Livres da Covid-19, marilienses falam sobre sequelas e reabilitação
Os efeitos do coronavírus no organismo, após a fase aguda da infecção, ainda são objetos de vários estudos. Além da gravidade que a doença pode ter, muita gente ainda ignora suas sequelas, que podem envolver os sistemas nervoso e cardiorrespiratório, com impacto na atividade motora, na visão e na aptidão física.
A enfermeira Débora Polsinelli Ramos, de 29 anos, teve que lutar pela vida após um quadro grave de Covid-19. A profissional de saúde ficou 42 dias internada, sendo 40 deles em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Nesse período foram 15 dias entubada. Perdi 15 quilos de massa muscular. Tive um enfisema subcutâneo, fiquei muito inchada. Foi uma luta pela vida, nunca imaginei. Quando comecei a sair do leito, tive que reaprender a andar”, revela Débora.
Um mês depois de ter alta, ela foi submetida a uma tomografia, que constatou lesões no pulmão. “Como meus médicos disseram, ainda haviam ‘cicatrizes’, como se fossem estrias. E demora um tempo para recuperar”, explica a enfermeira.
Ela considera-se uma privilegiada por ter vencido a doença, mas como profissional de saúde e ex-paciente, alerta para as sequelas, que podem acometer as pessoas de diferentes formas, com duração ainda indeterminada.
“O paciente de Covid pode precisar de reabilitação. No meu caso tive que reaprender a andar, fiz sessões de fisioterapia em casa depois da alta médica. Eu me recuperei muito bem da questão respiratória. Não tive mais falta de ar. Hoje faço exercícios e estou muito bem”, conta.
A luta pela vida aconteceu entre agosto e setembro de 2020. Cinco meses depois, sem nenhuma sequela da Covid-19, ela acaba de receber uma notícia que vai mudar sua vida e de seu marido, o analista de próteses cirúrgicas, Ricardo Messias Ramos: eles serão pais pela primeira vez. Há uma semana, Débora descobriu a gravidez.
Luta continua
O caso do representante comercial Hely Braga, de 51 anos, é mais recente. Desde dezembro do ano passado ele enfrenta a Covid-19. São duas etapas que consegue distinguir com muita clareza.
“Tive aquelas duas semanas com o vírus ativo, quando o maior problema foi a respiração. Meu pulmão ficou 70% comprometido. Tem gente que acaba agravando com menos que isso e não resiste. Agradeço a Deus pela minha vida. Não cheguei a ser entubado, mas foi por muito pouco”, conta Hely.
A segunda fase da doença, explica, começou quando ele já estava livre do vírus. Quase dois meses após a fase aguda da infecção, o representante comercial ainda não se recuperou da Covid-19. A esposa, Daniele Braga, fisioterapeuta, tem sido determinante para a reabilitação.
“O vírus afetou a parte neurológica. Ainda tenho tremores. Outra situação foi a minha visão. O grau dos óculos aumentou. Houve um desajuste no sistema endócrino, que alterou minha transpiração, com ondas de calor, principalmente à noite. É algo que incomoda muito”, disse.
Hely conta que sente-se cansado com muita facilidade, uma situação absolutamente incompatível com o bom condicionamento físico que tinha. Ele estima sua capacidade física atual entre 30% e 40%, em relação ao período anterior à infecção.
O mariliense começou a fazer reabilitação, caminhadas moderadas, mas sabe que luta ainda não acabou. Ele destaca a importância das pessoas serem informadas sobre o que o vírus pode provocar, muito além dos 14 dias amplamente divulgados.
“É tudo muito novo, até para os profissionais. Não sabemos quanto tempo isso leva. Acho importante falar sobre isso. As pessoas precisam saber”, afirma.
Um milagre
A reabilitação para o servidor municipal Sandro Espadoto ainda é uma realidade após 40 dias da alta médica. Ele sente fortes dores nas pernas – que não tinha antes da Covid-19 – e perda de força muscular. As sessões de fisioterapia não podem ser interrompidas.
“Minha recuperação foi um milagre. Eu tinha diabetes, pressão alta e tive uma cirurgia cardíaca há poucos anos, depois de um infarto. Foi por Deus. Eu atribuo minha cura à intervenção de Deus, que usou as pessoas certas para cuidar da minha saúde”, afirma.
Espadoto ficou 19 dias internado, a maior parte do tempo em terapia intensiva, entubado. A ventilação mecânica atingiu 100% e ele chegou a ser desenganado pelos médicos. “Eu sou um sobrevivente, com a graça de Deus. Eu tinha tudo para não voltar”, acredita Sandro.
A reabilitação depois do coronavírus pode envolver uma série de profissionais, de acordo com o caso. Os fisioterapeutas são os que mais têm trabalho, mas neurologistas, oftalmologistas e endocrinologistas estão recebendo pacientes pós-Covid com frequência.
Em todos os casos é fundamental aderir ao tratamento e seguir as orientações médicas após a alta hospitalar. Enquanto isso, as pesquisas para tentar descobrir algum padrão, nas sequelas de Covid-19, prosseguem.