Argollo ou Argolo? Cavallari mesmo? Dobras de consoantes geram dúvidas
Herança de idiomas derivados do latim, consoantes dobradas ainda geram dúvidas. Em Marília, por exemplo, não é raro titubear na hora de escrever nomes de ruas ou bairros como Cavallari, Argollo ou Toffoli. Pior ainda se forem observadas como referência as placas de sinalização, que não observam a grafia correta.
O bairro da zona Oeste conhecido pela grande população universitária, próximo ao Campus, é uma homenagem ao cafeicultor e comerciante Virgínio Cavallari.
O antigo dono da Fazenda Santa Terezinha – onde atualmente está localizado o Jardim Cavallari – é avô do professor universitário Roberto Cavallari Filho.
“O nome dele [avô] e o meu são grafados com dois ‘Ls’, mas sei de pessoas da família, em diferentes gerações, que foram registradas com um ‘L’ apenas. A explicação para isso é o erro de cartório. Acredito que, em sua origem, o nome trazia a letra dobrada”, afirma o professor.
A servidora municipal aposentada Wilza Aurora Matos, integrante da Comissão de Registros Históricos da Câmara de Marília, relata que o grupo já detectou dezenas de casos de variações nas mesmas famílias.
“Isso (dobra) é muito comum em nomes de origem italiana, mas também encontramos em portugueses. Os cartórios sempre foram, segundo as próprias fontes, responsáveis por estas diferenças. Acredito que acontecia mais no passado”, afirma.
Wilza afirma que a dica é sempre perguntar para a pessoa, quando possível. Se for alguém falecido, entes próximos saberão. Outra fonte importante é a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e a Câmara Municipal, onde existem registros da lei que deram título ao lugar.
ARGOLLO FERRÃO
O ex-prefeito e engenheiro Miguel Argollo Ferrão (1948/1952 e 1956/1958) escrevia seu nome com a letra ‘L’ dobrada. Apesar disso, não são raros documentos em que o nome do ex-chefe do Executivo aparece com o erro de grafia.
O que muita gente não sabe, porém é que o popular “Argollo Ferrão”, na zona Oeste da cidade, não remete ao ex-prefeito, mas à uma de suas filhas: Thereza Bassan de Argollo Ferrão, cujo nome também era grafado com dois “Ls”.
O engenheiro agrônomo Renato de Argollo Haber, neto do ex-prefeito, estranha algumas placas. “Realmente, vejo algumas indicações do bairro e também placas de ruas com um ‘L’ só, mas o sobrenome da nossa família [Argollo] é sempre com a dobra na consoante”, garante.
No caso do bairro, lei de 1991 denominou “Thereza Bassan de Argollo Ferrão o Núcleo Habitacional Marília X”. Ou seja, fim da discussão; a grafia do bairro pede a dobra na letra “L”.
O sobrenome está presente em mais três vias na cidade: rua Doutor Rodrigo Argollo Ferrão, rua Doutor Victor André Argollo Ferrão e rua Maria Martha Argollo Ferrão, todas com o nome correto da família.
Curiosamente, porém, a cidade não tem nenhuma rua ou bairro com o nome do engenheiro e ex-prefeito.
TOFFOLI
Outro sobrenome de família tradicional em Marília – com um dos membros ocupando cadeira na mais alta Corte da Justiça do país – também gera dúvidas.
Na zona Sul, em Marília, está localizado o Conjunto Habitacional Monsenhor João Batista Toffoli. A cidade tem ainda o bairro Sebastiana Seixas Dias Toffoli (Lácio) e o Distrito Industrial Luiz Toffoli (também em Lácio).
Embora haja na cidade várias pessoas com sobrenome Tofoli – inclusive sem relação de parentesco com o ministro José Antônio Dias Toffoli, não existe em Marília ruas ou bairros em que a grafia seja com um “F” apenas.
REVISÃO?
Em relação as placas com indicações incorretas, o MN questionou a Prefeitura. Mas até a conclusão e publicação desta reportagem, não recebeu retorno.