Muito além das flores, mulheres exigem respeito e esperam carinho
Flores são bem vindas, mas o que elas mais querem é respeito. Em Marília, conforme projeção da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), elas são maioria com 51,7% da população; um universo de 120.432 mulheres.
Em uma época de tantos debates sobre igualdade, acesso, direitos e espaços, o Dia Internacional da Mulher – celebrado em 8 de março – é data de homenagem, mas também de reflexão.
Mulheres exigem respeito da sociedade, o que jamais exclui a disposição delas para receberem carinho e cuidado de seus companheiros, seus filhos e seus pais.
MULHER RESILIÊNCIA
Aos 38 anos, Amanda Katlyn de Almeida Santareli é graduada em serviços jurídicos e notariais. Ela foi buscar conhecimento na área depois que virou mãe do Pedro, atualmente com seis anos, e percebeu como as lutas de uma mãe de pessoa com deficiência poderiam ser duras.
O filho é autista e tem uma síndrome rara, com comprometimento das funções motoras e da fala. Pedro, porém, tem o intelecto preservado. Impossível Amanda não ter se tornado uma ativista. Ela faz parte da Associação Anjos Guerreiros.
“A minha preocupação, hoje, que conheço tudo que temos de direito, é levar isso para outras famílias. Sou voluntária na Defensoria Pública e percebo que falta muita informação para as pessoas. Eu faço questão de explicar e encorajar as famílias a buscar seus direitos”, explica.
Para Amanda, grandes passos já foram dados para igualdade e respeito, mas as cobranças sobre a mulher ainda são dobradas e pesadas do ponto de vista social, e chegam a ferir a dignidade, sob a perspectiva humana e do direito.
Para a ativista, os preconceitos se manifestam de várias formas, incluindo a imposição de comportamentos e o assédio. “Penso que é uma questão cultural. Em uma sociedade que valoriza muito o dinheiro, como a nossa, muitas mulheres são submetidas a assédio até mesmo dentro do lar”, afirma.
Há casos, relata, de mulheres que se dedicam a cuidar da casa e são subjugadas pelos próprios companheiros, supostamente como “dependentes do alimento que o marido comprou”. Outras, mesmo trabalhando em casa e fora, acabam sendo tratadas como únicas responsáveis por afazeres domésticos que deveriam ser do casal.
“A sociedade julga. No olhar de muita gente, por uma questão cultural, a mulher tem que dar conta da casa, a mulher sem vaidade, não se cuida. A vaidosa, ‘está disponível’. Muitas vezes somos desrespeitadas no nosso direito ao amor próprio, cerceadas, vigiadas em nossos comportamentos sociais. Ainda estamos longe do ideal”, acredita.
MULHER ESPERANÇA
Autenticidade e disposição para correr atrás de seus sonhos não faltam a Jaqueline Alverez, de 26 anos, a faxineira de túmulos de Marília que usa as redes sociais para se comunicar e superar barreiras.
Ela sonha em cursar uma faculdade, habilitar-se em comunicação e mudar de profissão. Não que ela tenha algum problema com o ofício que aprendeu com a avó, aos 12 anos, mas é que a jovem gosta muito mais de se expressar e influenciar pessoas do que a digna rotina de serviços no cemitério.
Além de deixar os túmulos em ordem, Jaqueline também ganha a vida como ajudante de recreação infantil. O trabalho, para ela, é absolutamente parte de sua personalidade. Em tudo que faz, coloca o seu melhor.
“Tenho a noção clara de que as mulheres precisa sim brigar por espaço com unhas e dentes. Se não, ficamos pra traz, sem voz”, diz.
Ela vê desigualdade no olhar da sociedade e no aspecto salarial. “A mulher é capaz de exercer o mesmo cargo que um homem e ainda assim, recebe menos. E ainda têm casos de assédio do patrão. Tem homem que ainda acha que é quem manda, quem paga, e pode se aproveitar”, alerta.
MULHER VISÃO
Mãe, esposa, gestora empresarial na área da Educação e formadora de opinião, Fernanda Mesquita Serva é mulher que acredita em transformações. Lidera homens e mulheres que carregam a responsabilidade de ensinar.
Para ela, o Dia Internacional da Mulher é um marco que deve ser celebrado. “A isonomia entre mulheres e homens deve ser um assunto a ser pautado em todas as questões, tanto no âmbito profissional como no privado”, defende.
Não se pode esmorecer. A grande preocupação, ressalta, é que mesmo quando a sociedade observa avanços na igualdade, episódios acontecem e alertam sobre o risco de retrocesso.
“Infelizmente há inúmeras situações que nós, mulheres, sofremos muito preconceito. Gostaria de ter uma visão mais otimista, sobre o espaço da mulher, imaginando que daqui 30 anos não sofreríamos qualquer preconceito. Mas, infelizmente, acredito que teremos que sempre lutar para que direitos sejam mantidos e garantidos”, destacou.
MULHER CORAÇÃO
Há dois anos moradora em Marília, a dominicana Diany Perez, de 40 anos, tem cinco filhos e ganha a vida como vendedora de lingerie. Ela é casada com um haitiano, que conheceu em sua terra natal. Adotou o Brasil em busca de oportunidades.
Onde Diany nasceu, a violência de gênero levou à morte as irmãs Mirabal (Minerva, Patria e Maria Teresa). A República Dominicana – da década de 60 – negou a elas qualquer chance de participar da política no país e, por consequência, o direito à vida.
As meninas e os meninos dominicanos aprendem na escola a história das ativistas assassinadas, que deveria se ensinada e cessar toda violação. Mas não é assim. Segundo Diany, o país ainda reprime e discrimina suas mulheres.
A dominicana, como toda brasileira, mulher de qualquer nação ou continente, espera que a sociedade tenha um olhar de Justiça e de valorização. “Acho que, hoje em dia, as mulheres estão sobrecarregadas. Além de trabalhar muito, precisam cuidar das casas, das famílias”, pondera.
Mas ela consegue ver muitas diferenças na forma como cada sociedade se organiza, na questão de gênero. “Infelizmente ainda existem muitas violências à mulher no meu país. Olhando daqui [de Marília], vejo que poderia ser muito melhor [na República Dominicana]. Eu acho que a mulher é mais respeitada em Marília. É o que eu percebo. Nosso sonho é que seja assim e sempre melhor”, almeja.