Inflação alta deixa custo de vida mais caro em Marília
“O preço da comida está caríssimo. Hoje, com R$ 100 você não compra quase nada”, afirma o eletricista Max Rafael Carvalho, de 36 anos, em conversa com o Marília Notícia dentro de um supermercado na zona Oeste da cidade.
O fenômeno do qual ele se queixa é a inflação, que culmina no aumento do preço das mercadorias, e tem crescido nos últimos meses. A sensação é de que o dinheiro tem se desvalorizado e, na prática, é isso mesmo: o poder de compra das famílias tem se corroído.
Motivo de preocupação, a inflação geral acumula alta de 9,30% em 12 meses até agosto, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15).
O óleo de soja, o principal vilão do custo de vida, já beira R$ 8 o litro, e aumentou mais de oito vezes a inflação geral do período. O preço da carne, por exemplo, passa de R$ 40 o quilo e subiu o equivalente a 3,5 vezes o índice.
“O que a gente ganha só dá para pegar o básico do básico. E, para piorar, o preço do combustível também subiu demais. Se aparece um serviço do outro lado da cidade, muitas vezes nem compensa pegar”, reclama o eletricista.
E ele tem razão, já que o encarecimento do etanol e da gasolina está acentuado, assim como o da eletricidade, 20,86% mais cara do que 12 meses atrás. Com o aumento do preço destes itens, quase toda a cadeia é afetada e a inflação acaba generalizada.
Em Marília, especificamente, até mesmo para cozinhar os alimentos está significativamente mais penoso. Desde agosto do ano passado, o botijão do gás de cozinha com 13 litros passou de R$ 76,44 para R$ 101,11 na cidade, um aumento de R$ 24,67 – ou seja, 32,27% mais.
Frequentadora do Jardim Cavallari, a dona de casa Kassumi Funo, de 52 anos, lamenta ao MN a alta dos produtos mais básicos, como o arroz e o café. Respectivamente, estes alimentos encareceram 36,89% e 17,15%, em 12 meses.
“O frango subiu muito também, não sei nem o que vou consumir mais. E o ovo? Nem ovo está dando para comprar direito. Com poucas sacolas no supermercado, você já sente no bolso”, critica a dona de casa.
Em um ano, os itens citados por ela ficaram 22,89% (frango inteiro) e 12,29% (ovo) mais caros, segundo o IPCA-15.
ANÁLISE
Para o coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, “a inflação deste ano está mais ‘democrática’: atinge ricos e pobres. É percebida por todos”.
Segundo o especialista, a desvalorização do câmbio, que turbinou as cotações em reais do petróleo e dos combustíveis, e a crise hídrica, que afetou a geração de energia, as tarifas e reduziu a produção agrícola, fizeram a inflação disparar.
A disseminação da inflação por diversos produtos aparece no porcentual de itens que estão subindo de preço no IPCA-15.
Em agosto, essa fatia é de 73,30% e só perde para janeiro de deste ano, que foi de 73,84%. “Um resultado acima de 60% já seria problemático”, pontua o economista da LCA Consultores, Fábio Romão.
Um resultado na faixa de 70% revela, na sua avaliação, que a inflação está “pegando” todas as classes sociais.
Segundo o economista, há uma gama mais complexa de pressões inflacionárias já atuantes e outras que estão a caminho. Elas estão nos serviços e nos bens industriais.
Romão lembra, por exemplo, que, com a reabertura das atividades suspensas por conta do lockdown, há risco de a inflação de serviços disparar, já que as famílias de maior renda terão predisposição para gastar a poupança acumulada no período de fechamento.
Também os bens industriais, que tiveram as cadeias de produção desorganizadas, ainda não voltaram à normalidade. Isso significa falta de peça, por exemplo, no carro zero, e mais inflação para o consumidor.