Mulheres vencem preconceitos no TI, mas ainda são minoria
O setor de Tecnologia da Informação (TI), que caminha a passos largos para ser o segmento de serviços que mais emprega em Marília, já descobriu que não pode ficar sem elas. As mulheres ganham cada vez mais espaço, inclusive em funções de liderança, um alento para meninas que gostam de tecnologia, computadores e dados, que até pouco tempo se viam como exceção.
Porta de entrada para as mulheres que buscam por independência financeira, o setor precisa promover a inclusão. Um levantamento do Censo da Educação mostra que a cada dez formandos em cursos superiores na área de tecnologia, apenas duas são mulheres.
Foi o caso da empresária e professora universitária Giulianna Marega Marques, diretora e fundadora de uma empresa de projetos de inovação tecnológica. Ela concluiu o curso de Ciências da Computação em 2005, destoando na foto oficial de formatura.
“O meu propósito de vida sempre foi proporcionar bem-estar usando a tecnologia, pensar e pesquisar, que é base do cientista para encontrar soluções, maneiras mais eficazes, ágeis, inteligentes de executar tarefas”, conta.
Mas como uma garota jovem, em um universo dominado pelos homens, poderia alcançar seu espaço? Ela tinha que enfrentar uma realidade que, estatisticamente, não favorecia as mulheres. Giulianna decidiu fazer isso com bom humor.
“Eu sou conhecida como ‘Giu’. Quantas vezes fui para uma reunião e percebi que o cliente estava esperando um Gilberto, um Gilmar, qualquer outro Gil, menos a Giulianna. Alguns até comentavam. Eu acabava levando na esportiva. Sentia que o fato de ser mulher tinha um peso, mas era até a pessoa conhecer o meu trabalho”, conta a empresária.
Com os resultados que a profissional entregou aos seus clientes ao longo da carreira, agora é com a inconfundível ‘Giu’ que a maioria quer falar. “Tenho até que descentralizar, porque não consigo atender todo mundo. Entendo que é uma questão de confiança, vamos quebrando as barreiras com postura, com trabalho”, garante.
Aos 37 anos, com mestrado na área, muitos alunos formados e clientes na carteira da empresa, Giulianna vê que a mulher, além de ser minoria, ainda encara alguns olhares de desconfiança.
Ela vê essa dificuldade tanto no setor de Tecnologia de Informação quanto de inovação. Por isso, meninas que gostam de tecnologia, de dados e informática são ainda mais desafiadas e precisam ter resiliência.
A professora alerta ainda para a evasão das mulheres nos cursos de tecnologia, ainda é maior que a de homens. Há de ser comemorado, porém, o fato de que – 20 anos depois – os alunos de Giulianna, na avaliação dela, são mais acolhedores que os colegas em sua época acadêmica.
“O mundo é outro, está mais inclusivo, o que não significa que está adequado. Mas acredito que, com competência e resistência, vamos vencer esse desafio”, projeta.
Nove anos antes Giulianna, outra pioneira, Hieda Galvão, também concluía sua formação em Marília. Era uma das poucas mulheres na turma de 1996 do curso de processamento de dados.
Ela tinha um duplo desafio: explicar às pessoas o que era internet e mostrar que uma mulher poderia muito bem lidar com equipamentos e linguagens baseadas na lógica.
“Era tudo muito novo. A gente tinha que mostrar que aquilo agregava benefícios para empresas e para pessoas, mas era difícil, porque pouca gente conhecia”, conta.
Por ser de família de empreendedores, logo se destacou pela autonomia. Com o irmão, fundou a primeira empresa de tecnologia de Marília na Encubadora, na época mantida pela instituição de ensino, em parceria com a Prefeitura.
“Sinceramente, acho que não cheguei a sofrer preconceito por ser mulher, pelo menos não de forma clara. O foco no trabalho é tanto que nem dei bola para isso. Se houve, passei por cima. Mas é evidente que o espaço ocupado pelas mulheres na área poderia ser maior”, analisa.
Trabalhando em TI em uma organização onde a tecnologia não é atividade fim, Erica Guimarães Aguiar, graduada em processamento de dados, atua em nível gerencial após ver o setor ganhar relevância na empresa.
“Foi com o tempo. O trabalho foi aumentando, a informatização foi entrando nos processos de trabalho, os sistemas foram chegando. No início, eu trabalhava sozinha, depois com mais um funcionário, mais tarde a equipe cresceu e hoje somos um setor”, diz a encarregada.
Erica trabalha na Santa Casa de Marília, uma instituição que não pode parar. A responsabilidade dela e da equipe é manter e aprimorar inúmeros serviços. Como resultado, aumenta a agilidade no atendimento, segurança do paciente e dos dados.
“Logo que me formei, passei a trabalhar para empresas de ônibus. Até hoje não sei ao certo como meu currículo chegou à Santa Casa. Mas o fato é que recebi uma ligação, fiz a entrevista e fui selecionada. Há 19 anos estou no hospital”, conta.
Erica acredita que, ao trabalhar em uma empresa onde a tecnologia não é atividade fim, o profissional deve conhecer bem todos os processos e fluxos, para desenvolver um bom trabalho.
Para meninas que gostam de tecnologia, de informática, mas olham para o lado e veem poucas como elas, a encarregada de tecnologia na Santa Casa recomenda: “São capazes. Façam o máximo, estudem e não se deixem intimidar”, aconselha.