Seu próximo monitor poderá estar preso ao seu rosto
Esqueça essa coisa de se sentar em frente a um monitor de computador no trabalho – algum dia, em vez disso, você talvez use um headset para ver a tela dele.
Isso pode soar um pouco como uma fantasia cyberpunk dos anos 90, mas não está realmente tão distante assim.
Além de ter mais telas para trabalhar em diferentes tarefas, há outro benefício em usar tela(s) em seu rosto: ninguém mais pode vê-las. Se você frequentemente trabalha com arquivos ou dados confidenciais, a última coisa que deseja é que um vizinho bisbilhoteiro em um avião ou em uma cafeteria espie por cima de seu ombro. Mas esses tipos de headsets podem ser difíceis de usar e, em alguns casos, podem fazer com que você sinta náuseas.
Muitas empresas de tecnologia estão convencidas de que as sofisticadas telas transformadas em óculos podem representar o futuro do trabalho. Mas elas têm diferentes visões a respeito de como uma tela colocada em seu rosto deveria funcionar.
A Microsoft desenvolveu parte de sua aposta em torno do HoloLens, que pode exibir conteúdo em 2D e 3D em espaços físicos ocupados pelos trabalhadores. O Facebook está promovendo novas ferramentas para transformar headsets de realidade virtual, como o Oculus Quest, em ferramentas que os funcionários possam usar para se reunir e colaborar juntos em um mundo virtual.
Enquanto isso, uma safra de headsets de empresas como a Lenovo e a TCL está tentando algo um pouco mais prático. Em vez de jogá-lo em um mundo de reuniões povoado por avatares 3D, esses óculos inteligentes tentam simular a experiência de estar sentado em frente a um monitor de computador. (Ou, em alguns casos, a muitos monitores de computador.)
Para deixar claro, esses tipos de gadgets especializados ainda estão longe de chegar ao público em geral.
“As pessoas que estão entrando em contato com eles agora são tecnófilos que estão dispostos a dizer ‘Vou aceitá-los com defeitos e tudo mais”’, disse Ramon Llammas, diretor de pesquisa da empresa de pesquisa de mercado IDC. “Provavelmente não será até uma terceira ou quarta revisão que começaremos a ver mais interesse na comercialização em massa.”
Como eles funcionam?
A maioria dos headsets que se enquadram nessa categoria tem muito em comum. Eles normalmente não têm capacidade de processamento por conta própria, por isso precisam estar conectados a um computador adequado – ou um smartphone – para fazer qualquer coisa. Até agora, isso significa que dependem de longos cabos USB, embora empresas como a fabricante de chips Qualcomm estejam trabalhando para incorporar processadores móveis potentes diretamente nesses óculos para que os modelos futuros possam ser sem fio.
Mas o que torna esses headsets interessantes é como eles mostram para você o seu trabalho. Basicamente, eles colocam uma tela minúscula em frente a cada um de seus olhos, posicionadas da maneira correta para fazer com que pequeno visor pareça grande. (Se você alguma vez observou pássaros com um binóculo, já viu essa técnica em ação.) Supondo que tudo esteja conectado corretamente e funcionando como deveria, você é capaz de colocar os óculos e dar uma olhada ao redor.
O que você pode ver com eles?
Esses headsets não foram feitos para prender você em alguma estranha sala de reuniões virtual — em vez disso, eles basicamente funcionam como telas secundárias que você veste em vez de colocá-las em sua mesa.
A TCL, uma empresa chinesa mais conhecida por produzir televisores, fabrica um desses headsets. Seus óculos, o Nxtwear, podem ser conectados a um dos smartphones compatíveis da empresa, que oferece a visão conhecida de uma interface semelhante à de um desktop, onde você pode navegar na web, assistir a vídeos ou enviar e-mails. (Se você fizer isso, a tela do celular também se tornará um grande touchpad para mover o cursor do mouse.)
Quando conectados a um computador, como um MacBook Pro, na prática, os óculos, transformam-se em um monitor substituto que parece muito maior que a tela de um laptop comum. Você com certeza poderia torná-lo sua tela principal, mas como os óculos são telas apoiadas no limite de seu campo de visão por um conjunto de grandes almofadas de nariz, você ainda seria capaz de olhar com facilidade para o seu laptop.
Alguns modelos, como o ThinkReality A3 PC Edition da Lenovo, oferecem uma perspectiva mais imersiva. Conectá-lo a um computador compatível com um cabo USB-C permite visualizar e reorganizar até cinco telas diferentes em uma espécie de “espaço” virtual em frente a você. Conforme movimenta a cabeça, cada um desses monitores aparecerá dependendo de como você os configurou. É como se você estivesse sentado em frente a uma mesa na qual organizou meticulosamente vários monitores, exceto que, para começar, você não teve que carregar esses monitores.
A pegadinha? Como o headset da Lenovo foi projetado para lhe mostrar várias telas ao mesmo tempo, ele requer muito mais potência para funcionar corretamente, e nem todos os computadores vão dar conta disso. Pelo menos por enquanto, você já teria que possuir — ou comprar — um laptop Lenovo Thinkpad compatível se quiser tentar construir uma estação de trabalho virtual com os óculos ThinkReality.
O que podemos esperar a partir do que temos?
Esses headsets já existem e funcionam, mas sejamos honestos: eles ainda estão longe do ideal. Por um lado, as empresas que fabricam esses headsets não resolveram completamente a questão do conforto. Como eles têm tantos componentes e sensores embutidos neles, a geração atual de óculos inteligentes simplesmente consegue ser quase tão flexível quanto, digamos, um par de óculos normal. Isso pode significar que pessoas com cabeças maiores talvez sintam literalmente um beliscão ao tentarem usar um monitor vestível.
E embora esses headsets não sejam tão pesados — o da Lenovo pesa cerca de 150 gramas —, eles ainda podem ser incômodos de usar. Mas como muitos fabricantes de componentes continuam a reduzir o tamanho de suas peças, isso talvez mude em pouco tempo.
“Se eles puderem ser leves, confortáveis e oferecer qualidade de imagem suficiente com a qual eu possa ser produtivo em várias telas, essa será a prova de fogo”, disse Ross Rubin, analista principal da empresa de pesquisa de mercado Reticle Research.”Eu posso ver um caminho para isso talvez nos próximos três anos.”
Até lá, os fabricantes de headsets têm outra coisa com que lidar: o preço. O da Lenovo custa cerca de US$ 1,5 mil, o que é um valor alto, mesmo se for feito para o trabalho — e principalmente se exigir outro equipamento para funcionar. (No entanto, novamente, o preço talvez valha a pena para as empresas por tornarem seus funcionários mais produtivos; teremos que ver.) Os óculos da TCL ainda não estão à venda nos Estados Unidos, mas os modelos disponíveis em outros lugares custam o equivalente a quase US$ 680.
Isso também mudará com o tempo, à medida que a tecnologia avança e o custo das peças se torna mais razoável. Até lá, porém, muitos de nós terão que se contentar apenas com os monitores que temos atualmente.