‘Nasceu a cara do pai’, diz viúva de bombeiro vítima da Covid
Para familiares, é impossível olhar para a pequena Maria Tereza, que nasceu no dia 5 deste mês, e não se lembrar do bombeiro civil e servidor municipal Reginaldo Vitor Souza, de 47 anos. Ele morreu em maio deste ano, vítima da Covid-19.
A esposa – a autônoma Juliana Oliveira de Souza, de 38 – deu a luz após 38 semanas. Em pleno período gestacional, ela também enfrentou a doença que vitimou o marido.
Juliana ficou em estado grave e teve que ser intubada. Deixou o hospital uma semana antes da partida de Reginaldo.
“Nasceu a cara do pai”, conta a viúva do bombeiro, orgulhosa pela força de Maria Tereza, que veio ao mundo com 2,6 quilos. A menina ficou seis dias internada, em fototerapia, mas os exames demostraram que ela está com a saúde em dia, segundo a mãe.
A bebê tem mais três irmãos: Beatriz, de 22 anos, Júlia, de 18, e Samuel, com apenas seis. “Tirando o fato de que eu fiquei internada em estado grave, com Covid, a gestação foi até parecida com a do Samuel. Senti muito cansaço, mas não sei dizer se foi da gravidez ou da Covid”, conta Juliana.
A chegada da menina teve um significado a mais para a família. É como se parte do vazio deixado por Reginaldo fosse preenchido em cada expressão da pequena.
“Eu digo que deixou uma semente para nós. Nasceu uma flor para deixar a nossa vida mais feliz. A saudade dele não passa, mas o sentimento de tristeza diminui. É como se ele dissesse que precisamos seguir, continuar, ser fortes”, traduz Juliana.
A mãe diz que já neste primeiro mês de vida, a semelhança com o bombeiro é nítida na menina e que muitas pessoas ficaram receosas de dizer isso. “Não me importo de jeito nenhum com essa comparação. Eu acho que parece mesmo. E ninguém vai me deixar triste por lembrar dele. [Para mim], é como se fosse uma homenagem”, conta.
A estudante de enfermagem Júlia Rodrigues de Souza, filha do bombeiro civil, relata a explosão de sentimentos, quando viu a irmã pela primeira vez.
“Felicidade em vê-la bem e saudável. Tenho certeza que nosso pai estaria feliz e orgulhoso. É difícil explicar, foi uma situação muito emocionante. Queria que ele estivesse junto, vivendo cada segundo com a gente, mas sei que de onde estiver, [ele] está vendo tudo”, afirma a jovem.
Rodrigo Souza, irmão de Reginaldo, o descreve um “cara excepcional”, solidário, que manifestava amor à vida, apreço à família e aos amigos.
“Fiquei doente em abril. Ele ia no hospital quase todo dia buscar notícias. Quando ele adoeceu, mesmo inconsciente, eu sentia que ele percebeu minha presença no hospital. Eu cantava para ele, conversava com ele, nós tínhamos confiança que ele sairia. Não deu, mas ficou o legado do meu irmão”, se conforta.
Reginaldo morreu no final de maio, após um mês de internação. Ele trabalhava como bombeiro civil na Rodoviária de Marília e também no Yara Clube, onde era guarda-vidas.
Quer receber notícias no seu WhatsApp? Clique aqui! Estamos no Telegram também, entre aqui.