia acabado de sair da prisão e as conversas que a pessoa tinha no telefone, durante a corrida, dava medo. Graças a Deus nunca aconteceu nada, mas a gente fica muito exposto”, afirma.
Já Ingrid dirige de forma particular, mas sem usar plataformas. Ela trabalha há um ano na área. O marido, mototaxista, sofreu um acidente e teve que engessar o braço. Ao invés de se expor ainda mais com a moto, ela optou por pegar o carro para buscar o sustento da família.
“Eu moro em Padre Nóbrega. Só pra sair daqui do bairro já preciso de uns R$ 25. Então coloco os anúncios na rede social e pego as corridas. Uso a tabela da empesas de aplicativos apenas como referência, mas não tem a menor condição de trabalhar pelos valores que eles pagam”, disse.
Ela conta que não teve vergonha de se expor, colocar a situação do casal de forma clara e real, nos grupos de mensageiros e redes sociais. “Eu sou manicure, mas o salão que eu trabalhava acabou me dispensando, fiquei sem saída”, relatou ao Marília Notícia.
Ingrid relata que os posts recebem muitos compartilhamentos. “As pessoas apoiam muito a gente nos grupos do bairro, grupos de vendas e serviços. Tenho só a agradecer meus amigos e muitas pessoas que nem conheço pessoalmente. Eu posto que estou disponível para as corridas e as pessoas chamam”, disse.
Como os demais motoristas particulares da cidade, ela trocaria facilmente a atividade informal no volante por um emprego com carteira assinada, em sua profissão anterior.
PREÇOS
Conforme pesquisa de levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a média – antes do reajuste de 18% da Petrobras – estava em R$ 6,14 em Marília pelo litro da gasolina e R$ 4,26 no etanol.
Já nesta segunda-feira (14) consulta do MN mostrou que os preços médios subiu para R$ 6,75 e R$ 4,67, respectivamente.