Crise em Marília se agrava e Comitê é chamado para discutir lockdown
Depois de 80 dias desde a última reunião – em 24 de março – a Prefeitura de Marília convocou, para esta quarta-feira (16), um novo encontro do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 na cidade. O principal item da pauta deve ser a proposta de um lockdown regional, o qual – como antecipou o Marília Notícia no sábado (12) – o prefeito Daniel Alonso (PSDB) diz ser contra.
Será o 28º encontro do grupo, que conta com a participação de secretários municipais, vereadores, hospitais, empresários, entidades da Saúde, classes profissionais, divisões da Polícia Militar, igrejas, entre outras organizações.
Criado no ano passado, nas primeiras semanas da crise sanitária, o Comitê foi consultado antes sobre as decisões mais polêmicas relacionadas à pandemia na cidade. Em várias oportunidades, Alonso relatou ter tomado medidas baseadas no encaminhamento – decisão da maioria – dos representantes, ainda que discordasse.
Com 100% dos leitos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid ocupados, ou seja, todos os 119 [sendo 84 instalados no Sistema Único de Saúde (SUS) em Marília e 35 da rede privada], o Comitê pode deliberar por mais rigidez nas restrições e pela participação do município no lockdown regional.
Vale lembrar que Marília é centro comercial e de assistência em Saúde para uma região com mais de 60 cidades que necessitam da rede de apoio para seus moradores.
Por isso, nos bastidores, a pressão dos prefeitos de outros municípios aumenta para que Marília reduza a taxa de contaminação. “É comum os familiares de vítimas da Covid daqui, sem leito, perguntarem porque seus entes queridos não podem ir para Marília. Sempre teve essa dependência”, diz uma fonte regional ao MN.
Nesta segunda-feira (14), conforme a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), plataforma criada pelo Governo Paulista para centralizar informações sobre a pandemia, a região de Marília e de Barretos apareciam como as que têm maior taxa de ocupação de leitos de UTI Covid; 95% da rede está ocupada.
TENDÊNCIAS
Com 1.848 infectados em uma semana – entre segunda (7) e ontem (14) – o município de Marília administra atualmente uma pandemia com média de 264 novos casos por dia.
Parte destes pacientes – que ainda estão com sintomas brandos ou sem sintomas – pode precisar de leitos de internação nos próximos dias, o que tende a agravar a situação na rede de saúde e aumentar o número de mortes de pessoas que sequer chegarão aos hospitais.
Outro dado que impressiona são as 29 mortes confirmadas desde a última sexta (11). O luto – além da batalha por vagas de internação – já toma conta das redes sociais e deve repercutir na reunião do Comitê.
Fontes ouvidas pelo Marília Notícia consideram as decisões “imprevisíveis”, em função do grande número de interesses que estão sobrepostos.
“O prefeito fica numa situação de mediador, porque tem o pessoal da Saúde sempre traz um alerta apontando que a situação pode piorar. Mas também têm os empresários, o pessoal da igreja, que pode ter uma visão diferente. Em geral, a saúde acaba prevalecendo”, destaca um participante que prefere o anonimato.
Outra fonte do MN acredita que os hospitais têm trabalhado acima da capacidade há meses. Por isso, a pressão por lockdown não virá da Saúde.
“O prefeito tende a mudar o rumo quando existe algum apelo do Ministério Público. É importante também ficar de olho no que as outras regiões estão fazendo. Marília não pode ficar na contramão”, analisa.
A 28ª Reunião do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 acontece nesta quarta-feira (16), a partir das 14h, por videoconferência. A assessoria do prefeito Daniel Alonso (PSDB) prevê, após o encontro, entrevista coletiva e transmissão ao vivo através das redes sociais da Prefeitura.