Comus tem chefia trocada após áudio vazado e saia-justa com secretário
Denúncia de injúria e ameaça, atribuída à ex-presidente do Conselho Municipal de Saúde de Marília (Comus), Tereza Machado, causou mudanças no comando do colegiado. Ela deixou a presidência em meio a uma investigação da Polícia Civil, por supostas ofensas ao secretário Cássio Luiz Pinto Júnior.
Na reunião em que comunicou sua renúncia, Tereza, que é servidora estadual aposentada, alegou motivos de saúde. O cargo foi imediatamente assumido pelo também aposentado Darci Bueno.
O Marília Notícia apurou, entretanto, que a saída da líder comunitária foi consequência de uma representação feita pelo secretário e de um inquérito instaurado pela Polícia Civil, após vazamento de um áudio, no qual Tereza usa expressões pejorativas, menciona grupos políticos e faz ameaças ao secretário.
Vale lembrar que o órgão deliberativo, com representantes em vários segmentos da cidade – Poder Público e Sociedade Civil Organizada, tem entre as suas atribuições a competência para a aprovação das contas da Secretaria Municipal da Saúde.
Por isso, as supostas falas da presidente geraram insegurança e temor de “contaminação política” dentro do Comus, que, por regimento, não poderia estabelecer relação de aliança e nem de oposição ao governo, mas de fiscalização, debate para elaboração de políticas públicas e controle social.
O MN teve acesso, com exclusividade, ao inquérito. No áudio atribuído à Tereza, a ex-presidente diz que as ações da secretaria estão gerando desgaste e vão “tirar votos” do prefeito Daniel Alonso (PSDB).
“Ainda dá tempo para ele (Daniel) consertar. Ele tá achando que o Cássio é bam-bam-bam, o Cássio é garoto propaganda, não entende nada. É um molequinho”, diz o áudio.
Na mesma gravação, ela prossegue. “Ele poderia ter dado um cargo importante para você (interlocutora) dentro da secretaria, você é (menciona profissão), você entende de saúde pública”, afirma.
A ex-presidente do Comus, no diálogo, diz ainda que o secretário corre risco de ser agredido, se aparecer no posto de saúde do bairro onde mora.
“Ele (Cássio) falou que ia visitar de surpresa. Só que no São Miguel já (sic) tá sabendo que ele vai visitar e o pessoal fala assim: que vontade de pegar uma coisa de álcool e jogar fogo nele (…) eu poderia fazer isso, fala ó, amanhã ‘cês’ (sic) vão dar plantão na porta. Não vou fazer isso em respeito ao Daniel”, cita ainda trecho da transcrição.
OS CITADOS
O MN procurou o secretário da Saúde. Cássio afirmou que decidiu fazer a representação logo que tomou conhecimento do áudio, por acreditar haver crimes de injúria e ameaça.
“O nosso jurídico (da Saúde) achou por bem a fazer a representação porque se tratava da presidente do Comus. Ela pode achar o que ela bem entender, porém, como presidente do Conselho, ela tem que ser imparcial e não pode ficar fazendo esse tipo de consideração que, a meu ver, é imprópria ao cargo e até injuriosa”, diz.
O secretário afirmou ainda que já foi ouvido na fase policial que o caso já foi para o Ministério Público, por haver indícios de crimes.
As consequências e os motivos da mudança ainda não foram discutidos, ao menos em reuniões abertas, pelo Conselho.
Ao Marília Notícia, Darci Bueno – agora presidente – não comentou a denúncia e limitou-se a dizer que o Comus “seguiu o regimento interno e substituiu o cargo vago [após a renúncia]”.
Questionado sobre a tomada de alguma providência ou apuração interna, não antecipou. “O Conselho é um órgão colegiado, que avalia e decide as ações através de reuniões, nem o presidente tem a atribuição de decisão monocrática”, se limitou.
Tereza Machado foi procurada pela reportagem do MN, e afirmou que não houve nada disso. “A minha fala foi o que terceiros trouxeram para mim. Jamais foi eu falando, foi eu narrando, e houve mal entendido. Aguardo a audiência.”