Bebês de mães com Covid-19 nascem sem a doença no HC/Famema
Em nove meses – tempo de uma gestação – o Laboratório de Diagnóstico de Covid-19, instalado no Hemocentro de Marília, mantido pela Faculdade de Medicina de Marília (Famema), por meio da autarquia que gere os serviços assistenciais, já investigou suspeita de Covid-19 em mais de 200 recém-nascidos, pelo método RT-PCR. Em nenhum caso, foi encontrado positivo.
Os nascimentos aconteceram no Hospital Materno Infantil (HMI), onde são atendidas gestantes com comorbidades, incluindo as mulheres com suspeitas ou confirmação da doença causada pelo coronavírus. São pacientes de Marília e também da região.
Os dados revelam a contenção da transmissão vertical, mas também demostram a imprevisibilidade do comportamento do vírus. Há um vasto campo para pesquisa e somente estudos mais amplos podem determinar a relação entre a Covid-19, a gestação e o puerpério.
Foram testados não apenas bebês de mulheres com diagnóstico positivo, mas também mães que estavam com suspeita – por contado com caso confirmado.
Em Marília, ainda não há nenhum estudo que tenha comprovado o nascimento de crianças com anticorpos contra o vírus. Para isso, seriam necessários testes sorológicos por quimioluminescência, que, diferente do método RT-PCR, verifica a resposta imunológica do organismo.
A Secretaria Municipal de Saúde não confirmou nenhum caso. O Marília Notícia procurou também as instituições de saúde com maternidade. Nenhuma informou a ocorrência.
O médico geneticista Spencer Luiz Marques Payão, responsável pelos Laboratórios de Citogenética e de Diagnóstico de Covid na Famema, acredita que as cidades que têm anunciado nascimento de bebês com imunidade ao vírus têm feito pesquisas específicas com esse objetivo.
Farta em pesquisas, a Famema tem se debruçado em estudos que estejam diretamente relacionados à assistência. É o “apagar incêndio”, já que a pandemia não mostra sinais de arrefecimento, com cada vez mais pessoas internadas.
“O nosso trabalho está focado, desde agosto do ano passado, em colaboradores do HC/Famema, pacientes, acadêmicos com suspeita de Covid-19. É colhido material viral, analisado e encaminhado para que tenhamos a melhor conduta terapêutica. E isso inclui, evidentemente, as pacientes que tiveram seus bebês, com mães e filhos sob acompanhamento”, explica o médico.
Dessa forma, explica Payão, já foram realizados dois mil exames, que não representam, necessariamente, o número de pessoas. Coletas de Swab (popular cotonete) são feitas, inclusive, antes da alta médica de pacientes internados com a doença, para detectar se a presença do vírus persiste, mesmo após a fase de sintomas graves ter cessado.
TRANSLACIONAL
O experiente geneticista afirma que tem visto, sobretudo com a pandemia, a medicina translacional em prática, a partir do diálogo entre o laboratório e os clínicos intensivistas, que estão no dia a dia com os doentes.
“É aquela [medicina] que sai da bancada do laboratório e vai para o leito do paciente. Isso está sendo possível porque temos um hospital-escola, onde temos pesquisa e ensino caminhando juntos, favorecendo as pessoas”, explica.
O principal equipamento do Laboratório de Diagnóstico de Covid na Famema – que funciona no prédio do Hemocentro – é um aparelho em que são inseridas e analisadas as amostras. Os dados vão imediatamente para um computador, que gera as informações para os laudos.
O investimento não é recente. A máquina custou pouco menos de R$ 100 mil, investidos durante um estudo sobre o Mal de Alzheimer, que foi conduzido pela equipe de Spencer.
Na época, os pesquisadores, financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sequer imaginavam que os dispositivos de alta tecnologia acabariam sendo empregados em meio a uma pandemia.
“Está fazendo toda a diferença para nós hoje. Sem esse equipamento, não teríamos feito estes dois mil exames. Por isso, a importância da pesquisa, de estudos que tragam conhecimentos e também nos auxiliem a equipar laboratórios”, defende.
ENTENDA OS EXAMES
O RT-PCR, também chamado de ‘Padrão Ouro’ para detecção do vírus, é considerado o mais preciso. É que, a partir de amostras coletadas por Swab, que é possível analisar e detectar a sequência de RNA do vírus. Ou seja, é o próprio agente infeccioso sendo localizado. O ideal é que a coleta aconteça entre o 4º e o 7º dia, a partir do aparecimento dos sintomas.
Sorologia por quimioluminescência (detecção de IgG e IgM) vai apontar se a pessoa teve contato com o vírus. Geralmente, deve ser feito após 20 dias do término dos sintomas. O teste verifica se o paciente teve imunização ou não.
Há ainda o Swab rápido, considerado um teste de triagem, que serve para detecção de antígeno, ou seja, detectam uma proteína do vírus, para determinar se alguém está infectado.