Atitudes de voluntários fazem a diferença na vida de profissionais da saúde
Em meio aos plantões exaustivos, em unidades fechadas, onde a ameaça invisível e a angústia das perdas diárias aumentam o estresse, profissionais de saúde em Marília têm sido surpreendidos pela atitude de voluntários que desejam, apenas, demonstrar carinho e gratidão.
Vários grupos se organizam na cidade. O movimento é espontâneo. Há dez semanas, um deles, que recebeu o nome de ‘Amor em Movimento’, tem feito a diferença para quem está no “front”, em uma verdadeira guerra pela vida.
Tudo começou depois que amigas passaram a se reunir, pelo menos duas vezes por semana, para preparar e entregar “mimos” em hospitais e unidades de Pronto Atendimento da cidade.
São bolos, doces caseiros, lanches e outras delícias. No começo, os pedidos eram feitos em confeitarias e rotisseries do município. Mas agora, elas mesmas vão para a cozinha preparar os alimentos.
Além disso, as voluntárias escrevem cartinhas, decoram os pratos e demostram, em cada detalhe, que a atitude vai muito além de proporcionar uma saborosa e inesperada refeição aos trabalhadores – o que já seria ótimo.
“É para alimentar o coração, fortalecer a mente, renovar as forças. Acho que é algo simples, um afeto. Queremos dizer para eles que não estão sozinhos”, explica a psiquiatra Cristina Guzzardi, voluntária e uma das idealizadoras da ação.
Em uma tarde, Cristina recebeu uma mensagem de uma amiga, médica. “Sexta, sábado e hoje. Sim. Não aguento mais pedir gasometria arterial. Nem medir as pressões no respirador”, escreveu à colega de profissão, em desabafo simples, mas que comoveu a psiquiatra.
“E assim foi o primeiro bolo, dois na verdade, foram feitos em um domingo de noite e levados para uma amiga e a equipe, que estavam cansadas. Só queria demostrar que eu me preocupava, um ato de bem-querer”, conta Cristina.
“Hoje perdemos um paciente de 37 anos, logo de manhã. O moral da equipe ficou muito baixo, mas quando vimos a delicadeza e capricho das embalagens voltamos a sorrir. Acho que nunca um agrado chegou em hora tão oportuna. Agradeço a você e a todos que estão se mobilizando. Obrigada em nome de toda equipe”, voltou a escrever a amiga.
Cristina sabe que o trabalho não ficará menos complexo e penoso para quem luta pela vida ao lado de seus pacientes, por horas a fio, em uma UTI ou enfermaria Covid, onde o medo e as perdas são presenças constantes.
Mas a psiquiatra sabe, inclusive por trabalhar com a saúde mental, que a sensação de não estar só gera novas perspectivas.
“Hoje, pela primeira vez, tinha um único funcionário na copa quando entreguei. E ele disse, ‘moça, a comida é muito bem-vinda, e a gente agradece muito, mas vocês não têm ideia do valor que os bilhetes têm para nós’. Esse tipo de retorno nos empolgou de uma maneira que começamos a expandir. Queremos fazer mais”, conta Cristina.
Amiga de Cristina, a dentista Lívia Zamariolli se integrou ao grupo logo no início. Ela decidiu compartilhar as primeiras ações em um grupo de WhatsApp, e convidar outras pessoas para fazerem parte. Ficou surpresa e feliz com a adesão.
“Atendeu rapidamente. Começamos com uma única instituição, um plantão, agora já temos feito a ação do Amor em Movimento em várias alas da Santa Casa e unidades de pronto atendimento. Queremos expandir para os postos de saúde e levar esse carinho para mais trabalhadores da saúde”, diz.
São cerca de 20 voluntárias – maioria mulheres – que fazem as ações aos sábados e domingos. O desejo delas é que alguma empresa ou organização, com maior know-hall em iniciativas de responsabilidade social, abrace a causa, como parceira.
O grupo já leva carinho e dá energia para funcionários da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid na Santa Casa, Hospital das Clínicas (HC) e Hospital Beneficente Unimar (HBU), além de alas e enfermarias Covid nas instituições. As ações envolvem também o Corpo de Bombeiros.
A Amor em Movimento já chegou ao Pronto Atendimento (PA) da zona Sul e até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região Norte. A meta é chegar ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Hospital Materno Infantil (HMI) e unidades de saúde da rede básica, referências para Covid-19.
“Infelizmente ainda estamos em um dos piores momentos dessa pandemia. Precisamos, mais do que nunca, oferecer afeto para aqueles que estão há mais de um ano na linha de frente. Agradeço a todos que têm feito parte e reitero a necessidade desse momento”, reforça Cristina Guzzardi.
Quem quiser fortalecer a corrente, pode fazer contato pelo telefone (14) 98166-8989.