Nova geração de videogames terá concorrência inédita
A cada seis ou sete anos, desde a década de 1980, a indústria dos videogames traz ao mundo novos consoles, prometendo gráficos de última geração e uma miríade de possibilidades de entretenimento em frente à TV. Em novembro de 2020, o mercado viverá mais um capítulo da chamada “guerra dos consoles”, com o lançamento das novas versões do PlayStation, da Sony, e do Xbox, da Microsoft. Mas, ao contrário de outras temporadas, os dispositivos terão de enfrentar uma concorrência inédita para chamar a atenção dos consumidores.
Em 2013, quando PlayStation 4 e Xbox One foram lançados, o mundo era outro: para jogar games em alto nível, era preciso ter um console ou então um PC potente. Hoje, o cenário é diferente: a evolução dos smartphones tornou-os máquinas de jogo bastante capazes. Sucessos recentes do setor, como Fortnite e Free Fire, devem aos celulares parte de seu prestígio, enquanto a Apple, marca símbolo da categoria, é dona de um serviço de assinatura só de games para os iPhones.
Além disso, a maior parte dos jogos era vendido em caixinhas físicas – e a ideia do streaming, que começava a funcionar no mercado de cinema, ainda era uma promessa de ficção científica nos games. Empresas como Amazon, Microsoft e Google, que disputam o mercado de computação em nuvem, já oferecem com serviços que permitem ao jogador, a partir de dispositivos como tablets, celulares ou TVs, desfrutar de uma biblioteca de jogos sem precisar baixá-los previamente. É como assistir a um filme na Netflix, só que com o controle na mão. Por enquanto, nenhuma das plataformas (Luna, xCloud e Stadia, respectivamente) está disponível no Brasil, mas nos EUA suas assinaturas giram entre os US$ 5 e os US$ 10.
Para piorar, as empresas não contavam que os lançamentos planejados há anos aconteceriam em meio a uma das maiores crises da economia global, o que faz muitos consumidores repensarem suas prioridades. “Com dúvidas sobre desemprego e uma competição entre os próprios eletrônicos, que precisam ser trocados a cada par de anos, nem todo jogador vai achar que o preço dos videogames compensa, ao menos nesse primeiro momento”, afirma André Pase, professor da PUC-RS.
Experiência especial é a aposta das empresas
Para Mikako Kitagawa, analista da consultoria Gartner, é preciso ter em mente, porém, que cada jogador tem um comportamento diferente. “Existe um grande número de pessoas que jogam no celular, mas comprar consoles é algo que ainda faz sentido hoje, porque há jogos que só podem ser aproveitados neles”, afirma. É justamente esse tipo de raciocínio que Sony e Microsoft pretendem utilizar para convencer os consumidores a pôr a mão na carteira. Mas, além de gráficos e controles novos, as duas empresas apostam em estratégias diferentes.
Vencedora da última geração com mais de 112 milhões de PlayStation 4 vendidos, a Sony investe pesado na força de títulos conhecidos para atrair o coração do jogador para o PlayStation 5. No dia do lançamento do console – no dia 12 de novembro nos EUA, 19 de novembro no Brasil –, será possível desfrutar novos games de franquias como Homem-Aranha ou Demon’s Souls, enquanto franquias como God of War, Horizon Zero Dawn, Final Fantasy e Gran Turismo já foram anunciados.
O aparelho chegará ao mercado em duas versões: a mais cara custará R$ 5 mil no Brasil, com leitor de mídia física; já a mais simples sairá por R$ 4,5 mil e não tem o leitor, fazendo o jogador depender apenas de compras digitais. A rival Microsoft, por sua vez, também terá duas versões, mas com distância maior nos preços e maior disparidade: o Xbox Series S, sem leitor de mídia física e com 512 GB de armazenamento, custará R$ 3 mil; já o irmão mais velho Xbox Series X terá o leitor e o dobro de espaço para jogos e arquivos.
A empresa de Bill Gates, no entanto, aposta menos em títulos específicos e mais na força de serviços para emplacar os aparelhos: entre eles, está a biblioteca de jogos Xbox Game Pass, que dá acesso a mais de 100 títulos diferentes, incluindo lançamentos da própria Microsoft, como Gears of War, Halo e Forza, por R$ 30 ao mês. “Com um serviço, a Microsoft permite que o jogador se divirta gastando pouco, sem precisar desembolsar centenas de reais num único jogo”, diz Pase, da PUC-RS. Combinada ao Series S, a tática supostamente permite que os jogadores do Xbox tenham acesso aos games novos pagando menos do que quem estiver com a Sony. A japonesa, por sua vez, também anunciou um serviço parecido para o PlayStation 5, mas por enquanto, ele contém apenas jogos antigos.
Na última semana, a estratégia ganhou ainda mais peso com a aquisição da Bethesda pela Microsoft por US$ 7,5 bilhões – com o negócio, a dona do Xbox colocou dentro de casa marcas como Doom, Quake e Fallout. “É uma movimentação que dobra a aposta no Game Pass, bem esperta, logo antes do lançamento do novo console”, afirma o analista Dan Ives, da Wedbush Securities. No futuro, o Game Pass vai ganhar a adição do xCloud, somando pontos na estratégia. É difícil dizer, porém, se as jogadas serão suficientes para roubar a atenção dos fãs do PlayStation e inverter a atual lógica do mercado. O fim de ano, porém, é logo ali.
Nintendo é a ‘terceira via’ para os fãs de jogos
Aqui no Brasil, os dois aparelhos terão de disputar espaço também com um rival que já é bastante conhecido lá fora, mas aqui tem sabor de novidade: o Nintendo Switch. Misto de console de mesa e portátil lançado pela tradicional marca japonesa em 2017, o aparelho começou a ser vendido no Brasil no último dia 18, por R$ 3 mil – lá fora, custa US$ 299. Antes da chegada oficial, o Switch era encontrado no mercado cinza, por preços que variavam até R$ 5 mil, mas ainda assim atraíam os fãs de personagens como Mario, Zelda e Donkey Kong.
É mais neles e na versatilidade do aparelho, que pode ser jogado em qualquer lugar, e menos no poder dos gráficos, que a Nintendo aposta para se diferenciar. Em entrevista recente, Bill van Zyl, diretor da japonesa na América Latina, diz que não teme a concorrência de Sony e Microsoft. “O Switch e o que a Nintendo faz são únicos, com um videogame que pode ser portátil ou jogado em casa e personagens que só nós temos, como Mario, Zelda e Pokémon” disse ele ao Estadão.