Gigantes da tecnologia continuam com receita turbinada
Na Grande Recessão, há mais de uma década, os gigantes da tecnologia passaram por uma fase difícil como todas as demais empresas. Agora eles se tornaram vencedores incontestáveis da economia durante a pandemia.
A receita anual combinada de Amazon, Apple, Alphabet, Microsoft e Facebook é de cerca de US$ 1,2 trilhão, de acordo com os ganhos informados no fim de abril, mais de 25% acima do valor no momento em que a pandemia começou a causar impacto em 2020. Em menos de uma semana, esses cinco gigantes faturam mais em vendas do que o McDonald’s em um ano.
A economia dos Estados Unidos está se recuperando em relação a 2020, quando encolheu pela primeira vez desde a última crise financeira. Mas para os gigantes da tecnologia, o impacto da pandemia passou quase despercebido. É um momento fantástico para ser um titã da tecnologia dos EUA – contanto que você ignore os políticos gritando, as manchetes diárias sobre matar a liberdade de expressão ou evitar impostos, as reclamações de concorrentes e trabalhadores e as inúmeras investigações legais e ações judiciais.
As superpotências da tecnologia dos EUA não estão ganhando dólares loucamente apesar do letal novo coronavírus e seus efeitos em cascata na economia global. Elas ficaram ainda mais fortes por causa da pandemia. É lógico e ligeiramente maluco.
O enorme sucesso do ano passado também levanta questões desconfortáveis para os chefes das empresas de tecnologia, o público e as autoridades eleitas já irritadas com a indústria: O que é bom para os gigantes da tecnologia é bom para os EUA? Ou as estrelas da tecnologia estão ganhando enquanto o resto de nós está perdendo?
Os americanos têm mais dinheiro no bolso graças aos cheques de auxílio do governo e ao que economizaram durante a pandemia, e os gigantes da tecnologia estão recebendo uma parcela significativa disso tudo. Sua receita combinada é equivalente a cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA.
Os enormes lucros dos gigantes da tecnologia durante a pandemia têm uma causa compreensível: precisávamos de seus serviços.
As pessoas se voltaram para os aplicativos do Facebook para se manterem em contato e se divertir; e as empresas queriam pagar ao Facebook e ao Google, propriedade da Alphabet, para ajudá-las a encontrar clientes que estavam presos em casa. Parecia uma melhor escolha comprar fraldas e espreguiçadeiras na Amazon do que arriscar a saúde comprando nas lojas físicas. As empresas se abasteceram de softwares da Microsoft à medida que seus negócios e funcionários passaram para o mundo virtual. Os laptops e iPads da Apple se tornaram a salvação para funcionários de escritório e crianças em idade escolar.
Antes da pandemia, as superpotências de tecnologia dos EUA já eram influentes na forma como nos comunicamos, trabalhamos, nos divertimos e compramos. Agora elas são praticamente imprescindíveis. Os investidores adquiriram ações dos gigantes da tecnologia em uma aposta de que essas empresas são quase invencíveis.
“Elas já estavam crescendo e assim estiveram por quase uma década, e a pandemia foi única”, disse Thomas Philippon, professor de finanças da Universidade de Nova York. “Para elas foi uma tempestade perfeita e positiva.”
Os tempos não eram tão bons para essas empresas na última crise econômica. Na recessão de 2007 a 2009, as vendas da Microsoft caíram ligeiramente e o preço das ações caiu 60% desde a queda de 2008 até março de 2009, um momento infeliz para as ações dos EUA. O Google e a Amazon perderam, cada um, até dois terços de seu valor de mercado.
Um sinal de como desta vez a situação é diferente: a receita da Amazon está crescendo muito mais rápido em 2021 do que em 2009, quando a empresa tinha um quinze avos do tamanho atual. As vendas no primeiro trimestre aumentaram 44% em relação ao ano anterior, e os lucros da Amazon antes dos impostos – que nunca foram exatamente robustos – mais do que dobraram para US$ 8,9 bilhões. As empresas estão viciadas nos serviços de computação em nuvem da Amazon, onde as vendas aumentaram 32%, e os consumidores não podem viver sem a entrega da Amazon. Os investidores também amam a Amazon. O valor no mercado de ações da empresa quase dobrou desde o início de 2020 para US $ 1,8 trilhão.
Para os outros gigantes da tecnologia, é como se a breve queda livre na pandemia nunca tivesse acontecido. As vendas de publicidade normalmente aumentam e diminuem com a economia. Mas, à medida que outros tipos de gastos com publicidade diminuíram quando a economia dos EUA se contraiu no ano passado, as vendas de anúncios do Google e do Facebook aumentaram. O crescimento foi ainda melhor para eles nos primeiros três meses deste ano.
Um ano atrás, analistas temiam que a Apple fosse afetada quando a pandemia tomou conta da China, que é o centro das operações de manufatura da empresa e seu mercado consumidor mais importante.
Os temores não duraram muito. Nos primeiros três meses de 2021, a receita da Apple com a venda de iPhones aumentou no ritmo mais rápido desde 2012. As vendas na China continental, Taiwan e Hong Kong quase dobraram em relação ao ano anterior.
As estrelas da tecnologia também capitalizaram neste momento. A Alphabet e o Facebook têm usado a pandemia para poupar em setores que não estão dando tanto retorno, como custos promocionais e orçamentos de viagens e entretenimento. E os gigantes da tecnologia geralmente têm aumentado os gastos em áreas que ampliam suas vantagens.
A Alphabet agora está gastando mais em projetos de alto valor, como a construção de complexos de computadores, do que a Exxon Mobil gasta para extrair petróleo e gás do solo. O número de funcionários da Amazon aumentou em mais de 470.000 pessoas desde o final de 2019. Isso aprofunda o fosso que separa as estrelas da tecnologia das demais empresas.
Os gigantes da tecnologia estão emergindo da pandemia fortes, determinados e prontos para uma economia dos EUA que deve voltar à vida em 2021. Enquanto isso, ainda há longas filas nos pontos de doação de alimentos. Alguns trabalhadores americanos que perderam seus empregos no ano passado podem nunca mais recuperá-los. Os defensores da habitação estão preocupados que milhões de pessoas sejam despejadas de suas casas. E ser um gigante da tecnologia é um convite para que todos te odeiem – mas você tem enormes pilhas de dinheiro.