‘Um paciente morre e a esposa usa o mesmo respirador’, diz médico
Com 100% dos 109 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ocupados em Marília, 76 somente pelo Sistema Único de Saúde, as unidades de pronto atendimento do município acumulam pacientes que esperam vagas em hospitais da região. Na tarde desta quarta-feira (23), UPA Norte e PA Sul já somavam 18 pessoas nessa situação.
Pela manhã, o Marília Notícia já havia mostrado a angústia de famílias que esperavam transferência de parentes com sintomas graves da doença. A cidade registrou mortes de pessoas que não conseguiram chegar à terapia intensiva.
Os números foram informados durante reunião do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus. O médico João Paulo Galletti Pilon relatou a situação dramática da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da zona Norte.
Mesmo sem a função de internação, a unidade de urgência administrada pela Unimar é obrigada pelas circunstâncias a manter assistência a pacientes que já deveriam estar hospitalizados há dias.
O médico relatou que está sendo praticada a “medicina de guerra”, quando os recursos não são compatíveis com a necessidade. Nesta quarta-feira (24) eram 12 pacientes esperando leitos de UTI, seis deles já intubados. Outros sete estavam à espera de leitos clínicos.
“A situação está tão triste que chegamos ao ponto de um paciente falecer e a esposa dele passar a usar o mesmo respirador, que antes estava em uso pelo marido”, revelou o médico. Pilon afirmou que a equipe de saúde está exausta e as vagas de internação são urgentes.
A médica Débora Kriguer, responsável técnica pelo Pronto Atendimento (PA) Sul, administrado pela Prefeitura, revelou que a unidade mantinha, nesta quarta, seis pessoas que já deveriam estar em UTI, quatro delas intubadas. Outras cinco esperavam leitos de enfermaria.
“É importante falar para as referências (hospitais) que nós não criamos leitos. Nós fizemos uma adequação, porque não tínhamos estrutura para ficar com paciente aguardando em enfermaria 24 horas. O nosso esforço é para que os hospitais que vão receber esses pacientes não os recebam em estado em que já não tem mais recuperação”, alertou a médica.
Débora falou ainda sobre a importância de transmitir às pessoas a realidade dos hospitais e unidades de saúde, porque ainda há pessoas que ainda não entendem o que está acontecendo. “Os familiares têm visto e têm nos apoiado. Não existe um ser humano no mundo que veja o que estamos fazendo e não consiga reconhecer” desabafou.
Conforme boletim divulgado pela Prefeitura de Marília, o município tinha, durante a tarde, 100% de ocupação em leitos de UTI tanto do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto da rede privada. A ocupação de leitos clínicos estava em 90%.
O Secretário Municipal da Saúde, Cássio Luiz Pinto Junior, pediu que pessoas com sintomas leves de Covid-19 ou mesmo outras doenças não procurem a UPA da zona Norte e nem o PA da zona Sul.
“Pedimos encarecidamente que busquem a unidade de saúde da atenção básica de referência. Temos as unidades que atendem apenas Covid e temos as demais, onde são atendidos os outros casos”, explicou.