Cirrose alcoólica interna um mariliense a cada 14 dias
Marília registrou 26 internações no Sistema Único de Saúde (SUS) por cirrose alcoólica ao longo de 2021. Isso significa – em média – um registro por mês, segundo os dados do Ministério da Saúde.
Em dez anos, 248 marilienses foram internados por esse motivo. A doença, contudo, é apenas a ponta do iceberg de um problema muito mais amplo, que é a dependência alcoólica. Além de danos ao organismo, o vício também tem severos impactos psicossociais.
“Cresci em um ambiente onde o álcool era um frequente convidado nas reuniões de família”, lembra um homem de 39 anos que tem a vida marcada pela luta contra alcoolismo, em entrevista concedida ao Marília Notícia nesta sexta-feira (18), Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo.
“Tinha uma tia que fazia sangria: vinho, água e açúcar e mexia. Fazia como uma groselha e dava para a criançada”, que segundo o entrevistado, “paravam de encher o saco e ia todo mundo dormir”.
Se hoje ele está sem beber, tem emprego, faz faculdade e possui dois filhos, a vida nem sempre foi assim e o sucesso de agora é resultado de um longo processo nos Alcoólicos Anônimos (AA).
Em Marília são quatro núcleos AA:
- grupo Esperança: rua Francisco Rodrigues Souto, 531, no Centro Comunitário do Jardim Jânio Quadros. Reuniões de sexta-feira, das 20h às 22h;
- grupo Flor de Lis: rua dos Crisântemos, 25, no salão em frente à Capela Nossa Senhora, na Vila Jardim. Reuniões de segunda e quinta-feira, das 20h às 22h;
- grupo Marília: avenida Santo Antônio, 766, no Lar da Criança, próximo da Igreja Santo Antônio. Reuniões de terça, quinta-feira e sábado, das 20h às 22h;
- grupo Vida Nova: avenida Eliezer Rocha, sem número, na antiga base da Polícia Militar do Jardim Santa Antonieta. Reuniões de segunda e quarta-feira, das 20h às 22h.
Antes de chegar aos AA, o entrevistado do MN conta que foi construindo uma verdadeira relação com o álcool, “sem perceber que seria meu maior vilão”. Da adolescência, em que a bebida era um tônico para vencer a timidez e a inibição social, na juventude ela virou negócio.
“Tornei o álcool meu meio de trabalho. Virei barman, abri um bar e trouxe a bebida para o meu cotidiano”, diz. “Eu reagi muito tempo depois. As pessoas me avisavam que meu modo de beber incomodava, mas eu não percebia”.
Com a evolução do vício, ele perdeu o trabalho, relacionamentos e oportunidades. “Eu fiz então uma coisa que se chama fuga geográfica, vim de São Paulo – onde morava – para o interior para começar de novo”.
Em Marília, ao tentar uma vida nova, acabou indo trabalhar na vida noturna e teve novas recaídas. “Eu tinha 24 anos, quando meu pai tentou me internar. Eu não queria de jeito nenhum. Mas foi só o meu contato com os AA que me tirou dessa vida”.
Após conseguir ficar limpo do álcool, ele começou a ajudar voluntariamente. “É dar de graça aquilo que ganhamos de graça. Acolher aquele companheiro que precisa de ajuda de braços abertos”.