No Dia das Mães, filhos homenageiam as que enfrentaram a Covid
O Dia das Mães, em meio à pandemia, será de alívio para muitos filhos, que poderão, mesmo de forma restrita, comemorar a data. Dona Elizete Rita Amorim, de 69 anos, viveu a angústia dos sintomas e o temor pela Covid-19. Mas, para a alegria dos filhos William, Emerson e Leonel, conseguiu derrotar a doença.
Celebrar a vida virou um privilégio, em meio à turbulência da maior crise sanitária da história.
O construtor William Ricardo Amorim, de 47 anos, conta que, dentre tantas perdas, com óbitos de pessoas jovens, com a infecção chegando cada vez mais perto dos próximos, o diagnóstico positivo para os pais foi a pior notícia.
“Com tantos casos, estrutura de saúde já lotada, quando soube que eles passariam por isso, veio o medo da perda. Pedi a Deus pela vida deles, mantive a fé, mas não dá para negar que esse pensamento [de perda] acabou vindo na minha mente”, afirma.
O pai, Edgar de Jesus, teve sintomas leves, mas dona Elizete foi levada ao Pronto Atendimento com dificuldade para respirar e precisou de suporte ventilatório. Ela teve outros sintomas severos que assustaram a família. Mas, para alívio de todos, a infecção retrocedeu em cerca de dez dias.
“Vai ser um Dia das Mães que vamos comemorar ainda mais. Temos que celebrar e agradecer cada dia. Somos muito próximos, unidos. Eles moram perto. Todo dia de manhã vou na casa deles, antes do serviço, tem café quente me esperando, coisas de mãe. Dedicou a vida a nós e minha gratidão é eterna”, destaca Amorim.
MAMÃE ILESA
Aos 90 anos, dona Iracema Miranda da Silva recebeu às vésperas do Dia das Mães a segunda dose da vacina contra a Covid-19. Foram 90 dias de espera entre a primeira e a última aplicação.
A expectativa de Iracema e da família, é fazer – assim que as condições sanitárias permitirem – uma grande festa para comemorar as nove décadas de vida.
A psicóloga Simone Cotrim Moreira conta que a mãe viveu como uma “leoa” para proteger as filhas, mesmo quando ensinava, para ela e às irmãs Geórgia e Cinara, o valor da autonomia.
“Minha mãe sempre exerceu a função de cuidadora no lar. Ela quem servia, esbanjava amor, com autoridade, mas com muita ternura. Ela nos ensina pelo exemplo, pelo caráter”, conta Simone.
Com a chegada da pandemia, os cuidados na casa foram redobrados. A psicóloga e o marido – que moram com dona Iracema – decidiram formar um núcleo familiar expandido, com a irmã Geórgia, todos atentos aos cuidados para que o coronavírus não entrasse no lar.
“Em julho do ano passado meu marido teve sintomas. Levamos minha mãe para a Geórgia e eu fiquei em casa, cuidando dele. Somente ele testou positivo e se recuperou bem. Um tempo depois, o filho da cuidadora testou positivo, ela foi afastada. Passados alguns meses, minha irmã e o marido tiveram Covid. Em todas as situações, nos preocupamos ao máximo com a minha mãe. Ela nunca se contaminou”, relatou a psicóloga.
Hoje vacinada, dona Iracema convive com algumas dificuldades que não são estranhas para uma pessoa que já completou 90 anos, mas com o afeto, atenção e cuidado da família, segue ilesa na pandemia.
“O que ela mais sente falta são os passeios, o choppinho eventual que ela gosta de tomar com a gente, quando nos reuníamos com os amigos. Mas não tem problema. Essa pandemia vai ceder uma hora, e dona Iracema estará pronta para celebrar a vida, como sempre fez”, valoriza a filha.
‘MAMÃE SAUDADE’
Entre tantas histórias de superação e de mudanças no estilo vida, há também muitos casos em que, infelizmente, a vida cessou, ao menos como se conhece.
“Minha mãe era uma mulher de fé, generosa, muito querida. Sou católico e, dentro da nossa fé, acreditamos que ela está em um lugar melhor. O desejo dela era, caso adoecesse com gravidade, não ficar em uma cama, sofrendo. Ela foi recolhida por Deus. Isso nos conforta.”
O depoimento é do empresário Cléber Bedani, filho de Ângela Bedani, de 64 anos, tradicional comerciante do setor de produtos veterinários e agropecuários. Ela era também conhecida pelas obras sociais na cidade.
“Ela tinha muito medo pelos filhos (Cléber, Carlos Augusto e Carolina), todos com crianças pequenas. O maior medo dela era esse, perder um de nós. Todos estamos trabalhando, em atividade, tomando os cuidados, mas exercendo nosso trabalho”, disse o empresário.
Cléber e Ângela tiveram o diagnóstico em datas próximas. Aos 41 anos, ele também desenvolveu a forma grave da doença, foi intubado e teve internação prolongada. Somente depois da recuperação que soube que a mãe não havia resistido.
“Minha mãe ficou internada por cinco dias, mas teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e acabou não resistindo. Ela deixou um legado de generosidade, de afeto e amor à nossa família. As memórias que tenho é de uma mulher trabalhadora, que fazia de tudo por nós e cumpriu uma missão que nos orgulha e conforta”, conclui o empresário.