Inflação no preço dos alimentos reduz consumo das famílias
A alta dos alimentos é sentida no bolso dos consumidores, que são obrigados a readequar hábitos de consumo, para suportar a despesa do supermercado. Se não dá para fugir do arroz e óleo de soja, itens recordistas no aumento, já tem muita gente reduzindo o consumo de carne e buscando alternativas.
A técnica de enfermagem Rosângela Sampaio, de 46 anos, relata que o consumo de carne era mais frequente, antes da pandemia. Agora ela tem recorrido aos legumes. “Antes tinha carne umas três vezes por semana, agora, é uma. Tudo está mais caro”, constata.
A mãe da profissional de saúde, aposentada Maria Consolação, de 69 anos, afirma que o aumento atingiu praticamente todos os produtos que precisa. Ela observou grande alta no óleo de soja e no arroz. “Não dá para ficar sem, mas a gente acaba comprando menos misturas, ou escolhe as mais baratas”, relata.
O caminhoneiro aposentado Eduardo Marques Neto, de 77 anos, estima ter reduzido o consumo de carnes em mais da metade. “Acho que a gente comprava uns sete quilos, agora, uns três. Foi o que mais subiu. Cortamos um pouco a despesa, só não dá pra cortar a ração do cachorro”, brinca o idoso.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fez um recorte no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao longo dos 12 meses de pandemia, para detectar os aumentos no grupo da cesta básica. O levantamento foi divulgado no último dia 10 de março.
O óleo de soja e o arroz, citados pela dona Maria, subiram respectivamente 87,89% e 69,80%. A batata, muito usada pelo brasileiro, em diversos pratos, está custando 47,84% a mais. O preço do leite longa vida, outro produto sob grande pressão, subiu 20,52%.
Entre os grupos de alimentos pesquisados pelo IBGE, as maiores altas ocorreram em cereais, leguminosas e oleaginosas (57,83%), óleos e gorduras (55,98%), tubérculos, raízes e legumes (31,62%), carnes (29,51%) e frutas (27,09%).
A funcionária pública Cleidineusa Francisca de Moura, 49 anos, trabalha como gari e teve que aumentar o comprometimento da renda para alimentação.
“Continuo comprando as mesmas coisas e quantidades, só que o preço praticamente dobrou. Se antes eu gastava R$ 350 numa compra agora gasto R$ 700”, relata.
Ela mora no Jardim Bandeirantes, em uma família com três pessoas. “Acrescentando açougue, por mês são pelo menos R$ 1,1 mil só para comer. Infelizmente, por causa destes aumentos. É muita coisa”, constata a servidora.
Jefferson Venâncio, de 48 anos, é motorista de aplicativo. Ele conta que também teve que readequar o consumo de alimentos, não apenas pelo aumento da comida, mas também dos combustíveis.
“A renda caiu por causa do aumento dos combustíveis. Essas altas tiraram todo o nosso lucro. Tudo subiu, mas as corridas não. Tive que cortar carne, iogurte, refringente, coisas que a gente comprava antes e agora não dá mais”, disse.
Estagnação nas vendas
Pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas) sobre o faturamento mensal real dos supermercados no estado de São Paulo (descontada a inflação), apontou uma queda de 0,2% na comparação de 2021 contra 2020. Os dados são de fevereiro.
Em maio do ano passado, quando o auxílio emergencial começou a ser pago, a vendas tiveram pico de aumento de 11%. Desde o início da pandemia as oscilações têm sido grandes.
O ano começou com números negativos. Janeiro, pelo fim do auxílio emergencial e fevereiro pela ausência de carnaval, quando churrascos e vendas de bebidas costumam puxar o desempenho.
Mesmo assim, a aposta da Apas para 2021 é que as vendas reais fechem 2021 com aumento de 1,45%. “As dúvidas sobre o auxílio emergencial e os rumos da economia seguraram o ímpeto do consumidor, que segue cauteloso”, explica Ronaldo dos Santos, presidente da entidade.