A leitura, a poesia e a condução
Ultimamente mantenho à mão a edição, de 24 de março de 2021, da revista semanal ‘Veja’. Venho lendo e relendo algumas matérias especiais que foram publicadas neste exemplar, de número 2.730, por compreender que a publicação, através de um Jornalismo profissional – que envolve checagens e fontes fidedignas – praticou uma leitura assertiva do que vem ocorrendo com o Brasil nestes primeiros 100 dias de 2021. Confesso que ainda não li o artigo de Walcyr Carrasco, que assim como muitos conterrâneos meus, exerceu a poesia quando viveu com sua família em Marília (SP), dos 4 aos 16 anos de idade. A relação de Walcyr Carrasco com Marília é tão intensa e significativa, que, em 2011, o novelista ambientou a trama ‘Morde & Assopra’, transmitida pela rede Globo no horário das 19h.
Gosto de conferir a lista dos livros mais vendidos, sempre publicada nas últimas páginas da ‘Veja’. E, como ocorre quase sempre, o topo das obras de ficção mais vendidas é ocupado por livros de língua estrangeira. Na edição que me refiro, o livro “1984”, de George Orwell, é o campeão de vendas, seguido por “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri. O terceiro, enfim, é de um autor brasileiro: o genial Itamar Vieira Júnior, com o seu “Torto Arado”.
Recentemente, adquiri um exemplar deste novo fenômeno editorial brasileiro e comecei a ler. Estou gostando muito, Itamar Vieira Júnior está mostrando para que veio. Veio resgatar a linhagem de autores do autêntico Brasil de Dentro, assim como foram Osório Alves de Castro (que, assim como Walcyr Carrasco, morou em Marília), Jorge Amado, Guimarães Rosa, Romulo Nétto e Ricardo Guilherme Dicke.
Impressiona nesta lista que o mesmo Orwell ainda tem outros locais de destaque no Top 10 dos mais vendidos no Brasil: é o 5º com “A revolução dos bichos” e o 6º no box comercializado pela editora Pandorga, que, pelo que chequei, traz “1984” e “A revolução dos bichos” numa caixa promocional. A 7ª posição desta lista me trouxe uma brincadeira que faço com os meus primos Fernando e Débora, de Cândido Mota (SP). Débora, assim como eu, ama ler e tem uma biblioteca recheada de trhillers sequenciais e obras clássicas da Literatura Universal. A cada final de semana que passávamos na companhia deles, reservava um tempinho para ler “O morro dos ventos uivantes”, um clássico da literatura inglesa de Emily Brontë. Se não estiver errado, ando ali pelo capítulo 7, pois só leio quando estou na casa deles e, como a pandemia isolou todo mundo, nossas idas a Cândido Mota estão suspensas por enquanto. “O morro dos ventos uivantes” é o 7º mais vendido por estes dias e a trama é muito envolvente, revela um pouco do comportamento de quem vivia numa Inglaterra rural de passado secular. A leitura deste clássico anda suspensa por mim, pois prometi ler esta obra só quando estiver na casa dos meus primos e nos intervalos dos churrascos.
O 10º livro da lista da ‘Veja’ é um box com as histórias do detetive Sherlock Holmes, escritas por Arthur Conan Doyle. Holmes é obra de ficção, embora muita gente acredite que ele realmente tenha existido.
Nesta lista que elenquei, tirando o Itamar, que assim como Amado, Osório e Caetano Veloso, é baiano, e o Dante, que é italiano, os demais são autores da Inglaterra. A predileção de quem lê no Brasil por obras estrangeiras demostra que, quando o assunto é dar asas à imaginação, os leitores têm preferência a ambientes externos e tramas fora do contexto em que vivem. Buscam cenários internacionais, enredos de outros mundos. Interagem com o faz de conta de autores que nem pensam e nem falam o português. Ainda que Orwell, pelo que se sabe, tenha tido entre suas companheiras uma brasileira, o autor inglês não possui nada de nossa brasilidade. Desconfio que não era em português que eles trocavam juras de amor na época do affair.
O mundo vigiado e intolerante de “1984”, narrado por Orwell, assim como os animais da granja em que todos eram iguais, mas alguns eram mais iguais que os outros, em “A revolução dos bichos” foi primeiro concebido em inglês, para depois ganhar as edições em língua portuguesa. Neste arado tortuoso, vemos o conflito entre o Brasil letrado e o Brasil que não pensa.
Pois ler, na minha opinião, é pensar. Ficamos, ainda, à espera de um Virgílio, que na “A Divina Comédia”, guiou Dante para que saísse dos círculos do inferno e chegasse às portas do paraíso. A leitura é assim meio Virgílio: nos conduz à clareza e ao êxito. De tudo isso, reitero o seguinte: leiam. A leitura é e continuará sendo a melhor estratégia para vencer desafios. Antes de encerrar gostaria apenas de mencionar que os escritores Dante e Doyle, ainda que estrangeiros, me inspiraram em “O crime de batina”, narrativa que abre o meu livro “Contos de Japim”, publicado em 2010 pela editora Carlini & Caniato, com ajuda do mineiro Romulo Nétto.